Chernobyl está presente nos vinhos há centenas de anos, muito antes de ter seu nome vinculado ao maior desastre nuclear da história, ocorrido em 1986 na Ucrânia, então parte da URSS.
A catástrofe resultou em nuvens radioativas sobre várias partes da Europa, causando pânico. Na Suécia, por exemplo, a incerteza das conseqüências dessa terrível ameaça invisível continuam a assombrar a população, que evita consumir alimentos produzidos no rastro da precipitação. E isso incluiu os vinhos importados de algumas regiões da França sob a nuvem fatal, o que abriu caminho para vinhos dos EUA, em particular os de Washington, feitos ao estilo de Bordeaux.
Porém, a precipitação de Chernobyl está ajudando físicos da Universidade de Bordeaux a desenvolver um método de datar os vinhos pelos níveis de sua irradiação. Os cientistas estão medindo a radioatividade gerada pelos testes nucleares na atmosfera feitos em 1950 e 1963 e, agora, pelo desastre na Ucrânia. Com isso poderão determinar as safras dos vinhos e combater fraudes, protegendo principalmente colecionadores e investidores: investem pesado em rótulos de safras antigas, quando muitas vezes os vinhos nas garrafas são do ano passado. E isso poderá ser feito sem que se abram as garrafas.
Chernobyl, como substantivo, acompanha os vinhos desde os tempos em que os vinhos eram aromatizados com ervas, especiarias, resinas, açúcar ou mel. Afinal, era bem melhor assim do que beber vinagre. Nossos ancestrais da Idade Média flavorizavam o vinho rotineiramente: a bebida final era chamada de Hippocras (já que as ervas, especiarias etc. eram torcidas e coadas numa bolsa chamada “manicum hipocraticum” ou “manga - de camisa, vestido - de Hipócrates” (o grego considerado o pai da medicina).
Uma das ervas largamente utilizadas era a “artemisia absinthum”, que os alemães chamavam de “wermut” e que foi anglicizada para “wormwood”, planta de grandes qualidades medicinais, ótimo tônico para o estômago. A palavra “wermut” foi aproveitada por Antonio Benedetto Carpano, de Turim, Itália, quando criou em 1786 um vinho fortificado e flavorizado com ervas e especiarias (entre elas o “absinthium”), que chamou de Vermouth, nome tomado do alemão “wermut”, tradução de absinto, como vimos.
Acontece que uma possível versão de absinto para o russo é chernobyl. E por isso o desastre nuclear dessa usina é ocasionalmente ligado a um verso do Apocalipse (8:10,11), no Novo Testamento, quando o anjo joga uma estrela em chamas sobre rios e fontes de águas, fazendo-as amargas e letais: “e o nome da estrela é absinto” (“apsinthos” no original grego).
Parece que a bebida começou como uma panacéia criada por volta de 1792 por um médico francês, Pierre Ordinaire, que vivia na Suíça. Nos dois séculos subseqüentes, chegou a ser a bebida mais popular da França, o símbolo da Belle Epoque. Em 1910, os franceses beberam 36 milhões de litros de absinto, que ganhou as graças de artistas e escritores e era utilizada para estimular a criatividade. Mas logo foi ligada a crimes hediondos, ganhou a imagem de droga altamente tóxica, alucinógena, fatal, que fez vítimas famosas, como Oscar Wilde, Verlaine, Rimbaud, Villiers de l'Isle Adam, Alfred Jarry, entre outros.
Nada disso foi cientificamente provado. O caso é que o absinto, naquela época, tinha um grande conteúdo alcoólico (às vezes, mais de 60%) e um dos componentes químicos da planta, a tóxica tujona, era utilizada em altas doses (entre 50 e 100 mil partes por milhão), o que podia resultar em danos neurológicos. Na verdade, a bebida serviu de bode expiatório para o alcoolismo vigente e acabou banida em quase toda a Europa menos em Portugal, Espanha e Inglaterra, países que a partir de 1990 lideraram a sua recuperação em todo o mundo (claro que com menos álcool e quase nada de tujona).
Mesmo com a praga de um anjo apocalíptico, um desastre nuclear e fama de destruidor nas costas, o absinto voltou, ainda sem o sucesso do passado, mas já deixou filhotes deliciosos, pelo caminho, através dos pastis, ouzo, arak e raki, com o anis em lugar da artemísia.
A catástrofe resultou em nuvens radioativas sobre várias partes da Europa, causando pânico. Na Suécia, por exemplo, a incerteza das conseqüências dessa terrível ameaça invisível continuam a assombrar a população, que evita consumir alimentos produzidos no rastro da precipitação. E isso incluiu os vinhos importados de algumas regiões da França sob a nuvem fatal, o que abriu caminho para vinhos dos EUA, em particular os de Washington, feitos ao estilo de Bordeaux.
Porém, a precipitação de Chernobyl está ajudando físicos da Universidade de Bordeaux a desenvolver um método de datar os vinhos pelos níveis de sua irradiação. Os cientistas estão medindo a radioatividade gerada pelos testes nucleares na atmosfera feitos em 1950 e 1963 e, agora, pelo desastre na Ucrânia. Com isso poderão determinar as safras dos vinhos e combater fraudes, protegendo principalmente colecionadores e investidores: investem pesado em rótulos de safras antigas, quando muitas vezes os vinhos nas garrafas são do ano passado. E isso poderá ser feito sem que se abram as garrafas.
Chernobyl, como substantivo, acompanha os vinhos desde os tempos em que os vinhos eram aromatizados com ervas, especiarias, resinas, açúcar ou mel. Afinal, era bem melhor assim do que beber vinagre. Nossos ancestrais da Idade Média flavorizavam o vinho rotineiramente: a bebida final era chamada de Hippocras (já que as ervas, especiarias etc. eram torcidas e coadas numa bolsa chamada “manicum hipocraticum” ou “manga - de camisa, vestido - de Hipócrates” (o grego considerado o pai da medicina).
Uma das ervas largamente utilizadas era a “artemisia absinthum”, que os alemães chamavam de “wermut” e que foi anglicizada para “wormwood”, planta de grandes qualidades medicinais, ótimo tônico para o estômago. A palavra “wermut” foi aproveitada por Antonio Benedetto Carpano, de Turim, Itália, quando criou em 1786 um vinho fortificado e flavorizado com ervas e especiarias (entre elas o “absinthium”), que chamou de Vermouth, nome tomado do alemão “wermut”, tradução de absinto, como vimos.
Acontece que uma possível versão de absinto para o russo é chernobyl. E por isso o desastre nuclear dessa usina é ocasionalmente ligado a um verso do Apocalipse (8:10,11), no Novo Testamento, quando o anjo joga uma estrela em chamas sobre rios e fontes de águas, fazendo-as amargas e letais: “e o nome da estrela é absinto” (“apsinthos” no original grego).
Parece que a bebida começou como uma panacéia criada por volta de 1792 por um médico francês, Pierre Ordinaire, que vivia na Suíça. Nos dois séculos subseqüentes, chegou a ser a bebida mais popular da França, o símbolo da Belle Epoque. Em 1910, os franceses beberam 36 milhões de litros de absinto, que ganhou as graças de artistas e escritores e era utilizada para estimular a criatividade. Mas logo foi ligada a crimes hediondos, ganhou a imagem de droga altamente tóxica, alucinógena, fatal, que fez vítimas famosas, como Oscar Wilde, Verlaine, Rimbaud, Villiers de l'Isle Adam, Alfred Jarry, entre outros.
Nada disso foi cientificamente provado. O caso é que o absinto, naquela época, tinha um grande conteúdo alcoólico (às vezes, mais de 60%) e um dos componentes químicos da planta, a tóxica tujona, era utilizada em altas doses (entre 50 e 100 mil partes por milhão), o que podia resultar em danos neurológicos. Na verdade, a bebida serviu de bode expiatório para o alcoolismo vigente e acabou banida em quase toda a Europa menos em Portugal, Espanha e Inglaterra, países que a partir de 1990 lideraram a sua recuperação em todo o mundo (claro que com menos álcool e quase nada de tujona).
Mesmo com a praga de um anjo apocalíptico, um desastre nuclear e fama de destruidor nas costas, o absinto voltou, ainda sem o sucesso do passado, mas já deixou filhotes deliciosos, pelo caminho, através dos pastis, ouzo, arak e raki, com o anis em lugar da artemísia.
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