17.5.07

Cianidina ou Pinot Noir?

Sobre vinho e saúde, temos uma nova estrela. Não, dessa vez não é o resveratrol. A boa novidade tem um nome complicado: Cianidina-3-ramnosídeo, uma antocianina, um pigmento que vai do roxo ao azul encontrado largamente em frutas e vegetais.
A cianidina é o tipo mais comum de antocianina. No caso dos vinhos, é o elemento químico que fornece a cor vermelha das cascas das uvas e da própria bebida. Em particular, a Cianidina-3-ramnosídeo (C-3-R, para os íntimos), protege a fruta (no caso, a uva) das radiações ultravioletas. Possui também qualidades antioxidantes, entre elas a de prevenir de certos tipos de cânceres.
O pessoal do Departamento de Patologia da Escola de Medicina da Universidade de Pittsburgh, na Pensilvânia, responsável por esse estudo, testou a C-3-R em vários tipos de leucemia e de linfomas.
Todas as células cancerosas morreram em 18 horas e até em menos tempo. E, melhor ainda: nenhuma das células normais (não atacadas por esses dois tipos de câncer) foi danificada ou intoxicada.
Os testes continuam, mas parece que, agora, os cientistas identificaram um novo aspecto positivo para beber-se vinho tinto. Não apenas ele vai ajudar na digestão, um delicioso companheiro das comidas, como pode ser chave para um coração mais saudável. É agora um possível preventivo para o câncer e talvez um eliminador de quimioterapias.
Só tem um porém: sabe-se que os níveis de C-3-R utilizados para eliminar leucemia e linfoma, segundo o referido estudo, são muito grandes. Teríamos que beber garrafas e mais garrafas de vinho. Portanto, não saia correndo para as lojas e gaste todas as suas economias em caixas de vinho. Há sempre o risco de uma cirrose hepática.
Certamente, esse trabalho vai resultar em fórmulas que a indústria farmacêutica disponibilizará nas doses apropriadas. Enquanto isso, quem quiser driblar futuros problemas pode continuar a beber o seu vinho tinto, sabendo que a C-3-R vai atingir células de nosso corpo e talvez prevenir doenças que silenciosamente tentam se conjurar.
O que sabemos, por estudos da Universidade da Califórnia (Davis) é que algumas varietais, de algumas regiões, produzem quantidades maiores de antioxidantes. Em particular, a Pinot Noir foi identificada como possuidora de grandes quantidades da C-3-R e de resveratrol. As regiões são o Oregon, nos Estados Unidos, e a Borgonha, na França, sempre áreas mais frias, portanto.
Cuidado. Mas temos que considerar que esses suplementos ainda não foram devidamente testados. Sabe-se que esses antioxidantes do vinho possuem importantes atributos.
Publiquei aqui, há tempos, uma pesquisa feita pelo Instituto Nacional de Saúde sobre Envelhecimento, nos Estados Unidos. Alimentaram camundongos com uma dieta de muita gordura (que poderia levar a diabetes e doenças do coração). Após engordarem bastante, alguns desses animais receberam mega-doses de resveratrol.
Os camundongos que não receberam o antioxidante, farto nas uvas e vinhos tintos, contraíram várias doenças e morreram rapidamente.
Os tratados com resveratrol não desenvolveram quaisquer doenças e viveram tanto quanto os animais alimentados com uma dieta sadia.
Quando isso foi noticiado, a indústria farmacêutica jogou no mercado vários suplementos alimentares com base no resveratrol. E as vendas explodiram.
Mas o médico Felipe Sierra, envolvido na citada pesquisa, alerta que o trabalho, nesse estágio, “não significa nada para as pessoas, pois não sabemos o que acontece com o resveratrol em nossos corpos. Nosso metabolismo é diferente dos camundongos”.
O resveratrol é um componente natural encontrado nos vinhos tintos que se provou bom para a nossa saúde, mas as quantidades ministradas aos bichinhos foram exorbitantemente altas, bem mais do que qualquer pessoa possa consumir.
Câncer nas tampas de metal? Poderia escrever o ano todo sobre vinho e saúde: não há semana em que não leia alguma coisa a respeito sobre a face saudável do vinho. Porém, não faltam notas alarmantes.
No início de maio, um crítico de vinhos neozelandês, Keith Stewart, afirmou que há uma relação entre o um selo de plástico utilizado nas tampas de rosca metálica, (cada vez mais adotadas principalmente na Nova Zelândia) e o câncer de mama.
O tal selo é feito de um tipo de plástico, o PVDC, utilizado como uma camada para melhorar a impermeabilização de uma vasta gama de embalagens (inclusive garrafas) de alimentos e bebidas. É uma barreira contra oxidação, vapores, aromas e gases. Segundo o crítico, o PVDC seria um dos elementos químicos que afetam o sistema endócrino e impedem que os hormônios cumpram suas funções no corpo humano.
Só tem um detalhe: a indústria vinícola da Nova Zelândia solicitou em peso que Stewart apresentasse os estudos que o levaram a criar a nota. Imploraram que citassem os vinhos contaminados por esse selo nas roscas metálicas.
E o crítico até agora não apresentou qualquer evidência. Diz que sabe dos riscos desse tipo de selo desde 2003 e que a indústria neozelandesa não está pesquisando o bastante sobre esse tipo de tecnologia (as tampas de rosca metálica).
O caso é que a maioria de garrafas com tampa de rosca metálica utiliza desse selo há muitos anos (na maioria dos destilados: uísques, gins, vodcas etc.) e até hoje não se registraram casos de câncer.
O crítico diz que os casos de câncer de mama na NZ aumentaram 98% nos últimos 50 anos. “Mais ainda agora que as mulheres são as maiores compradoras de vinho e os principais alvos da campanha em prol das tampas metálicas”, afirma.
Diz ainda que existe evidência científica contra o PVDC e que se deve alertar contra beber-se vinho em garrafas de tampa metálica. Em tempo: 80% do vinho neozelandês e quase que 100% do seu Sauvignon Blanc estão em garrafas com esse tipo de tampa.
Só que as provas ainda não foram apresentadas. Alarmar apenas por alarmar também faz mal à saúde.
O que faz bem? E alarme é também o que acontece quando descobrem mais algum benefício no vinho e todos saem correndo atrás da bebida ou de seus suplementos.
Acho melhor é seguir o conselho do médico Stuart Seides, cardiologista do Washington Hospital Center. Ele acha que devemos parar de buscar no vinho outra coisa que não seja o prazer pela bebida.
“Meu conselho é economizar dinheiro e, em vez de suplementos alimentares, comprar uma boa garrafa e desfrutá-la aos poucos nas refeições”.

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