22.5.07

A bola da vez

Jornais e revistas estão cheios de matérias sobre vinho. Pode ser o efeito do inverno chegando. Mas acho que já deu pra todo mundo notar que a bebida está ficando mais democrática, mais acessível e, mais importante, caindo no gosto de todos, não importam as estações, pois temos vinhos para todas elas.
Uma longa e ótima matéria é a que li agora na Época. Seu título destaca que o vinho agora é o rei do supermercado e que deixou de ser um produto das elites para ser adotado pela nossa classe média. Veja toda a matéria aqui.
Em todo o mundo, o vinho vai abraçando não apenas todas as classes sociais, mas também todas as faixas de idade. Sim, o que tenho lido por aqui versa mais sobre o maior acesso da classe média aos vinho, até então considerada bebida só acessível aos mais endinheirados e mais maduros de idade.
Mas isso vem mudando em todo o mundo. A Vinexpo, organizadora, da maior feira do vinho do mundo, realizada a cada dois anos em Bordeaux, realizou uma pesquisa entre jovens em idade legal de beber, em vários países. E seus resultados mostram que esse público importantíssimo está muito interessado nos vinhos, mas precisa de maior atenção por parte dos produtores.
A pesquisa reuniu 100 bebedores ocasionais de vinho, na faixa de 20 a 25 anos. Recrutou gente de Londres, Paris, Bruxelas, Nova York e Tóquio – 20 de cada cidade para discussões em grupo. (Acho essa amostragem pequena; a revista Decanter, inglesa, realizou outra, semelhante, mas com 500 jovens, entre 18 e 15 anos).
O que pensam os jovens entrevistados pela Vinexpo?

Que o vinho tem uma imagem saudável; que não é uma bebida para jovens; quem bebe vinho quase sempre tem um emprego (?). Todos querem que a imagem do vinho seja mais jovem e que o mito seja retirado da cultura envolvendo a bebida.
Preferem vinhos varietais, que sejam “leves e frutados”, que sejam menos confusos e fáceis de comprar. As centenas de possibilidades de escolha, os vários estilos, os rótulos complicados e a imagem “pomposa” dos vinhos os confundem e desencorajam.
Para esse grupo o vinho é um lubrificante social, uma fonte de prazer sem culpa.
Esse “prazer sem culpa” é explicado melhor pela pesquisa da Decanter, onde os jovens afirmaram que o vinho não é o culpado pelo “beber até cair” (um problemaço na Inglaterra: a turma não sai para beber socialmente, sai para tomar porre).
E, bem mais importante, que "a responsabilidade por beber adequadamente é dos pais e não do governo". Olha que são os próprios jovens ingleses falando.
Isso pode até ser uma boa dica para o movimento Propaganda sem Bebida, (do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo e da Unidade de Álcool e Drogas da Universidade Federal de SP). O movimento já recolheu 700 mil assinaturas para motivar o Congresso Nacional a aprovar lei que proíba a publicidade de bebidas alcoólicas (tal como a de cigarros).
Educação começa em casa, como sabemos. Nos pubs ingleses é comum proibir a entrada de crianças e cachorros. Proibição funciona? Olha só o exemplo da Lei Seca americana, entre 1920 e 1933. Os Al Capones da vida adoraram.
Mas voltemos às pesquisas. A da Vinexpo me parece um tanto banal. Anotei respostas bobas como “Vinho nos ajuda a participar das festas”; “Uma taça de vinho ... “É bonita pelo seu brilho ... brilho dourado ... vermelhos densos como veludo...” E, do Japão, veio essa: “Virou moda oferecer à namorada uma garrafa de vinho feito no ano em que ela nasceu”.
Mais importante para mim, considerando os jovens, é uma pesquisa informal reunindo 181 estudantes da Columbia Business School, feita recentemente pelo diretor da revista Wine & Spirits, Philipe Newlin. Esse grupo tinha entre 26 e 30 anos.
Eis algumas respostas:
Imagem: 86% dos respondentes acham a imagem do vinho “sofisticada” (contra 5% que julgam “legal” e “na moda”, e 5% que consideram “esnobe”, “elitista”).
Saúde: a maioria concordou que o vinho é uma escolha mais saudável, mas 65% acham que a preocupação com a saúde não é o que promove a sua escolha por beber vinhos.
Freqüência: 65% declaram beber vinho de 2 a 4 vezes por semana. Apenas 6% afirmam beber uma taça diariamente.
Recomendações: compram vinho a partir do boca-a-boca: recomendações de amigos, em particular.
Social: 39% dos pesquisados apontam os restaurantes como o principal lugar onde bebem vinho. Seguem-se reuniões com amigos.
Varietais: Os tipos de uvas são a primeira coisa que 35% olham nos rótulos quando compra vinhos. Seguem-se o país de origem e o preço. A marca do vinho (por exemplo: “Miolo”, “Chateau de tal”) são é importante para 2%.
Média de gastos: garrafas entre US$ 15,00 e US 20,00 (há dois anos, numa pesquisa idêntica, na mesma Columbia, os jovens gastavam um pouco menos: entre 10 e 15 dólares).
Educação: 61% acreditam que beberiam mais vinho que conhecem mais sobre a bebida.
Porque bebem: 80% bebem vinho porque dão mais ênfase à qualidade do que à quantidade da bebida.
Temos aqui, por exemplo, que esses jovens aceitam mais recomendações de amigos e do seu círculo social do que dos críticos, da mídia. Os críticos estão distantes, já os amigos estão logo ali. Você pode dividir um vinho com eles, bater um papo. A bebida foi feita para isso.
É esse o grupo que fez do vinho a sua bebida preferida, tomando o lugar da cerveja, nos Estados Unidos.
Carlos Cabral, diretor de vinhos dos supermercados Pão de Açúcar, revela que “o vinho se tornou um item comum no carrinho da classe média”. As vendas dessa rede crescem 20% ao ano. "O vinho está substituindo o refrigerante no almoço de domingo e a cerveja à beira da piscina. E se tornou protagonista de uma das maiores explosões de consumo em curso no Brasil", diz Cabral.
Tenho certeza que esses jovens adultos (25-30 anos) já estão nesse trem há tempos. Tive loja de vinhos em Itaipava e testemunhei a presença dos jovens. Em 2000, quando o Periquita completou 150 anos, compramos umas 20 caixas. 80% desse vinho foram consumidos por jovens. Era julho, frio na Serra. Entravam na loja, compravam uma ou duas garrafas levavam o vinho para suas festinhas. A turma mais velha olhava o Periquita com superioridade. Azar o deles. Escolhiam pelo preço (maior).
Que os jovens precisam saber mais é o óbvio ululante. Vale para todas as gerações. Todas nós já passamos por isso. Gostamos da bebida e fomos à luta para saber mais, não importando a chuva, vento e poeira que pegamos. Está valendo à pena.O vinho é ou não é a bola da vez, leitora?

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