10.10.10

Pernas Abertas e Bundas de Fora

Nos anos 80, Wolf Blass, um australiano produtor de vinhos criou um espumante tinto e o chamou de René Pogel. Ora, Wolf já era um empresário bem-sucedido, cheio das idéias. E continua assim até hoje: em 2006 lançou vinhos em garrafas de plástico (para reduzir peso, baratear transporte e aquecer menos o globo).
De volta aos 80, todos pensaram que a René era epônimo de alguma francesa, uma homenagem de Wolf a certa figura lendária de Champagne ou a um romance do passado. Esqueceram que Wolf sempre foi brincalhão até que descobriram que René Pogel, de trás para frente virava “Leg opener”, literalmente “abridor de pernas” – o que aparentemente ofendeu a muita gente. Rapidinho Wolf retirou o vinho do mercado. Os espumantes sempre foram associados com as artes da sedução e Wolf certamente não queria confusão com censores de qualquer tipo ou com as verdadeiras Renés.
Os vinhos, em sua maioria, continuam a ser apresentados pomposamente. É Château pra lá, Domaine para cá, Conde disso e Marquês daquilo que não custa nada trazer um pouco de humor para a mesa.
É o que tem acontecido com alguma freqüência, principalmente do Equador pra cima. O tinto sul-africano “Goats do Roam” enfureceu os franceses da Côtes du Rhône, pois foneticamente o nome do vinho sul-africano imitava o da região francesa. O dono do vinho, Charles Back, explicou que na sua vinícola “as cabras (goat) perambulavam (roam) pra valer (do). Hoje esse vinho dá nome a uma segunda vinícola de Charles.
Mas o que fazer com um vinho chamado “Chat-en-Oeuf” (“Gato sobre Ovo”), cuja pronúncia é a mesma de Châteauneuf, lembrando o mais famoso vinho da Côtes du Rhône, o Châteauneuf-du-Pape? O curioso é que se trata de um vinho da mesma região. Enfurecer-se pra quê?
Os trocadilhos funcionam, assim como vinhos que implicam em alguma autocrítica, uma aparente desvalorização, como talvez seja o caso do “Fat Bastard”. Um “Bastardo Gordo”, sendo que no dia-a-dia “bastard” equivale mesmo à babaca, um termo ofensivo.
Além de rótulos com insinuações sexuais, trocadilhos, nomes de celebridades, vinhos com nomes de animais ainda fazem sucesso. Veja o êxito do Yellow Tail, o maior sucesso de vendas dentro e fora da Austrália. Nessa linha, temos o “Cat’s Pee on a Gooseberry Bush” (Xixi de Gato na Moita de Groselha), “Cigare Volant” (“Charuto Voador”, um eufemismo para disco voador, como aparece no rótulo”). Além desses, lembro de “Pinot Evil” (Pinot Malvado), “Vampire Merlot” (Merlot Vampiro), “Bored Doe” (Corça Entendiada).
É claro que vinhos assim se destacam nas prateleiras das lojas. Afinal, entre milhares de vinhos aparentemente iguais, eles precisam fazer algo a mais para chamar a atenção. E o fato de possuírem nomes divertidos não significa que seus criadores não estivessem seriamente empenhados em fazer um excelente vinho.
Aqui no hemisfério sul, o estilo preponderante é o do Novo Mundo: no rótulo, o nome da varietal (ou varietais) e o do produtor. Uma chatice. Não sei por que não se insipiram um pouco nos rótulos das nossas cachaças, que, aliás, tem muitos nomes. Já foi jeribita, birita, piribita, jurubita, marafo, angico, cumbe, geba, maçangana, malungo etc. Hoje, pode ser abrideira, branca, danada, dengosa, teimosa, tira-teima, água de briga, uca, etc.
Quantos as marcas, temos desde Paraty (fabricada desde 1700), que virou sinônimo de cachaça, até “Amansa Corno” e “Assovio de Cobra”. E “Aliada’, para animar nossos pracinhas na II Guerra; a “5X2”, celebrando o placar da vitória brasileira sobre os suecos e que nos deu a Copa de 58. E até uma “Minuto de Silêncio”, do Estado do Rio: os produtores e donos da destilaria eram três irmãos, todos eles surdos e mundos – que, claro, sempre trabalharam em silêncio.
Sabemos que as novidades quase sempre são tão ou mais velhas do que Matusalém. Uma vinícola (e appellation) na Borgonha, situada na Côte d´Or, é chamada de Montre Cul (ou “Mostre o Traseiro”; se quiser pode traduzir como bunda ou cu, seria até mais correto).
Os vinhedos dessa appellation existem desde o ano 92 da nossa era, quando Domiciano era o imperador romano. No rótulo de um de seus tintos, vemos uma colhedora de uvas em plena ação: agachada no seu oficio, só os consumidores reparam que ficou com a bunda de fora.
O rótulo do Château Mouton Rothschild de 1993, como é da tradição, traz uma ilustração de Balthus no rótulo: uma jovem nua. Balthus era um mestre da arte figurativa, um artista renomado, que costumava mostrar ninfetas em poses sensuais. Nos Estados Unidos, o rótulo teve de ser mudado, isto é: retiraram o desenho. Uma atitude hipócrita, pois as duas maiores revistas masculinas do mundo, a Playboy e a Penthouse já estavam mostrando garotas nuas em pelo desde 1973.
Uma moralidade com a bunda de fora. O que se quer mesmo é mais informalidade, mais bom humor em nossas mesas.
Da Adega
Bolhas Italianas no Fim do Ano
. A novidade agora fica por conta dos espumantes italianos Asti Villa Jolanda DOCG e Santero DOCG, de Asti, Piemonte, Itália. São produzidos pela Cantina Santero, com a moscato bianco, colhidas manualmente.
O Asti Villa Jolanda tem cor amarelo palha, perlage fina e persistente. Aromático, destaca notas de frutas em compota. Harmoniza com salada de frutas e tortas doces de frutas.
O Asti Santero, também com aroma delicado, oferece uma pitada de sálvia. É perfeito para doces, como bolos e tortas.
É a Malbec do Brasil que está trazendo esse regalo para o nosso fim de ano. Para maiores informações, ligue para (11) 3274 1360 ou
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