17.4.10

En primeur

Provar um vinho que ainda não foi engarrafado e antecipar suas qualidades quando for lançado no mercado quase dois anos depois. Isso em resumo é o que significa en primeur. Comerciantes, importadores, colecionadores, degustadores profissionais e, claro, críticos de vinho de várias partes do mundo estiveram mês passado em Bordeaux (nessa região principalmente) para avaliar os vinhos feitos imediatamente após a colheita do ano passado. É tudo muito excitante. Todas esperam pelas avaliações de críticos, como as de Robert Parker, que certamente vão influenciar os preços que os produtores fixarão para seus vinhos.
Em inglês, en primeur se traduz na maioria das vezes como futures, pois toda essa turma que visitou Bordeaux está envolvida na compra desses vinhos antes que cheguem ao mercado. É um processo similar ao da compra de algodão, café e outras mercadorias (tecnicamente chamadas de commodities). Compram por um preço na expectativa de que o mesmo seja mais baixo do que o que o vinho alcançará quando for oficialmente oferecido ao mercado. Se isso acontecer, poderão vender com lucro assegurado.
Falei que Bordeaux é o alvo principal de toda essa ação. Mas existem outros mercado importantes para o en primeur, como as regiões de Borgonha e do Vale do Rhône, na França, e do Porto, em Portugal.
Os vinicultores já tinham anunciando que a safra de 2009 foi espetacular. Mas isso eles fazem quase todos os anos. Puxar a brasa para a sua sardinha não é pecado. Contudo, a turma interessada acompanha tudo de muito perto: desde o plantio até a colheita. Houve sol o bastante, ventou quanto, e as chuvas? Alguma praga? Eles estão sabendo de tudo.
Enfim, mês passado cerca de seis mil profissionais visitaram a região para provar basicamente os grandes vinhos, os Cru de Bordeaux (a partir da classificação oficial de 1885). Cru designa qualidade, a natureza de um terreno. Um vinho du cru é um vinho da própria localidade onde foi plantado, colhido e produzido. Pois essa turma está atrás dos grandes crus.
A região vinícola de Bordeaux consiste de 57 appellations, áreas legalmente definidas como produtoras, que se espalham pelas margens direita e esquerda do rio Gironde. Para o noroeste, temos a península do Médoc, aquela que reúne famosas appellations como as de Pauillac, Margaux, St. Julien e St. Estèphe. No nordeste, encontramos St. Émilion e Pomerol. A margem esquerda é dominada pelos blends de Cabernet Sauvignon. Na direita, temos vinhos feitos predominantemente com a Merlot (o Petrus, por exemplo) e a Cabernet Franc. É muito chão, é muito vinho. E talvez seja muita adivinhação.
Tudo começou logo após a Segunda Guerra. A maioria dos châteaux era mal administrada, mal podia pagar suas contas. Naquela época, seu mercado comprador era limitado pela Inglaterra, Bélgica, Holanda, Luxemburgo, a Escandinávia pela própria França. Uma base de consumidores muito menor do que atual. Além disso, não existia ainda a mídia de vinho. Então, os principais comerciantes de vinho de Bordeaux negociaram com os principais châteaux comprar seus vinhos antes que fossem engarrafados. As compras eram feitas sur souche – ou seja: literalmente, “no tronco”, enquanto as uvas ainda estavam nos seus cachos. Era um jogo de pôquer (e continua sendo). Com isso, os negociantes podiam fixar os preços que quisessem, sem a interferência dos vinicultores. Esses não tinham como reclamar, pois estavam recebendo dinheiro adiantado, que começou a ser reinvestido nas suas propriedades.
A partir dos anos 70, o mercado para os vinhos de Bordeaux aumentou, até chegarmos aos tempos atuais, onde com os châteaux bem menos dependentes dos comerciantes.
Agora, não tenho dúvidas que o sistema é uma espada de dois gumes. É possível ganhar muito, se o valor futuro do vinho comprado aumentar. Mas pode também quebrar a cara: quem comprou o Château Haut-Brion 1997, comprado antecipadamente por US$ 150,00 a garrafa, não conseguiu um centavo a mais, ainda em 2003, cujo preço continuava nos 150 dólares.
O problema, pelo menos para mim, é o que todos esses profissionais provam. Sobre o que eles vão julgar. E julgar a priori. Vão provar vinhos que foram recentemente vinificados e colocados em barris. E lá ficarão ainda entre 18 e 24 meses antes de serem engarrafados e chegar às prateleiras.
Ele provaram vinhos que ainda são bebês, difíceis de avaliar. Estão ainda muito crus, fechados, com taninos amargos de doer. E, importante, não estão acabados. A maturação em barril, como dissemos, pode levar de 18 meses (o mínimo) a dois anos ou até mais. Eles ainda poderão de clarificados e filtrados. E o blend alterado: em vez de 20% de Merlot e 80 de Cabernet, o vinicultor pode acrescentar a Cabernet Franc e alterar os volumes das duas outras cepas.
O degustador pode ser o mais experiente e perspicaz, mas seu veredito eventualmente morre na praia. Os vinhos podem desenvolver-se de modo diferente do imaginado. Todo mundo falou mal dos vinhos de 2001. Acontece que eles maturaram muito bem e foram um sucesso. (Só que agora ninguém mais se lembra disso).
De qualquer modo, a voz geral (desses mesmos degustadores) é a de que Bordeaux 2009 será um grande sucesso. Vamos confiar nisso (mas com um pezinho atrás). Eu já coloquei minhas fichas em namorados en primeur. Nada deu certo. Estou na fase de só provar maduro, aqueles prontos para beber.
Da Adega
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