7.11.06

Liberdade para os glutões

Agora, sim. Podemos comer quantos doces quisermos, quantas batatas fritas e picanhas suando gordura desejarmos. Calorias e carboidratos que se danem! E isso graças a uma substância natural encontrada fartamente nos vinhos tintos, o já famoso resveratrol, um componente produzido pelas uvas, entre outras plantas e frutas.
Pelo menos, amigas, isso é o que demonstram pesquisadores da Escola Médica de Harvard e do Instituto Nacional Envelhecimento, ambos nos Estados Unidos. Eles publicaram os resultados de suas novíssimas pesquisas agora no início de novembro na revista Nature.
Segundo o trabalho desses cientistas, grandes doses diárias de resveratrol podem compensar dietas demasiadamente calóricas, em nada saudáveis, aquelas que promovem ou agravam o problema da obesidade em todo o mundo. E faz mais: mesmo com essa dieta e mesmo entre obesos, o tratamento com o fenólico pode prolongar nossas vidas, mais que entre magros que não consomem essa dieta de alta caloria.
Tudo isso se nós, humanos, respondermos ao resveratrol tal como camundongos de laboratório o fizeram. Pois é: primeiro experimentaram neles. Somos as próximas na fila.
O resveratrol é encontrado, entre outras frutas, em grandes quantidades nas cascas das uvas e, portanto, também no vinho tinto. Ele é tido como o responsável pelo chamado Paradoxo Francês, o intrigante fato que deixa o povo francês gozar de uma dieta gordurosa e sofrer menos com doenças cardiovasculares do que os americanos, por exemplo. Essa teoria foi exposta em 1992 na TV, no programa 60 Minutos e fez aumentar a procura pelo vinho tinto em todo o mundo de uma hora para outra.
Os pesquisadores alimentaram um grupo de camundongos com uma dieta na qual 60% das calorias se originavam de pura gordura. Esse regime começava quando os ratinhos, todos machos, atingiam um ano de idade, equivalente à nossa meia-idade.
Como era de se esperar, os camundongos desse grupo logo apresentaram sinais de diabetes, de fígados aumentados e acabavam morrendo muito mais cedo do que o grupo de ratinhos alimentados com uma dieta padrão.
Aí entra um terceiro grupo de ratinhos. Foram alimentados com dieta de muita gordura, tal como aconteceu com a primeira turma. Só que, além dessa alimentação, eles consumiam uma grande dose diária de resveratrol.
O resveratrol não impediu que ganhassem peso ou que ficassem gordos como barriquinhas, tal como os do primeiro grupo. Mas evitou os altos níveis de glicose e insulina na corrente sangüínea, sinais evidentes de diabetes. Além disso, os seus fígados mantiveram-se no seu tamanho normal.
Agora, o mais espantoso: o resveratrol fez com que os ratinhos desse ganhassem mais tempo de vida.
Eles morreram muitos meses depois do que os camundongos alimentados com muita gordura. E no mesmo período de tempo do que os ratinhos com a dieta padrão, saudável.
Ou seja: tiveram todos os prazeres desfrutados por um glutão, mas sem pagar com diabetes, doenças cardíacas etc.
Os pesquisadores tentaram também estimar o efeito do resveratrol na qualidade da vida física dos camundongos. Fizeram os ratinhos andarem no equivalente a uma espécie de esteira ergométrica. E a turma que consumia resveratrol saiu-se melhor na media em que envelhecia, terminando com o mesmo nível de potência física do que os que consumiam a dieta normal.
Os pesquisadores foram liderados por David Sinclair e Joseph Baur, na Escola Médica de Harvard, e por Rafael de Cabo, no Instituto Nacional de Envelhecimento.
Acham que, em princípio, o seu estudo mostra que o resveratrol, consumido “em doses apropriadas, pode reduzir muitas das conseqüências negativas do consumo excessivo de calorias e ainda melhorar a saúde e estender o tempo de vida dos humanos”.
A amiga está pensando em imediatamente aumentar a quantidade de taças de vinho tinto no seu dia-a-dia? Não é por aí, cuidado!
Os nossos simpáticos ratinhos consumiam uma pesada dose de resveratrol: 24 miligramas por quilo de peso.
O vinho tinto pode ter entre 1,5 a 3 miligramas de resveratrol por litro. Portanto, uma pessoa lá nos seus 70 quilos precisaria beber entre 1.500 a 3.000 garrafas de vinhos todos os dias para chegar à dose consumida pelos ratinhos.
Convenhamos, amigas, pode ser a quantidade de resveratrol ótima para estender a sua vida de glutona. Mas é álcool demais para qualquer pessoa, não é não? Você não vai viver a tempo nem para curtir aquela ressaca.
Existem empresas que vendem extratos de resveratrol. Uma delas é a Longevinex. Seus comprimidos, alega ela, podem conter de cinco a 15 taças de um bom vinho tinto. Saiba mais sobre ela aqui.
Fico intrigada é com o fato de que o Dr. Sinclair, figura principal nessa pesquisa, é também o fundador de uma empresa, a Sirtris Pharmaceuticals, responsável por desenvolver várias drogas que imitam a ação do resveratrol.
Seria melhor, pelo menos para a minha cabeça, que o grupo responsável pela pesquisa não tivesse qualquer tipo de relacionamento (em particular o comercial) com drogas que competem ou imitam o principal pesquisado: o resveratrol.
A Sirtris está testando uma dessas drogas, que seria uma versão melhorada do resveratrol, com o objetivo de verificar se ela ajuda a controlar os níveis de glicose em diabéticos. Um dos executivos da empresa diz que não acreditar que se possam alcançar níveis terapêuticos em humanos com o resveratrol comum.
Enfim, vamos esperar para ver. Enquanto isso, que tal uma tacinha de vinho? Ela vai valer pela bebida, pelo prazer que nos dará e não pela suposição de que é um remédio.

Nenhum comentário: