11.9.08

Da vinha ao vinho

O vinho que tomamos vem de um vinhedo, você sabe. E vinhedo é uma criatura difícil, exigente. Para começar, todo vinhedo tem o seu DNA, a sua própria personalidade, mais conhecida no mundo dos vinhos como terroir, um termo francês, que não significa literalmente terreno, mas a combinação de fatores ambientais e físicos que afetam a vinha: sua localização, clima e tipo de solo. Juntos, vão realizar um intenso trabalho que no final determinará a quantidade e a qualidade das uvas. A complexidade de cada um desses fatores e a quantidade de combinações possíveis que oferecem faz com que nunca dois vinhedos, mesmo vizinhos, sejam exatamente iguais.
As uvas. São, claro, as estrelas da festa. A espécie de vinha utilizada para a produção de vinho é a Vitis Vinifera, cultivada há milhares de anos. A Vitis é uma trepadeira da família das vitáceas. Existem mais de mil variedades dessa família. As uvas apropriadas para vinhos, ao contrário das de mesa, que compramos nas feiras e supermercados, costumam ser menores, suas cascas são mais grossas e têm caroços. Elas gostam de sol, mas não muito; amam o calor, mais não muito; gostam de umidade, mas não muita; adoram um solo ruim e como; e amam as altitudes.
Clima. É importantíssimo, tem influência não apenas no sabor, mas no tempo de vida de um vinho. Mais de 90% da produção de uvas apropriadas para vinhos acontece numa faixa de terra entre 35 e 45º, tanto no hemisfério norte quanto no sul. Como regra geral, os vinhos produzidos no hemisfério norte, em climas mais frios, serão mais ácidos e conterão menos álcool. Já aqui embaixo acontece o oposto: menor acidez e maior volume alcoólico.
Solo. Pode ser de calcário, argila, granito, até mesmo de cinzas vulcânicas – o solo desempenha um enorme papel na saúde dos vinhos e, por extensão, no seu sabor final. Alguns drenam melhor a água; outros são naturalmente mais ricos em nutrientes e minerais. São essas variações que determinarão quanto mais de água as vinha necessitará, sua capacidade de guardar calor, sabor, textura e até mesmo como vão se defender de pestes e doenças.
Água. Como qualquer planta, as vinhas precisam de água. Só que não tanta, assim. Pois elas são naturalmente estressadas. Se muita a água, ficarão preguiçosas para produzir um fruto de boa qualidade.
A natureza. Ela é o fator imponderável, como todo agricultor sabe. Pode ser cruel ou magnânima. Uma mudança nas condições climáticas de um ano para outro significa que o vinho também será alterado. Apesar de todos os avanços tecnológicos, a indústria do vinho ainda está à mercê dos elementos.
Métodos. Além das importantes considerações relativas ao clima, solo e água, a plantação de uvas depende de uma variedade de práticas. Por exemplo, a distância entre cada vinha, como será feita a poda, como protegê-la de doenças.
Na viticultura convencional, a mais comum, o agricultor usa o que quer e pode, como fertilizantes químicos etc., para assegurar os melhores resultados possíveis. Mas pode optar pela agricultura orgânica, cada vez mais popular, inclusive entre consumidores. Os vinhos orgânicos são aqueles produzidos a partir de uvas que cresceram sem o uso de fertilizantes, herbicidas e fungicidas industriais e sem que recebessem aditivos sintéticos.
Ou pode trilhar a viticultura biodinâmica, cuja base é a orgânica, mas que acrescenta elementos da homeopatia, astronomia e astrologia. Aqui todo o vinhedo é tratado como um único organismo vivo que opera em linha com os ritmos lunares e cósmicos.
O agricultor começa a trabalhar já em abril, quando a planta entra em hibernação, perde as folhas e fica descansando. Então é feito o plantio e enxertos das plantas novas e a poda nas velhas. É um trabalho que vai até julho.
De agosto a dezembro, vemos as folhas brotarem e mais ou menos dez semanas depois a floração, que vão resultar em cachos de uvas. Quando esses cachos estão completamente formados, o agricultor já sabe que está a 100 dias do amadurecimento completo. Com 70 dias, acontece o Véraison, quando as uvas mudam de cor e entram na fase final de amadurecimento. Logo em seguida, temos a colheita, primeiro a das uvas brancas, mais precoces, e depois a das tintas. As mãos são naturalmente mais delicadas do que as máquinas, que nem sempre alcançam onde nós podemos chegar.
A vinícola. Bem, as uvas colhidas são levadas com todo o carinho para a adega da vinícola, onde elas serão convertidas em suco por um processo relativamente simples. E desse suco, elas vão evoluir para vinho. E aí o trabalho é outro, talvez mais difícil.
Como fazer vinhos brancos, tintos, rosados, espumantes, doces, secos, fortificados. Tudo isso fica para a próxima semana, pois não queremos cansar a leitora.
Da Adega
Uva chocante
. Há oito anos, o jornalista gaúcho Lasier Martins, da RBS-TV, cobrindo ao vivo a Festa da Uva em Caxias do Sul, RS, quis mostrar um belo cacho de uvas sobre uma vitrine – que estava eletrificada sem que o repórter soubesse. Levou um choque de 220 volts e caiu, desacordado. Agora, o filmete do acontecimento está em toda a parte. Veja
aqui:
Mapa do Tesouro. A Academia do Vinho acaba de lançar a segunda edição do livro “O Mapa do Tesouro”, um guia divertido para iniciantes do mundo dos vinhos: história, as uvas, a vinificação, tipos de vinho, harmonização com alimentos, armazenamento, serviço e as principais regiões. A primeira edição esgotou-se rapidamente. A segunda vem revista e ampliada. Vendas pelo site da
Academia.

Nenhum comentário: