20.2.07

Cada coisa

Como classificar as notas que seguem abaixo? Quase todas estão relacionadas às bebidas, ao vinho em particular. Decadentes, surpreendentes, curiosidades? Ainda não me decidi, mas como ainda teremos mais carnaval neste sábado, acho que poderão formar um bloco animado.
O vinho de Hitler. Esse está certamente intragável – sob todos os aspectos. Uma garrafa do Fuhrerwein (“vinho do Fuhrer”), de 1943, foi leiloada por oito mil dólares. O vinho foi distribuído em 1943, na data do aniversário do Fuhrer, 20 de maio, a oficiais de alta patente do exército alemão. No gargalo, um pequeno selo com á águia nazista com suas garras agarradas à suástica. No rótulo, uma foto do ditador (de paletó e gravata) e as palavras “Schwarzer Tafelwein” (vinho tinto de mesa), com 12% de volume alcoólico e uva de procedência desconhecida. O vinho foi achado numa garagem francesa e comprado por um leiloeiro inglês. Um comprador de Devon, Inglaterra, ficou com a garrafa. O leiloeiro disse que não teve problemas morais em negociar com esse vinho. Na Alemanha, estaria em apuros. Hitler era abstêmio, mas não teve pejo em colocar seu nome e imagem num rótulo de vinho. O novo proprietário, porém, preferiu o anonimato.
Esse moço pagou US$ 7.794,00 por uma garrafa - que pode ser falsa.
Um grupo de historiadores já questionam a autenticidade do vinho, pois desconhecem que Hitler costumasse a dar tais presentes a oficiais de alta patente. Sir Ian Kershaw, professor de história moderna na Universidade de Sheffield, Inglaterra, afirma que “esse não era o estilo de Hitler”. Uma foto autografada do ditador, diz o professor, seria um presente muito mais desejado. Contudo, diz que não pode assegurar que a garrafa seja falsa.
A casa leiloeira, Plymouth Auction Room, a que vendeu o vinho explica que “não tem motivo para acreditar que a garrafa seja falsa”. E acrescenta: "Deixamos bem claro que a garrafa nos foi oferecida sem uma garantia de sua origem, de sua propriedade. Nossa casa não é especializada nessa área”. O leiloeiro, Paul Keen, pensava que o Fuhrerwein fosse levado por apenas 200 dólares. Veja a garrafa aqui.
Essa história de fraude é antiga no mundo dos vinhos. E ainda vair dar o que falar: é só esperar.
Chardonnay Rosso. É possível, um Chardonnay tinto? Como explicar um vinho tinto feito de uma uva branca, cuja versão tinta não existe? A Chardonnay vende feito água nos EUA e uma vinícola de lá (The Green Creed Winery, na Carolina do Sul) resolveu faturar em cima da fama da varietal criando um factóide. E lançou o ”Chardonnay Rosso”. Um corte de Chardonnay com a tinta Chambourcin (uma uva européia híbrida: cruzamento de uma vitis vinifera com uma espécie americana, mais resistente a doenças). É o próprio samba do crioulo doido!
A mais cara garrafa. Um norte-americano deu 100 mil dólares por uma garrafa de vinho branco, agora considerada a mais cara do mundo. É um Château d’Yquem, safra de 1787, um vinho doce natural, da famosa região de Sauternes, França.
Foi vendida pela Antique Wine Company, especializada em vinhos raros, para um colecionador, já freguês da Antique, que também preferiu manter-se no anonimato. Estimando que uma garrafa de 750 ml seja equivalente a cinco taças, cada uma custará ao novo dono desse Sauternes a bagatela de US$ 10 mil. Não me espantaria saber que esse vinho ainda esteja bom de beber.
Ah, as vacas australianas! Quer dizer, o gado australiano. Os da raça Wagyu, fora grãos, feno e massagens diárias, estão consumindo uma garrafa de vinho tinto, todo o dia. É um Chestnut Grove Cabernet/Merlot 2004, de mais ou menos R$ 35,00 (preço de lá). Os criadores australianos esperam que desse gado saiam os filés mais suntuosos já provados em todo o mundo.
O gado Wagyu é originário do Japão (‘Wa’ significa japonês e ‘gyu’ é gado), a mesma raça que produz o famosíssimo e raro bife de Kobe (nome da cidade de onde se originou, há 170 anos). No Japão, dão uma garrafa de cerveja, aplicam massagens e tocam Mozart para relaxar os animais. Se você é o que você come, não é de estranhar que meio quilo dessa iguaria chegue a custar mil dólares nos Estados Unidos.
Mensagem na garrafa. Tim Dickinson, 28 anos, da cidade de Pekin, Illinois, estava trabalhando numa estrada interestadual, cavando, quando achou uma garrafa. Dentro dela, um pedaço de papel com algo escrito. Sua tampa era de madeira, indicando grande idade.
O bilhete dizia: “Estou cansado da vida. T. J. Riley”. A garrafa é de uísque parece datada de 1896, segundo um colecionador da região. Restou um tantinho da bebida. Será que Riley bebeu tudo e... suicidou-se? Deixou família? Ninguém sabe? Esse até que é um bom começo de uma movimentada novela policial.
Só bebo Bilk. Em inglês “bilk” quer dizer “iludir”, “enganar”, “fraudar”, por aí. Mas no Japão “Bilk” passou a ser o nome de leite fermentado tal e qual uma cerveja, pois é produzido por uma cervejaria na cidade de Nakashibetsu, na ilha de Hokkaido. “Bilk” é a soma de “Milk” (leite) com “Beer” (cerveja). O produto final parece com uma cerveja, mas tem um ligeiro sabor de frutas. Vende por uns 13 reais a garrafa.
O maridinho chega em casa, pra lá de alegre, dizendo que bebeu apenas leite na rua. Convenhamos: o nome só podia ser “Bilk” mesmo, considerando a versão norte-americana.
Um jantar por 53 mil reais. Sim, o equivalente a US$ 25 mil por pessoa. Esse jantar aconteceu em Bangkok, Tailândia, no dia 10 de fevereiro, no mais alto edifício da Ásia, a “Torre do Estado”. Seus chefes, cada um com estrelas do Michelin (quatro da França, um da Itália e um da Alemanha) elaboraram o cardápio, com pratos complexos, como bife de Kobe com caviar Beluga Imperial e ostras de Belon (da Bretanha, França).
O chef Antoine Westermann, do Le Buerhiesel, um classudo restaurante em Strasbourg, França, preparou 100 gramas de trufas do Perigord, França, (mais um menos R$ 750 a porção) para cada prato do seu “Coquille Saint-Jacques e trufas”.
O celebrado chef Alain Soliveres, do Taillevent, Paris, ofereceu uma de suas especialidades: creme brûlée de foie gras, devidamente acompanhado por um champagne Cristal safra de 1990 (que vende mais ou menos por R$ 1.100,00 a garrafa, isso lá fora). Mas esse foi um dos vinhos mais baratos do jantar.
Os convidados, cerca de 40, puderam experimentar safras lendárias, como o Romanee Conti 1985, o Château Mouton-Rothschild 1959, o Château d’Yquem 1967, o Château Palmer 1961 (esse, considerado um dos maiores vinhos do século 20). Só esse vinho custou US$ 200 mil (duzentos mil, eu disse) a garrafa: quase meio milhão de reais. E dez garrafas dessas foram servidas.
Os chefs submeteram suas listas de ingredientes aos organizadores do ágape (como falava meu querido pai) para que fossem remetidos bem frescos e com a qualidade desejada: as trufas negras, o foie gras,as ostras e lagostas vivas da Bretanha, da França. O caviar da Suíça e as trufas brancas da Itália.
Um professor médio no Brasil (da 4ª. à 8ª. série) levaria uns 10 anos para pagar esse jantar, considerando que o salário médio anual de um professor seja de uns R$ 10 mil. Tem o salário, impostos e todas as demais despesas a que nos submetemos.
Os organizadores disseram que o jantar foi feito para promover o turismo na Tailândia e que a maior parte dos lucros seria dirigida a dois programas de caridade organizados pelo soberano do país.
Entre os convidados, a maioria originária da lista dos 500 mais ricos do mundo da Fortune, o dono de um cassino em Macau e o proprietário de um hotel em Taiwan. Mas, como em casos anteriores aqui nessa coluna, seus nomes não foram revelados.
Dos chefs que não citei, temos: Jean-Michel Lorain, La Cote Saint Jacques, em Joigny, França (que serviu uma lagosta “Osso Buço”). Vinho: Romanee-Conti 1985.
Annie Feolde, a única mulher do grupo, da Enoteca Pinchiorri, Florença, Itália; Marc Meneau, de “L’Esperance”, em Vezelay, França; Heinz Winkler, do Residenz Heinz Winkler, em Aschay, Alemanha.
A maioria dos chefs achou tudo isso um desperdício, uma aberração. A mesma coisa que você e eu acharemos se tentarmos pagar a conta em seus restaurantes.
Vinho e Romance. O que pensam solteiros e solteiras da América a respeito de vinho e romance? Pois o Escritório do Vinho da Austrália e o Match.com, site líder de encontros em todo o mundo fizeram uma pesquisa envolvendo 2.300 entrevistados em todos os Estados Unidos.
Descobriram que 62% deles acreditam que a escolha da bebida feita pelo seu par é um forte indicativo do seu estilo de vida, enquanto 52% acham que é indício da personalidade.
E aí entra o ponto importante: mais de sete entre 10 pesquisados (72% do total) concordam que conhecimento sobre vinhos tornar o parceiro ou parceira sexualmente mais atraente.
Está na hora da amiga se inscrever de algum curso de vinhos.

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