14.8.07

Imagine um vinho

Se em vez de números, estrelas, palavras estruturadas a partir de um dialeto particular, a linguagem dos críticos, dos especialistas. Se em vez de tudo isso nos mostrassem apenas uma imagem, como a do girassol num novo blog? Pois agora, um pessoal do sul da Califórnia criou uma revolucionária maneira de comentar vinhos.
Conheça um dos mais intrigantes blogs sobre vinhos, o Château Petrograsm, um jeito impressionista e inédito de abordar a bebida.
Podemos olhar para a foto do girassol acima e imaginar como foi avaliado o vinho a que está associada, no caso, o Summerland Chardonnay 2005, da Vinícola Bien Nacido. Uma representação de sua cor, do seu frescor, capaz de nos dar prazer num dia de muito sol e calor, suas frutas maduras, uma presença marcante, a lembrança que deixará em nosso paladar, sua forma solar revelando todo o seu alcance e potência.
Achava que já tinha visto de tudo em termos de avaliações, das pioneiras estrelas do Guia Michelin, até as escalas numéricas, de um a cinco, de um a 10, a 20, até 100; polegares para cima ou para baixo, inclusive em forma poética, como faz Lane Steinberg e seus haiku.
Recentemente, a Michelle Lentz, do seu blog Wine-Girl lançou uma escala com as carinhas (ou “emoções”, como quer o Messenger), que vai da mais sorridente, passa pelas sérias ou neutras até chegar à mais triste. Veja aqui.
Tanto o Lane Steinberg quanto a Michelle se recusaram a juntar vinhos com números, optaram pela poesia num caso ou pela imagem caricatural e bem humorada em outro.
O fundador do Château Petrograsm, Benjamim Saltzman, diz que seu objetivo é relaxar os padrões das resenhas de vinho e equilibrar pragmatismo com diversão de modo a que mais pessoas possam desfrutar dos prazeres de beber (vinho) e dividir essa experiência.
“Quando tentamos descrever um vinho encontramos problemas. Primeiro, como se parece o vinho? É certo, eficiente dizermos que o vinho possui uma cor que lembra a de um prego enferrujado? Ou devemos simplesmente reproduzir essa cor (que certamente vai variar, dependendo da luz sob a qual o vinho será consumido)?
“Não importa quanto de esforço utilizamos para tentar reproduzir um vinho (seja por palavras ou por alguma forma de arte), sempre faltará alguma coisa. Por isso, nada substitui uma prova de vinho. É isso que torna falidas as tradicionais resenhas e, ao mesmo tempo, faz do vinho um grande prazer”.
Falidas, falsamente esnobes (esnobe de verdade foi Oscar Wilde, um autor genial), afastando o leitor dos verdadeiros prazeres do vinho. Vejam só um exemplo, enviado pelo amigo Roldão Simas. E um tópico sobre o tinto alentejano Vinhas da Ira 2004, da Herdade da Mongorra:
Completamente opaco no centro, com curtíssima auréola de tons rubis/violeta, quase imperceptível. Nariz em evolução, de média a elevada intensidade, com um aroma super definido: feijão verde recém cozido. Abanando o copo aparece alguma cera e suave químico. Muito original e ganha pontos por isso. Boca de acidez média a elevada, a dar um toque de classe ao conjunto. Muito encorpado, mas curiosamente mais firme que rechonchudo. Taninos em elevada presença, algo incisivos, Fruta suficiente, em média+ quantidade, do tipo silvestre, muito bem combinada com o interessante sabor de feijão verde que também aparece na boca. Algum eucalipto e chocolate preto. Final de média+ persistência, com personalidade original, pecando apenas pela sensação de alguma secura devido à supremacia dos taninos.
(Publicado na revista portuguesa
Blue Wine, de 9 de fevereiro último).
A revista diz, no seu site que “pretende juntar à sua volta todos aqueles que sintam paixão pelo vinho e que queiram viver melhor através da partilha de bons momentos”.
Sim, o vinho é isso: paixão, viver melhor, partilha de bons momentos.
Mas... opaco no centro, com curtíssima auréola...nariz em evolução, feijão verde recém cozido, alguma cera, boca de acidez média a elevada, mais firme que rechonchudo...?
Isso me afasta da idéia de um gole relaxado e prazeroso, me distancia do Vinhas da Ira.
E isso é tudo o que o Château Petrograsm não faz. Ele avalia e descreve vinhos afastando-se dos métodos tradicionais de resenha (como é o exemplo do Blue Wine acima).
O pessoal do site utiliza cores, desenhos, fotografias e outras mídias visuais de modo a transmitir tanto os componentes intrínsecos de um vinho em particular além de uma impressão geral do mesmo. “Vinho é arte, bebê-lo deveria sê-lo também”, afirma seu fundador.
“Se vinho é uma forma de arte, então falar sobre ele deveria ser como descrever uma pintura. Logo, pode parecer duvidoso submeter uma pintura como resenha de outra pintura”.
Porém, explica Benjamin Saltzman, “desde que o prazer que temos pelo vinho retrata claramente uma experiência subjetiva, ela não pode ser descrita apenas por palavras. Usando arte abstrata de transmitir tanto a experiência de beber quanto a impressão de um vinho podemos ir além dos limites das palavras. E se um vinho cheira como mel, então precisamos fazer com que esse mel marque a nossa imaginação e, portanto, a imagem utilizada”.
No Château Petrograsm as palavras mais importantes utilizadas são aquelas inscritas nos rótulos das garrafas resenhadas, não importa de que países se originam. Assim, eles conseguem vencer até a barreira dos idiomas, meramente utilizando imagens.
Posso concordar que esse modo “impressionista” de resenhar vinhos pode não ser tão preciso quanto uma boa descrição escrita. Contudo, como já argumentou Saltzman, a palavra escrita não consegue descrever completamente o vinho em função da natureza subjetiva que vinho tem sobre cada um de nós.
Seria como uma recriação do famoso Teste de Roschard, onde, no caso, somos levadas a interpretar imagens que, sabemos de antemão, podem nos levar a prazeres ou decepções escondidas em algumas garrafas.
É um trabalho de desconstrução, um divertido exercício intelectual, quando paramos para considerar as implicações e significados das imagens sem qualquer ajuda de palavras, de legendas.
Um bom exercício para nossas mentes e melhor ainda para nossos espíritos.
Faça um teste agora, amiga: o que está pensando do girassol lá de cima. Ou melhor, do Summerland Chardonnay 2005?
Da Adega
Mundvs Malbec 2006. Não é da Argentina que vem o melhor Malbec? Pois a Casa Valduga criou um Malbec, sob controle e supervisão do enólogo da família, João Valduga, na localidade de Lujan de Cuyo, Mendoza, um dos melhores redutos dessa variedade. E, assim, o Mundvs Malbec 2006 já está à venda no Brasil.
João Valduga adianta que o vinho apresenta um bouquet elegante, lembrando especiarias e intensas notas de frutos vermelhos, com destaque para ameixas e amoras, e toques de coco e frutas vermelhas, corpo robusto, com acidez equilibrada, taninos maduros e intensa persistência gustativa.

Nenhum comentário: