16.9.08

Correspondência em dia

Cápsulas de Chumbo. O Ronaldo pergunta onde pode comprar cápsulas de chumbo para garrafas. Não sei. Para vinhos, elas foram abolidas em praticamente todo o mundo a partir dos anos 90. Lembro de uma coluna que publiquei aqui (“Beethoven por um fio”), em 2005, sobre documentário da TV inglesa relatando a trajetória de um chumaço de cabelo Ludwig van Beethoven, recolhido assim que o compositor morreu, em 1827. Analisada, essa porção revelou uma concentração extraordinária de chumbo, 100 vezes acima do nível seguro, o que explicaria a série de mazelas do autor (doenças estomacais, irritabilidade, surdez etc.), que o teriam levado à morte. O documentário sugeria que o compositor tivesse se intoxicado com o chumbo de águas de estações hidrominerais que freqüentou quando jovem. Mas um jornalista irlandês lembrou que ele poderia ter se envenenado através do vinho e da cerveja. É que no século 19 o chumbo era usado para adulterar essas bebidas de modo a melhorar seus sabores e aparência. O metal já era empregado pelos antigos romanos para que o vinho não avinagrasse. Nos tempos de Beethoven, bebia-se principalmente em canecas feitas de uma liga de estanho e chumbo e as garrafas eram limpas com jatos de chumbo; reservatórios e encanamentos de água continham chumbo. Por essas e outras é que as casulas de chumbo, que protegiam as rolhas, acabaram banidas. Elas podem contaminar o vinho e envenenar seus consumidores. Além disso, não são recicláveis e também contaminam os solos. Em boa hora, foram substituídas por plástico (polietileno ou PVC), alumínio e até mesmo papelão.
Ainda o absinto. O João Luiz, a respeito da última coluna (“Chernobyl e os vinhos”), diz que a bebida era servida colocando-se na boca do copo “uma peneirinha na qual se colocava uma pedra - cristal – de absinto. Despejava-se água em cima dela, dissolvendo-a para dentro do copo”. Mas o que ele quer saber mesmo “é onde o alcool entra”.
Bom, o absinto é uma bebida alcoólica, feita a partir de álcool etílico de origem agrícola ou de um destilado de origem agrícola, geralmente feito a partir de uvas. Esse álcool é aromatizado através da maceração com várias plantas. A mistura final é em seguida destilada e filtrada. Na etapa final, faz-se uma colorização, para ajustar o sabor e a apresentação da bebida, com o famoso tom esverdeado.
As ervas que entram na maceração (com o álcool etílico) são: artemisia absinthium, artemisia pontica, anis, funcho, melissa (ou erva-cidreira verdadeira ou citronela) e hissopo. Na colorização entram o pequeno absinto, o hissopo e a melissa.
Quanto ao serviço: colocava-se em cima da taça uma colher perfurada (poderia até parecer uma “peneirinha”), e sobre ela um tablete ou cubo de açúcar. Por cima deste, fazia-se jorrar, vagarosamente, água, até que o açúcar se dissolvesse na taça.
Por fim, o João Luiz insinua que os lendários pintores da Belle Époque, Toulouse-Lautrec e Amadeo Modigliani teriam morrido em função do absinto. Pelo que sei, Lautrec, de saúde já frágil, morreu em razão da sífilis e do alcoolismo. Era alcoólico desde jovem e assíduo freqüentador de bordéis. Criou um drinque famoso, o “Tremblement de Terre” ou “Terremoto”: três doses de absinto e três doses de conhaque. É de derrubar o Hulk!
A saúde de Modigliani também era frágil: sofria de tifo desde a infância e morreu tuberculoso, um fim apressado pelo alcoolismo e o haxixe. Acho que devemos culpar os excessos. O absinto fica como bode expiatório.
Qual o crítico mais influente? O Guilherme avisa que “não adianta eu ficar puxando a brasa para a Jancis Robinson, pois o crítico mais influente continua sendo o Robert Parker”.
Bom, acho que, em se tratando de Parker, sua influência é medida mais por quantidades. Sendo assim, atualmente o crítico mais influente é o Shizuku Kanzaki, um sommelier japonês, personagem da série de quadrinhos e desenhos animados, a Kami no Shizuku (“Gotinhas dos Deuses”). As indicações do sommelier de duas dimensões são capazes de esvaziar as lojas de vinhos japonesas e coreanas em poucas horas ou de fazer preços dispararem por um mero comentário a respeito de um ou outro rótulo. A newsletter de Robert Parker tem 50 mil assinantes. As aventuras (e dicas) de Shizuku são lidas por pelo menos meio milhão de japoneses todas as semanas.
Com a Jancis Robinson eu aprendo a conhecer mais sobre a bebida e a ser humildade e paciente pelo muito que ainda falta saber.

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