24.4.07

Os bons vinhos de Bento

Não me espantei quando li que o Papa Bento XVI, nos três dias em que ficar hospedado no Mosteiro de São Bento, em São Paulo, provará do bom e do melhor dos vinhos da América do Sul. A surpresa não aconteceu porque tão logo foi empossado, em 2005, o Papa foi nomeado sommelier honorário pela Associação Italiana de Sommeliers, em Roma. Talvez porque tenha comparecido a uma cerimônia de iniciação da Associação (quando recebeu um tastevin de prata – aquele pequeno prato de metal usado para a prova de vinhos) ou porque se proclamara “um humilde servo no vinhedo do Senhor”, no discurso de posse. Veja a nota da decanter.com sobre essa nomeação aqui.
Entre os vinhos que provará, selecionados e doados pela importadora Expand, figuram um brasileiro, o Rio Sol, seguindo-se chilenos e argentinos e um uruguaio.
O Papa chega a Guarulhos, São Paulo, na tarde do dia 9 de maio. Vai de helicóptero para o Campo de Marte e de lá, no papamóvel, para o Mosteiro de São Bento, onde fica até o dia 11, cumprindo uma intensa agenda. Depois, segue para Aparecida.
Nesses três dias, de 9 a 11, o Papa e sua comitiva poderão provar de vinhos de grande qualidade. Vamos a eles.
Da Vinibrasil, temos o Espumante Rio Sol Brut 2005, o Rio Sol Rosé 2006, o Rio Sol Reserva Assemblage 2005 e o Espumante Rio Sol Moscato Cannelli 2005.
Do Chile, a Expand selecionou o Arboleda Chardonnay 2005, o Seña 2001 (ambos do produtor Eduardo Chadwick), o Amelia Chardonnay 2005 Casablanca Valley, o Late Harvest 2003, ½ garrafa, e o Don Melchor 2001 (esses três da Concha Y Toro).
Da Argentina, o Trivento Brut Nature (da Trivento), o Zuccardi Q Chardonnay 2004, o Malamado 2003 (ambos da Familia Zuccardi) e o Perdriel del Centenário 2003 (Bodega Norton).
O Uruguai comparece com o Botrytis Noble 2003 (da Juanico).
O Rio Sol, eleito pela revista Gula o melhor dos nacionais em 2006, é, até agora, o único vinho brasileiro provado pela Wine Spectator, pois a revista americana focaliza basicamente vinhos disponíveis no mercado americano.
O que a revista chama de Rio Sol Parallel 8 2004 recebeu 83 pontos. O Rio Sol Reserva 2004 ficou com 81. Nada mal. Na escala de 100 pontos da revista, as notas de 80 a 84 correspondem a “vinhos bons, sólidos, bem feitos”.
Mais importante do que os pontos da WS, foi a recomendação que o Rio Sol recebeu da inglesa Decanter, no Decanter World Wine Awards de 2005. O Rio Sol Reserva 2003 ficou entre os vinhos recomendados. Dos 5.200 rótulos que concorreram apenas 61% receberam prêmios. Desses, 3% ficaram com medalhas de ouro, 12% de prata, 25% de bronze e 21% recomendados. O vinho é produzido no Paralelo 8 (sua rolha traz esse número): Município de Lagoa Grande, Petrolina, Pernambuco, às margens do Rio São Francisco, sol o ano inteiro. O Rio Sol, que já coleciona muitos prêmios, é hoje exportado para mais de 20 países. Olha que ele integra a lista de vinhos do luxuoso Burj Al Arab, aquele que tem o formato de uma vela, considerado talvez o mais luxuoso hotel do mundo, em Dubai, nos Emirados.
A Expand sentiu-se à vontade de incluí-lo nessa lista, pois a ViniBrasil é resultado de uma parceria dela com a Dão Sul, um grupo português que produz e exporta vinhos.
O chileno Seña 2001 foi um dos ganhadores da Cata de Berlim. Ora, amiga, essa Cata de Berlim foi nada mais, nada menos do que uma reedição do lendário Julgamento de Paris, confronto entre vinhos premium californianos e franceses, em 1976, em Paris, pelos maiores críticos de vinhos do mundo. Foi criada e organizada por Steven Spurrier, editor da Decanter, e resultou na consagração dos vinhos da Califórnia.
Em 2004, o vinicultor chileno Eduardo Chadwick resolveu fazer a mesma coisa, com o mesmo Spurrier na organização. Chadwick é presidente da Viña Errázuriz, proprietária das vinícolas Errázuriz, Seña e do Viñedo Chadwick. A degustação foi feita em Berlim. E o primeiro lugar ficou com o Viñedo Chadwick 2000, seguido pelo Seña 2001 e pelo Lafite 2000.
Em tempo: Cata é um termo enológico espanhol, que significa a avaliação analítica e objetiva do vinho. É com freqüência confundida com degustação, muito mais subjetiva e menos sistemática.
Outro destaque é o Concha Y Toro Cabernet Sauvignon Puente Alto Don Melchor 2001, 95 pontos (de 100) da WS.
Já o Familia Zuccardi Chardonnay Mendoza Q 2004 vem de uma vinícola que acaba de receber medalha de ouro no concurso Primeiros Vinhos da Argentina (entre os 12 jurados a Master of Wine inglesa, Jancis Robinson, uma das mais importantes críticas de vinho do mundo). O “Q” de seu nome quer dizer, muito justamente, “Qualidade”.
É bom que os Papas tenham começado a viajar. Antes, ficavam limitados a Roma e a vinhos muito simples. Inocêncio X (1574-1655) e Gregório XVI (1765-1846) adoravam o refrescante Frascati (corte de Malvasia com Trebbiano), vinho originário da região em volta da cidade de mesmo nome, vizinha de Roma.
Antes, quando o papado transferiu-se em 1309 de Roma para Avignon, na margem esquerda do rio Ródano, sul da França, novos e saborosos vinhos puderam ser saboreados pelos sete papas que lá ficaram (de 1309 a 1377). Mas era chover no molhado, pois todos os sete eram franceses e acostumados aos vinhos da terra.
O primeiro deles, Clemente V (1305-1314) ordenou o plantio de vinhos na região. Dele vem o nome do famoso Château Pape-Clement, de Bordeaux. Mas acredita-se que foi seu sucessor, João XXII quem desenvolveu o vinhedo papal em Châteauneuf-du-Pape (“Castelo Novo do Papa”), desde o século XIX o vinho mais importante do sul do Ródano.
No dia 11 de maio, depois da canonização de Frei Galvão, o Papa segue para Aparecida, onde fica até o dia 13, quando retorna a São Paulo e embarca para Roma.
Não tenho dúvidas que a Expand manterá o Papa e sua comitiva abastecidos desses excelentes vinhos até o final da visita.
Em sua missa inaugural, na Praça de São Pedro, no Vaticano, Bento abençoou vinhos trazidos por católicos da Hungria, Croácia, Quênia, Burquina Faso, Itália, China e Peru. Agora, certamente abençoará os do Cone Sul.
Pena que não esteja ao seu alcance promover uma nova multiplicação dos vinhos, já que é apenas “um humilde servo no vinhedo do Senhor”. Também somos, mas só nos resta ficar por aqui lambendo os beiços.
Se quiser saber mais sobre os vinhos do Papa é só falar com a Sandra Schkolnick ou a Laís Bastos, da Suporte Comunicação (sandra@suportecomunicacao.com.br).
Sobre a agenda de Bento XVI, visite o site oficial da visita.
Sobre os vinhos da Expand, veja aqui.

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