22.1.07

Tampar com o quê?

Claro que em 2007 continuarão chovendo notícias sobre qual a melhor tampa para vinhos: a de cortiça, a sintética ou a rosca de metal, entre outras? As torcidas, nesse campo, se dividem basicamente entre as tampas de cortiça (a turma mais tradicional, do Velho Mundo) e as de roscas de metal (o grupo do Novo Mundo, em particular, da Nova Zelândia, Austrália e Estados Unidos). Como diz a renomada Jancis Robinson: estão fazendo uma guerra santa em torno do assunto.
Ao retirar a rolha, sentimos um cheiro forte de mofo, de “papelão molhado”, de “cachorro molhado”. É a “doença da rolha”, que o francês chama de “bouchonné” (“odor de rolha”). A rolha é um produto orgânico, originária de um tipo de carvalho, o Quercus Suber. Na maioria dos casos, o problema se origina de um elemento químico, o TCA (2,4,6-trichloroanisole), identificado em 1982 na Suíça e que pode ter originem na própria árvore, nos barris, onde quer que haja madeira e produtos à base de cloro, utilizados em limpeza, inclusive das rolhas. A turma pró-cortiça estima que entre 1 e 2% das rolhas ficam contaminadas, em todo o mundo. Já para o pessoal pró-roscas o número é, claro, maior: até 15%. Mesmo que fiquemos no meio, 7%, o prejuízo é enorme, em termos da imagem dos vinhos e das garrafas perdidas. Daí a procura por outro tipo de tampa.
Na Nova Zelândia, 70% dos seus vinhos já são selados com as roscas metálicas. Os principais argumentos são que elas eliminam tanto o risco de TCA quanto o da oxidação, impedem a alteração no sabor; são próprias para o envelhecimento tanto dos vinhos brancos como dos tintos e podem ser armazenadas na vertical. Só que até agora ninguém sabe, com certeza, como ficará o sabor de um Château Margaux depois de 50 anos com uma tampa de rosca metálica. Com a cortiça já se sabe: continuará maravilhoso (se não acontecer o TCA).
Para esquentar o debate, descobriu-se agora que os vinhos com tampas de rosca também podem se transformar em “bombas de mau cheiro”. Análises feitas pela londrina International Wine Challenge (que testa cerca de 9 mil vinhos por ano) verificaram que 2,2% de garrafas com as roscas metálicas foram afetadas por sulfitização – uma reação química causada pelo uso em excesso de sulfitos (usados para conservar o vinho, prevenir a sua acidificação e enaltecer a sua cor) e a falta de oxigênio. Nota o IWC que 4,4% das garrafas com cortiça, neste teste, também tinham problemas com os sulfitos, minorados porque as rolhas permitem a entrada do oxigênio na garrafa, reduzindo o mau cheiro (de ovo podre, borracha ou fósforo queimados).
Assim, nesse momento o jogo está empatado. Vamos esperar e, como recomenda Jancis Robinson, jogar um balde de água fria sobre o assunto.
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