19.10.06

Château Picard 2267

Sim, duas garrafas de um vinho da safra do ano 2267 foram vendidas por US$ 6.600,00 (R$ 14 mil). Mais caras do que o Château Petrus 2005 (US$ 3.300,00 a garrafa), considerado o vinho mais caro do mundo atualmente. Um absurdo de caras principalmente considerando que as garrafas do Picard 2267 estavam vazias. Sim, compraram apenas as garrafas. Mas como isso é possível? É que no mundo da ficção, amiga, tudo é possível. E, como veremos mais adiante, no mundo dos vinhos também.
Essas duas garrafas do século 22 pertenciam ao Capitão Jean-Luc Picard (na vida real, o ator Patrick Stewart), comandante da nave estelar Enterprise, da célebre série “Jornada das Estrelas”.
Elas aparecem como parte do cenário de uma seqüência festiva do 10º longa metragem da série, Nêmesis, filme de 2002. E conseguiram recentemente essa alta cotação num leilão da Christie’s de Manhattan, Nova York.
Só sei disso porque meu sobrinho, o Guilherme, é mestre em ficção científica. Sabe tudo sobre a “Jornada nas Estrelas”. Ele me revelou que o Capitão Picard nasceu e foi criado no vinhedo da família, em Labarre, França. Seu pai é um excelente vinicultor e cuida dos vinhos com seu filho mais velho, Robert. Labarre é um lugar naturalmente ficcional, embora exista um bocado de La Barre: nos departamentos de Jura, de Haute-Saône, na Vendéia (La Barre-de-Monts) etc.
Essas garrafas faziam parte do leilão 40 Anos de Star Trek: a Coleção, realizado de 5 a 7 de outubro passado para celebrar o quadragésimo aniversário da série. O leiloeiro reuniu mais de mil lotes com material da série na televisão e no cinema, com figurinos, objetos de cena (como as garrafas do Château Picard), cenários, modelos das várias Enterprises e das naves alienígenas e das estações espaciais. O destaque no leilão foi a cadeira do primeiro comandante da nave estelar, o Capitão James Kirk, estimada entre 8 e 12 mil dólares.
Mas, diacho, porque estou falando de garrafas vazias de vinho do século 22? Existe um mercado para elas, colecionadores vidrados pela “Jornada das Estrelas” e devidamente enricados que as compram. Com essas garrafas, objetos de cena etc. embarcam num mundo imaginário. Nada de mais nisso. Se gostassem de vinhos, as garrafas deveriam de estar cheias, penso eu.
Essa nota poderia servir apenas como uma curiosidade. Mas ela também funciona como uma lembrança que infelizmente nada tem de ficcional. Um símbolo que se origina do filme onde elas aparecem: Nêmesis.
Nêmesis é a deusa grega da ética, da retribuição, da justiça distributiva, que lutava contra, por exemplo, o excesso de riqueza ou de felicidade de uns e a extrema pobreza e o infortúnio de outros. Estaria desempregada no Brasil.
Pois no filme, a história é principalmente a das terríveis conseqüências que teria a trama de substituir o Capitão Picard, o nosso “mocinho”, por um clone. Claro que o “bandido” é o clone, cujo objetivo era o de levar à Terra uma forma de irradiação capaz de eliminar toda a vida em nosso planeta, me conta o Guilherme.
Onde entra a Nêmesis? Temos um Capitão Picard bom, que vive para salvar a Terra e planetas dessa e de outras galáxias. E tempos um clone seu: um Picard mau, capaz de nos destruir. A justiça distributiva, que impede excessos, equilibra tudo, funcionou: o Picard mau é destruído à muito custo.
Pois temos também clones no mundo dos vinhos. São as uvas e fermentos geneticamente modificados. É sempre bom sabermos o que estamos comendo e, no caso, bebendo. Um simples suco à base de soja, por exemplo, pode conter um elemento estranho, algo que não foi devidamente pesquisado e que ninguém pode afirmar que vai se entender adequadamente com o nosso organismo. O pequeno momento de prazer proporcionado pelo suco pode muito bem roubar anos de nossa saúde.
O próprio Picard, o verdadeiro, era criticado pelo seu irmão vinhateiro, Robert, por beber synthehol, nome genérico lá naquelas alturas para bebidas alcoólicas artificiais, cujos efeitos intoxicantes eram todos ilusórios e não químicos (isso no vasto repertório do mundo criado pela série). Segundo seu irmão, Picard teria perdido o seu paladar pela “coisa verdadeira”, o vinho, pelo fato de beber synthehol, a ilusão.
Você deve ainda lembrar o bafafá que deu (e vai continuar a dar) essa história do governo aprovar o plantio de soja transgênica. Como é assunto que resulta na qualidade do que colocamos na mesa para comer e beber, que mexe com nosso prazer e saúde, achei que as amigas deveriam se interessar.
Frankstein. Esse você conhece: é aquela criatura, feita de partes de outros humanos, e que, ao final, se volta contra seu criador.
Parece um grão como qualquer outro. Mas inseriram nele um ou mais elementos que o transformam numa outra coisa, num transgênico – um alimento geneticamente modificado, resultado da transferência de um gene de um organismo para outro. Aqui também se opõem dois lados.
Cientistas descobriram como alterar diretamente os genes (unidades hereditárias ou genéticas situadas nos cromossomos e que determinam as características de um indivíduo ou de um alimento), permitindo que adquiram vantagens possuídas por outras espécies de plantas, animais ou humanos. Por exemplo, uma variedade de milho geneticamente modificada pode conter o gene tirado de uma bactéria que produz um tóxico químico que combate lagartas, larvas, dando ao grão uma defesa contra insetos nocivos. Essa tecnologia pode também promover colheitas mais volumosas que não necessitem de muitos pesticidas. Ou, ainda, conseguir plantas que se desenvolvam melhor sob condições difíceis, como as secas.
A oposição acha, porém, que a engenharia genética é uma tecnologia radical, que ultrapassa as barreiras genéticas entre humanos, animais e plantas. Ao combinar genes de espécies diferentes e não relacionadas entre si, comprometendo os códigos genéticos, criam-se novos organismos que passarão suas alterações adiante, através da hereditariedade. Os cientistas hoje estão retalhando, inserindo, recombinando, rearranjando, editando e programando material genético. Os genes de animais e mesmo humanos estão sendo inseridos em plantas ou animais, criando formas transgênicas nunca imaginadas. Pela primeira vez na história os seres humanos estão se tornando os arquitetos da vida. Engenheiros biológicos criarão dezenas de milhares de novos organismos nos próximos anos. Assim, a engenharia genética causa preocupação de ordem ética e social sem precedentes, fora desafios sérios para o meio ambiente, a saúde humana e animal e para o futuro da agricultura.
Onde está a Nêmesis?
Sempre cismamos com a tentativa de alterarem geneticamente as uvas. Mas será que o vinho feito de uvas geneticamente modificadas terá o mesmo sabor, o mesmo valor? Será que os alimentos em geral serão mais seguros? Os consumidores têm o direito e o dever de ter dúvidas e de saber mais. Na Inglaterra uma pesquisa consultou 37 mil pessoas. E 93% delas acharam que a tecnologia genética é movida por lucro e não pelo interesse público. Para eles, só produtores agrícolas (e seus fornecedores, os laboratórios) é que lucrariam com essa prática. Nós, consumidores, ficaríamos com os prejuízos.
Na Europa, Austrália e Nova Zelândia há séria oposição ao uso de uvas e fermentos (para uvas) geneticamente modificados. Mas nos Estados Unidos, o americano já consome soja e milho transgênicos. E recentemente colocaram no mercado um fermento (o ML01) que pode ser utilizado legalmente nas uvas (e, portanto, na produção de vinhos).
Ou seja, daqui um pouco vamos ter um clone do Capitão Picard em forma de uva e, naturalmente, sem que nada nos seja informado nos oferecerão um vinho dessa variedade mutante. Será uma Cabernet Franc ou Francstein? Será que passaremos algo parecido com o synthehol consumido na Enterprise?
Viu, amiga, como o mundo é pequeno e redondo, por mais distantes que sejam as galáxias? Começamos com um vinho do século 22, que não existe, mas que consegue aqui e agora um preço estratosférico.
Continuamos com a luta do Capitão Picard contra o seu clone. E já que falávamos de vinhos e seres falsos, aproveitamos o embalo (ou o empuxo, em se tratando de naves interestelares), para relembrar um perigo que ronda aqueles que, como nós e o irmão de Picard, o verdadeiro vinhateiro, insistimos em beber a “coisa verdadeira”.
Para dúvidas sobre bebidas e viagens especais clique para a Soninha Melier (e o Guilherme) via soniamelier@terra.com.br

3 comentários:

Folhinha de Carvalho disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

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