28.11.06

A Dieta do Vinho

Tem um guru novo na praça, que promete vinho, chocolate e vida longa e boa para os seus seguidores. Já estamos na estação de grandes comilanças e muitos copos; na época de mostrar os corpinhos sarados nas praias. Logo, não custa contar para vocês as novidades do professor Roger Corder, um respeitadíssimo cientista inglês, que acaba de lançar em Londres o livro The Wine Diet, a Dieta do Vinho.
O professor é especialista em doenças cardiovasculares e propõe uma dieta eclética e liberal que vai de vinhos de Rioja, Espanha, aos Cabernets sul-americanos. Ele lembra o que as pessoas sabem há séculos: o vinho pode ser bom para nós. E cita Paracelso, o físico, alquimista, astrólogo suíço do século XVI: “vinho é um alimento, um remédio e um veneno – é só uma questão de dose”.
Roger Corder é professor de terapêutica experimental no Instituto de Pesquisa William Harvey, pertencente à Escola de Medicina de Londres. Passou anos reunindo evidências dos benefícios médicos, potencialmente gigantescos, dos vinhos tintos. Acrescente-se que ele não esqueceu do que se anda falando a respeito do chocolate preto, com qualidades similares. E, pronto, temos a ciência preferida dos gourmets.
O professor conseguiu inverter o antigo provérbio dos nutricionistas: “Se é delicioso, deve ser nocivo”. Ele começou suas pesquisas em 1999. E já em 2001 anunciou que, com sua equipe, tinha descoberto que o vinho tinto conseguia botar um freio numa das moléculas mais importantes a causar doenças coronarianas. É a tal de endotelina-1. Descobriu que certos tipos de polifenóis (um elemento químico das plantas), chamados de procianidinas, promovem saúde e são chaves do vinho. Não só existem abundantemente nos vinhos tintos como também no chocolate e de algumas frutinhas vermelhas - principalmente o arando (em português) ou cranberry (em inglês), ou canneberge (francês) e ainda arándono rojo (em espanhol).
Em sua essência, o professor afirma que se bebermos vinhos com alto grau de procianidinas estaremos melhorando a função de limpar os vasos sangüíneos e, assim, nos protegendo de doenças cardíacas, enfartos, diabetes, demência e possivelmente de alguns tipos de câncer. “Os bebedores de vinho são geralmente mais saudáveis e com freqüência vivem mais tempo”, afirma o professor. “Isso não é um sonho. Passei muitos anos pesquisando os benefícios do vinho para a saúde e posso afirmar que são esses bebedores que sofrerão menos com doenças cardíacas, diabetes e demência”.
Como é a dieta. Ela é diferente das demais: nada de contar calorias. É muito simples: apenas procura repetir o que fazem alguns dos povos mais longevos do mundo – da Sardenha, Creta e do sudoeste rural da França. Não existem serviços básicos de saúde nessas regiões. E, no entanto, as pessoas vivem bem e por muito, muito tempo. Se cuidam apenas tomando vinho todos os dias e comendo comidas frescas, não processadas.
O caso é buscarmos vinhos tintos com quantidades decentes de procianidinas. Mas os vinhos não são rotineiramente analisados pelo conteúdo dessas substâncias. O recurso é simples: basta sabermos o conteúdo total de polifenóis. Mas como?
Os produtores cada vez mais mencionam um tal de IPT (do francês Indice des Plyphénols Totaux) em suas informações técnicas, que podem ser achadas na internet e em algumas revistas especializadas.
Em geral, quanto mais alto o IPT, maior a quantidade de procianidinas num vinho. O professor criou uma escala, que vai de * (um asterisco) até ***** (cinco asteriscos), onde a maioria dos tintos tem pelo menos um *. Uma taça de um vinho com *****, super rico, contem pelo menos 120 mg de procianidinas. Uma taça com *** terá entre 60 e 90 mg. Um vinho médio poderá conter entre 30-45 mg da substância.
O professor cita os vinhos do Madiran, região do sudoeste francês, um santuário do vinho tinto. E os cabernet sauvignon argentinos, que o cientista toma como padrão. Assim, fica mais fácil nos abastecermos para essa dieta. Agora, pode ter como certo, amigas, que nossos tintos estão em pé de igualdade, são ricos em polifenóis. Não precisamos de *****. A turma em Creta e na Sardenha bebe direto do barril. São vinhos caseiros. Lá, ninguém se importa com asteriscos e procianidina é palavrão.
Ele reprova vinhos com alto teor de álcool (ficamos com a média tradicional de 12% de álcool por volume) e recomenda que só os bebamos às refeições, moderadamente (uma ou duas taças).
Um outro grupo de alimentos apresenta-se como fonte alternativa de procianidinas. Exemplos: o chocolate preto, maçãs, as frutinhas vermelhas citadas acima. A romã é fonte muito rica de diferentes polifenóis e pode substituir muito bem as procianidinas do vinho. Para quem não pode consumir álcool, temos, portanto deliciosos substitutos.
As maçãs contêm quantidades modestas de vitamina C, potássio, ácido fólico e fibras. Recentemente, descobriu-se que são uma fonte rica em procianidinas. As boas cidras, feitas ao modo tradicional, podem conter altos níveis desse elemento, mais alto até do que muitos vinhos e com apenas 6% de álcool. São boas alternativas (e mais baratas) do que o vinho tinto. Mas cuidado com as cidras industrializadas (as que vemos chegar aos montes nas prateleiras de supermercado, para as festas): o suco de maçã é rotineiramente filtrado, removendo grande parte das procianidinas. Melhor ficar com uma maçã por dia, cujo conteúdo médio desse polifenol é equivalente a uma taça de 125 ml de vinho tinto.
A arando (ou cranberry etc.) é fonte rica de procianidina, além de prevenir infecções do trato urinário, como a cistite. A recomendação do cientista é a de fazermos nós mesmas nosso próprio suco, pois o industrializado leva muito açúcar.
De um modo geral, a maioria das frutinhas vermelhas forma uma rica fonte de vários polifenóis. Na média, 100g dessas frutinhas podem conter uma quantidade de polifenóis igual a uma taça de 125 ml de vinho tinto rico em procianidina.
E também temos as nozes. Elas aparecem aqui como uma surpresa, pois são ricas em gordura. Pois o professor Corder descobriu que pessoas que costumeiramente comem nozes apresentam um índice de doenças cardíacas mais baixo do que as que nunca ou raramente as comem. Um estudo investigou 34 mil adventistas do Sétimo Dia, na Califórnia. Os que comiam nozes mais de cinco vezes por semana apresentaram um nível de doenças cardíacas 50% mais baixo. É que esses frutos são uma das mais ricas fontes de polifenóis.
Outra grande fonte de procianidinas é a canela, aquela mesma da Gabriela. É um tempero versátil, tanto para pratos doces como para os salgados.
O chá, preto ou verde, tem também bons níveis de polifenóis. O cientista cita estudos concluindo que três xícaras de chá diariamente podem reduzir o risco de doenças cardíacas em apenas 11%. Outras pesquisas, feitas em hospitais, demonstraram que 900 ml de chá preto por dia, durante quatro semanas, melhoraram a condição de pacientes com doenças coronarianas.
Assim, jogando com uma dieta mediterrânea, com muitos legumes, frutas, azeite, pouquíssima ou nenhuma fritura, chocolate e muitas das frutinhas citadas aqui e uma ou duas taças de vinho tinto por dia, podemos seguir adiante com mais saúde e por mais tempo.

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