8.1.07

Enquanto Nero canta

Quanto aos vinhos, quais seriam as notícias mais importantes de 2006, aquelas que talvez tenhamos de volta em 2007?
Para mim, a mais importante continua sendo o que lemos sobre o aquecimento global, definitivamente afetando vinhedos em ambos os hemisférios. Se o vinho revigora e refresca, nós, humanos, conseguimos alterar a composição da atmosfera, aumentando os níveis de gases como o dióxido de carbono, o metano, o óxido de azoto e os clorofluorcarbonos (usados em aerossóis e geladeiras). Eles danificam a camada protetora de ozônio e agem também como gases do efeito estufa, absorvendo a luz do sol levando ao aquecimento do planeta. Prevê-se um aumento de 2 a 6º C para os próximos 100 anos, maior do que qualquer aumento de temperatura registrado desde o aparecimento da civilização na Terra. Caso essa emissão de gases não seja controlada, iremos provavelmente assistir às maiores catástrofes naturais já registradas no planeta. E somos nós os responsáveis por esse desastre, segundo o Painel Intergovernamental sobre a Mudança de Clima (IPCC). Veja aqui.
Vai haver mudança de toda a ordem. O desaparecimento das neves das montanhas diminuirá a quantidade de água disponível para uso doméstico e para irrigação. Isso já acontece nos Andes e começa a afetar Mendoza, Montreal e a Califórnia e os vinhos dessas regiões.
Os canadenses se preocupam com o seu Icewine, o “vinho de gelo”, cujas uvas devem ser colhidas sob a neve, congeladas a abaixo de menos 8º C. Está difícil colhê-las esse ano. No Alasca e no Pólo Norte, geleiras e calotas estão derretendo.
As produções agrícolas em áreas frias podem até aumentar, enquanto as de áreas quentes ou secas podem diminuir. Teremos problemas de alimentação – num momento em que a população mundial está aumentando, o que causará impacto ambiental ainda maior (com mais recursos consumidos e mais rejeitos descartados per capita). O aumento do nível dos mares como resultado do derretimento de neve e gelo trará perigos de inundação e erosão de planícies costeiras. Não só o aumento das águas, mas o seu aquecimento, com as conseqüentes tempestades, furacões.
O aquecimento global não é assunto passageiro, veio para ficar. Há de se tomar atitudes firmes para resolvê-lo ou pelo menos atenuá-lo. Ele apresenta riscos reais para a todo o planeta, não apenas para o mundico dos vinhos.
Ah, diria o otimista: isso vai ser bom, pois poderemos ter vinhos na Suécia, tintos na Inglaterra, na Alemanha. Ah, os novos Cabernets, Merlots, Chardonnays etc. Soa a Nero cantando diante de Roma incendiada. Voltaremos com outros fatos de 2006 que ainda não se resolveram.

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