2.10.09

A rolha verde

“Porque a sua rolha é maior do que a minha?”
“Porque sua rolha é mais
grossa do que a minha?”
“O que posso fazer com uma rolha usada?”
As respostas para essas perguntas até que poderiam ser bem maldosas, não? Mas elas vivem sendo perguntadas, até mesmo por empresários ligados ao ramo de rolhas.
As rolhas de cortiça, feitas a partir de cascas do sobreiro, uma árvore da família do carvalho, existem em vários comprimentos: mais ou menos de 25 a 60 milímetros. São medidas determinadas pelo potencial de amadurecimento do vinho. Se o produtor tem a expectativa de que seu vinho seja capaz de viver bem em garrafa por 10, 20 anos, digamos, ele vai preferir colocar uma rolha bem comprida. A teoria é a de que uma rolha permanecerá mais tempo intacta e, portanto, a vedação será mais segura, quanto mais longa for.
Minha guru, Jancis Robinson, lembra que alguns enólogos argumentam contra essas rolhas mais longas: elas deixam menor o espaço de oxigênio na garrafa (vai da base da rolha à superfície do vinho), prejudicando assim o processo de maturação (sim, pois ao contrário do que se pensa, um pouquinho de oxigênio é importante na maturação dos vinhos, em particular dos tintos).
No departamento de diâmetro, as rolhas variam muito pouco: a norma é que fique nos 24 mm, embora sejam conhecidas as de 21 e de 26 mm. Tudo dependerá do diâmetro interno do gargalo das garrafas.
É claro que estamos falando até agora de rolhas de cortiça, que continua sendo o material mais utilizado para tampar garrafas de vinho. Já falamos aqui sobre a grande reclamação dos produtores contra o programa do TCA (triclorosanisol), um misterioso elemento químico que ataca as rolhas e contamina os vinhos. Mas não devemos ficar muito apavoradas: as rolhas tradicionais continuam associadas a bons vinhos.
E o que fazer com as rolhas usadas? Bem, elas podem se transformar em várias coisas úteis. Só que a maioria delas acaba no lixo. E com isso deixa de dar emprego a muita gente e dar vida nova a muitos objetos.
O maior produtor de rolhas do mundo, Amorim, de Portugal, está lançando um programa de reciclagem de rolhas de cortiça muito interessante. Esse programa começou pelos Estados Unidos e pode ser que daqui a pouco chegue por aqui.
13 bilhões de rolhas de cortiça chegam ao mercado todos os anos, em todo o mundo. A maioria delas, depois de retiradas das garrafas, acaba no lixo. O ideal seria reutilizá-las. As rolhas são biodegradáveis, renováveis, sustentáveis, ideais para a reciclagem, além de serem 100%naturais.
Estamos falando, claro, apenas das rolhas de cortiça, pois as sintéticas, feitas de produtos derivados do petróleo, e as tampas metálicas, de alumínio, não são recicláveis e o seu destino é o lixo mesmo.
Essas rolhas de cortiça podem achar novas vidas como solas de sapato, assoalhos, isolamento térmico e acústico, juntas para isolamento, embalagens e até mesmo compostos para correção do solo. Isso sem contar com objetos de arte e decoração, como mostrados aqui pelo blogueiro Dr. Vino.
A leitora poderia pensar que a Amorim estaria se aproveitando de rolhas que são, na verdade de propriedade do consumidor, para reciclá-las, produzir novas sem gastar muito dinheiro.
Parece que não se trata disso. Afinal, a empresa terá que transportar milhares de rolhas para suas fábricas em Portugal. Além disso, tudo o que se quer é que as florestas de Sobreiros continuem a ser utilizadas de modo a manter o seu rico ecossistema.
Ao contrário de muitos produtos derivados de madeira, as rolhas de cortiças se originam da casca do sobreiro (Quercus suber), cultivada no sul da Europa, em particular na Península Ibérica, com Portugal como seu maior produtor. A extração da cortiça não é prejudicial ao sobreiro, pois este volta a produzir nova camada de casca a cada 9-10 anos, com idêntica espessura. O ciclo de vida de uma árvore dessas é de cerca de 200 anos.
As florestas de sobreiros formam um dos ecossistemas mais ricos em biodiversidade do continente europeu. E a verdade é que esse programa de reciclagem de rolhas de cortiça faz parte de um programa maior ligado ao movimento Condomínio Terra, que busca mesmo é conservar florestas essenciais como as de sobreiros.
Vamos só lembrar que a cortiça é feita de bilhões de células, que dão e elas elasticidade, capacidade de boiar. E, principalmente no presente caso, a habilidade de reter perto de nove gramas de dióxido de carbono – cada uma delas. Já pensou quanto desse gás 13 bilhões de rolhas de cortiça podem aprisionar, impedindo que ele danifique nossa atmosfera.
Enquanto não tivermos aqui um programa como esse, vá guardando suas rolhas de cortiça amiga. Transforme-as em painéis, luminárias, descansos para pratos etc. Sua casa ficará mais bonita, seus vizinhos agradecerão e o ar que respiramos mais limpo. Pense nisso quando abrir a sua próxima garrafa, dentro daquele secular ritual de retirar a rolha, com direito ao POP e a uma cheiradinha nas laterais da rolha (o que os sommeliers detestam). Saúde!
Da Adega
Um cheirinho de grappa
. Agora, vamos poder “temperar” alimentos quentes, verduras, sobremesas, drinques e até mesmo café com um cheirinho de grappa, o destilado de vinhos original da Itália. Só que esse vem daqui, da Casa Valduga e se apresenta numa embalagem spray. É o Grappa Gourmet Chardonnay, com um vaporizador para potencializar aromas e sabores. O álcool vai se volatizar, permanecendo apenas a fragrância da grappa. Veja mais no site da
Valduga.
Carta Brasil. O consultor de vinhos Duda Zagari, mais o distribuidor Rogério Goulart e o autor Rogério Dardeau (“Vinho, uma festa dos sentidos) apresentarão no dia 6 de outubro a Carta Brasil, uma seleção do que entendem ser os melhores rótulos de vinhos nacionais. O evento será na butique de vinhos
Confraria Carioca, às 19h30. Confira só.
Vinho beleza. Sim, amiga, vamos nos livrar dos caríssimos importados. Dia 7, na mesma Confraria Carioca e sempre às 7h30 da noite, serão apresentados os produtos de beleza à base de vinhos da
Vinotage.Localizada na Serra Gaúcha, RS, os produtos da Vinotage são criados a partir de estudos da mestre em biotecnologia farmacêutica Morgane Pasini Franzoni. Os produtos, à base de óleo de semente de uva, com grande ação antioxidante, incluem sabonetes líquidos para banhos, hidratante, creme para mãos e para rosto, sabonete esfoliante corporal, entre outros.

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