29.10.10

Doce in, Seco out

Você prefere os vinhos doces aos secos? Então já sentiu que a maioria dos bebedores de vinhos te olha atravessada, como se você ainda estivesse no bê-á-bá dos vinhos, uma reles amadora. Mas, prepare-se que agora vão começar a te olhar diferente. Um olha cheio de culpas ou, melhor, um olhar repleto de desculpas.
Assim como a sociedade tem padrões, como os de comportamento (sem eles, a casa pode vir abaixo), com o mundo dos vinhos é a mesma coisa. Ele tem os seus padrões. E um de seus modelos está nos vinhos secos. É por eles que a indústria, o comércio e a crítica de vinhos costumam medir a qualidade dos vinhos. E, na seqüência, os seus consumidores.
Os apreciadores de vinhos doces, por exemplo, costumam ser vistos como bebedores pouco sofisticados, apenas iniciantes que precisam ter seus paladares educados de modo a conformar-se aos padrões e aderir aos vinhos secos.
Agora, esse tipo de sabedoria mostrou-se incorreta. O Master of Wine Tim Hanni e a médica Virginia Utermohlen, professora da Universidade de Cornell, EUA, analisaram as respostas de 1.500 questionários online envolvendo consumidores de vinhos e outras bebidas. E concluíram que a fisiologia desempenha papel importantíssimo quanto a determinação das preferências pelos vinhos.
Fisiologia é uma subcategoria da biologia. É a ciência das funções mecânicas, físicas e bioquímicas nos humanos. A palavra vem do grego physis (natureza, origem) e logia (estudo de). Enquanto a fisiologia estuda a função, a anatomia, sua prima-irmã, estuda a forma.
Os citados questionários continham com perguntas sobre gênero, idade, preferências por vinho (estilo, variedade), atitudes com relação à seleção de vinhos, freqüência de consumo, características que os respondentes mais buscavam nos vinhos (tipo de sabor), preferência de bebidas por ocasião (em casa, em jantares, nos bares), tipos preferidos de cervejas e cafés.
Diante das respostas, os dois pesquisadores distinguiram dois grupos principais de entrevistados: o “Doce” e o “Tolerante”. Os primeiros somaram 324 respondentes e os segundos 341. O grupo “Doce”, como o nome indica, prefere vinhos doces. O “Tolerante” fica com os secos.
Vemos que se trata de um estudo sobre como os consumidores percebem sabores e aromas e como a sensibilidade de cada um determina diferenças marcantes.
Sabor, como sabemos, promove sensações que acontecem em nossas bocas. Os aromas acontecem a partir de nossos narizes. Só que para nossas cacholas ambos ocorrem na boca. A sensibilidade aqui se refere à intensidade de sabores e aromas percebida pelos consumidores (no caso, os respondentes).
E essa pesquisa desnudou fatos espetaculares. O grupo de consumidores categorizados entre os "Doces”, por exemplo, talvez sejam aqueles com o mais alto nível de sensibilidade, tanto que precisa da doçura para abrandar outros sabores. Declara alto e bom som que prefere vinhos doces. Seus vinhos preferidos são o Riesling, o Zinfandel Branco, o Chardonnay, uma Sangria, vinhos bem frutados. Esse grupo refere-se a esse estilo ora como macio, como frutado ou doce mesmo.
Os consumidores do grupo “Tolerante” são menos sensíveis: para eles, o sabor quanto mais potente melhor. Preferem os vinhos tintos encorpados. Optam por designações como um vinho de tantos pontos (apelando para avaliações de terceiros, que mais têm a ver com uma suposta importância do vinho ou do crítico), vinho complexo, intenso. Talvez, mal comparando, seja o tipo de pessoa que vai colocando sal na comida antes de prová-la.
Tim Hanni, um dos pesquisadores, afirma que “a indústria do vinho deve aos amantes de vinhos doces uma ENORME desculpa”. Diz que se a paixão por vinhos doces deve ser incentivada oferecendo-se mais vinhos com esse perfil aos consumidores. Ele tem razão em estar preocupado. Na falta de escolha, esses consumidores se bandeiam para coquetéis ou cervejas. Quem sai perdendo é o mercado de vinhos.
Em razão dos padrões vigentes, os vinhos doces sempre tiveram pouca ou má divulgação nas últimas décadas, tudo porque gostar deles significava até agora uma espécie de mancada social em muitos círculos. Eles ficaram esquecidos ou relegados a apenas acompanhar sobremesas.
É o caso dos vinhos do Porto, dos Jerez, dos vários Moscatos, dos Sauternes, dos Tokaji, dos Rieslings, dos Chenin Blancs do Loire, dos Eisweins alemães, canadenses e, agora, os de Santa Catarina.
Não tem muito tempo, e a nossa cozinha foi sacudida pela volta do jiló. Nesse caso, o padrão era diferente. Como é que alguém poderia gostar de algo tão amargo? Luiz Gonzaga, no Que nem Jiló canta a saudade de seu amor, uma saudade que faz doer, “amarga que nem jiló”. Mas esse fruto (sempre confundido com legume) deu a volta por cima. Foi adotado por chefs famosos e ganhou lugar honroso entre os quitutes de qualquer pé-sujo ou limpo que se preze.
O mesmo deve acontecer com os vinhos doces e seus amantes. No mundo dos vinhos, o padrão mesmo está é na variedade, na fartura de opções, no caleidoscópio de sabores e aromas, qualidade que nenhuma outra bebida é capaz de fornecer. Vamos aos doces, então.
Saiba mais sobre a pesquisa de Tim Hanni e Virginia Utermohlen.
Da Adega
Degustações gratuitas da Ville du Vin.
Maior rede multimarcas do mercado de vinhos, a
Ville du Vin vai promover degustações gratuitas de vinhos selecionados, através de eventos semanais em três de suas unidades: Vila Nova Conceição, Klabin e Shopping Villa Olímpia, todas em São Paulo.
Tais encontros acontecerão sempre a partir das 18 h. Na programação, degustação de rótulos da alemã Gustave Lorentz, dia 3 de novembro na unidade Vila Nova Conceição. Nos dias 4 e 5, o encontro será no Shopping Vila Olímpia. E, no dia 6, no Klabin.
Na segunda semana de novembro, será a vez dos espanhóis da vinícola Castaño, com degustações no dia 10 (Vila Nova Conceição), dias 11 e 12 (Shopping Vila Olímpia) e dia 13 (Klabin).
Os espumantes encerram a seqüência: dia 17, na Vila Nova Conceição; dias 18 e 19 no Shopping Villa Olímpia; e no dia 20, na Chácara Klabin. Saiba mais no
site.

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