24.10.06

Perguntas e Respostas

O título já diz tudo: aproveito para atualizar a pilha de perguntas que chegam via e-mail.
Pergunta: Leitora quer saber se é verdade se aquela concavidade na base da maioria das garrafas de vinho serve mesmo para ajudar no serviço da bebida, criando uma “pega” para o vasilhame. E também se é verdade que quanto mais profunda essa depressão melhor é o vinho, pois ela teria relação com pressão.
Resposta: Essa concavidade é uma lembrança dos tempos em que o vidro das garrafas era muito frágil e ainda feito artesanalmente por sopradores. Foram eles que criaram essa depressão pensando em fortalecer a garrafa. Esse recurso foi muito útil principalmente para as garrafas de Champagne, onde a pressão interna é muito alta e constante. O vidro moderno é muito mais forte e as garrafas são produzidas industrialmente, por máquinas, sem a necessidade dessas concavidades. Falam também que elas ajudam a reunir sedimentos do vinho ou facilitar servir a bebida (isso se o leitor tiver polegares muito fortes). Bobagem. A verdade é que são mantidas por uma tradição puramente estética, embora não duvide que, quanto maior for a concavidade mais forte parecerá a garrafa (e o vinho). Logo: uma questão de estética e de marketing.
Pergunta: Dois leitores brigam pela mais antiga região demarcada de vinhos: um diz que é a França, outro que é a Alemanha.
Resposta: Ninguém ganhou. A mais antiga região demarcada do mundo foi criada em Portugal, no Douro, e tem 250 anos. Vamos lembrar que na antiguidade Portugal exportava vinhos para o Império Romano. Os vinhos franceses vieram muito depois.
Selecionei essa questão de propósito, pois o Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto vai realizar uma degustação de seus vinhos no Rio no próximo dia 6 de novembro, a partir das 16 horas, na Casa de Cultura Julieta de Serpa, um palacete no Flamengo. Um importante acontecimento que vai marcar justamente os 250 anos dessa primeiríssima região demarcada. Para degustar as preciosidades a serem apresentadas, os chefs Francesco Carli (do Cipriani), Frédéric de Maeyer (do Eça) e Mónica Rangel, (do Gosto com Gosto, de Visconde de Mauá) criarão entradas e sobremesas especiais.
Pergunta: O vinho das garrafas magnum é exatamente o mesmo das garrafas comuns? Ou seja, o leitor acha que o vinho colocado nas garrafas de 1,5 litros não é o mesmo do que vai nas garrafas de 750 ml.
Resposta: Leitor, é o mesmo vinho, pode ter certeza. E é sempre o mesmo vinho o que vai para as meia-garrafas ou para as de 187 ml (também chamada de Pony ou Split – utilizadas quase que exclusivamente para espumantes) ou para qualquer um tamanhos de garrafas de vinho. Alguns produtores usam a magnum ou a jeroboão (3 litros), a Balthazar (12 litros) ou a Soverign (50 litros) ou para qualquer dos 13 tamanhos dessas garrafas, pois acreditam que o vinho nelas amadurece mais lentamente (ou seja: um recipiente mais apropriado para a guarda dos vinhos). Além disso, a produção dessas garrafas é muito pequena e por isso conseguem preços mais altos junto aos colecionadores.
Pergunta: Qual a melhor maneira de removermos uma rolha que suspeitamos esteja muito saturada, perigando de esfarelar-se dentro da garrafa?
Resposta: Em primeiro lugar, eu esqueceria imediatamente o saca-rolhas comum. Depois, tentaria utilizar aquele outro, de duas lâminas. É só colocar cada lâmina entre a rolha e o vidro do gargalo da garrafa e delicadamente forçar os dois dentes até quase o limite do cabo (ou da empunhadura, onde os dentes estão fixados). Com jeito, torcer para direita e esquerda e ir puxando. A rolha costuma sair.
Outra maneira é utilizar o saca-rolhas de injeção de gás: com uma agulha através da rolha injeta-se gás inerte na garrafa, resultando na expulsão da tampa. Uma versão mais comum é uma “bombinha” que, também através de agulha, injeta ar que acaba fazendo sair a rolha (e às vezes explodindo a garrafa).
Contudo, talvez nada disso dê certo. Então, relaxe. Tente tirar com o saca-rolhas comum. O que de cortiça se desfizer dentro da garrafa pode ser retirado com um filtro de papel (aquele utilizado para coar café) ou uma gaze de musselina. Nesse caso, não esqueça do decantador.
Pergunta: Leitora quer remover rótulos de vinho para utilizá-los como referência. Já tentou com água quente e fria, sem bons resultados. Existem produtos específicos para essa tarefa?
Resposta: O caso é que alguns rótulos são colados (cola comum) e outros adesivados (cola industrial, mais potente). Os colados são mais fáceis de retirar, pelo menos para mim. Coloco a garrafa em água morna por 20-30 minutos e, pronto, o rótulo se solta.
Os adesivados são bem mais difíceis. Precisamos de alguma coisa que derreta o adesivo. Tento com o secador de cabelo, coloco a garrafa no forno do fogão (numa temperatura bem baixa) por uns 10 minutos e depois uso uma lâmina (uma gilete) e experimento com muita calma a retirada do rótulo.
O segredo principal é tentar tudo isso primeiramente no contra-rótulo. Se funcionar nele, funciona no principal. O único problema é se a leitora resolver colecioná-lo também.
Pergunta: O que significa VDQS?
Resposta: “Vin Delimite de Qualité Superieure” (mais ou menos “Vinho Delimitado de Qualidade Superior”) é uma designação exclusivamente francesa relativa à qualidade dos vinhos entre “Vin de Pays” e “Appellation Contrôlée”. A categoria VDQS responde por menos de 1% da produção de vinhos na França e serve mais como um campo de testes para pequenas regiões viníferas, muitas das quais poderão ganhar, mais tarde, o status de Appellation Contrôlée. “Vin de Pays” é o vinho regional, uma categoria criada para encorajar a produção de vinhos que sejam superiores em qualidade ao “Vin de Table” (vinho de mesa), o mais básico nível de vinhos no país (apenas 12% da produção nacional). Continuando na mesma letra, temos também o VDN, abreviação de “Vin Doux Naturel”, um vinho que, como diz o nome, seria doce pela própria natureza. Só que, interessante, eles são adocicados artificialmente. Isto é: o açúcar contido na uva, que viraria álcool pela ação dos levedos, tem a sua transformação interrompida pela introdução de alguma aguardente. O fermento morre e sobra vinho com muito açúcar.
Pergunta: Leitora quer saber se o crítico Robert Parker Jr. é mesmo a pessoa mais influente no mundo dos vinhos atualmente.
Resposta: Poderia citar uns 50 nomes que hoje possuem influência direta sobre o estilo de vinhos que consumimos. Eles são ora vinhateiros, produtores, escritores, críticos, comerciantes ou empresários. O que temos de considerar é a palavra “direta”. Por exemplo, temos o empresário Georg Riedel, criador das famosas (e caríssimas) taças Riedel, que revolucionaram a qualidade dos copos onde os vinhos são servidos. Pois o famoso Riedel tem grande influência apenas na maneira através da qual o vinho é apresentado. Mas nenhum controle sobre o estilo dos vinhos.
Quanto a Robert Parker: não se pode negar que ele continua a ter enorme influência nos paladares dos consumidores, em particular dos norte-americanos e na maneira com que alguns vinhos são feitos ao redor do mundo, principalmente os Cabernet Sauvignon e os clássicos blends de Bordeaux. Advogado, transformou sua paixão pelo vinho em ganha-pão ao lançar em 1978 a sua newsletter (“Wine Advocate”) com avaliações de vinhos. Ele criou uma escala de 100 pontos para pontuar os vinhos, um sistema digamos simplístico que caiu no gosto dos norte-americanos. Uma nota 90 ou acima é sinal de status e venda certa para o vinho – o que leva produtores a serem acusados de adaptar seus estilos para agradar ao paladar de Parker. Ninguém pode negar o poder da influência desse norte-americano. Mas ela vem preocupando muitos produtores, que agora se distanciam de Parker. Sua influência vem lentamente diminuindo.
Mas para mim a mais importante pessoa a moldar do mundo dos vinhos hoje é você, sou eu, somos nós os consumidores.

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