30.1.07

Esse vinho contem peixe

Volto aos rótulos de vinho, um potencial bafafá para 2007. É dos Estados Unidos que vem a onda. Lá, desde os anos 80, os rótulos são obrigados a alertar sobre a presença de sulfitos, sobre os riscos de beber durante a gravidez e de beber e dirigir. Mas, como já dissemos, há disposição em também impor menções aos alérgenos (ou alergênios, agentes capazes de produzir alergia). Saia curta para o produtor norte-americano, que está proibido de colocar uma menção sequer sobre os benefícios do vinho para a saúde. Assim, é fácil prever que os rótulos terão grande destaque esse ano.
Sulfitos (um derivado do dióxido de enxofre, que existe livre na natureza) o nosso próprio corpo produz uma grama por dia, em média. Utilizado desde os tempos dos gregos, são vitais na conservação dos vinhos. Todos os vinhos contêm sulfitos, produzidos naturalmente durante a fermentação. O produtor acrescenta mais, ao final, de modo a garantir que a bebida chegue a salvo às prateleiras. Nos EUA e aqui, o limite máximo é de 350 mg por litro. Na Europa, desde 2005, é obrigatória a menção. Na Austrália e Nova Zelândia também. De fato, eles podem ser um mal para os asmáticos. Mas peixes, camarões, também recebem esse tratamento (o industrializado). Frutas também, em particular as secas. Só não vi os alertas.
Praticamente, quase todos os produtores de vinho em todo o mundo acrescentam sulfitos. E os alertas no rótulo já existem. Acontece que, segundo pesquisas, a média de sulfitos dos vinhos em todo o mundo é de 80 mg/litro, bem abaixo do requerido pelas várias leis dos países citados.
Porém, o pessoal da saúde dos EUA quer mais: menções claras sobre outros alérgenos contidos nos vinhos. Assim, a cola de trigo (usada às vezes para selar os barris de vinho), as claras de ovos, a gelatina de peixe, a caseína (proteínas do leite) empregadas na clarificação do vinho deverão aparecer nos rótulos. As claras dos ovos, por exemplo, atraem e fixam impurezas e as carregam para o fundo do barril, com perda mínima de cor ou sabor para o vinho. Essa é a ação desses alérgenos: aglutinar partículas resultantes de todo o processo e ir para o fundo do barril. São em seguidas filtradas e temos o vinho claro, límpido, livre dessas partículas. E livre também desses alérgenos. O que eventualmente poderia chegar à nossa mesa é desprezível, no entender dos produtores.
O pessoal da saúde de lá não concorda. E, assim, o produtor fica temendo que, fora a grande despesa que terão em mensurar a eventual quantidade de alérgenos em cada garrafa, os consumidores desistam de um vinho com um aviso de que ele contém cola de peixe, por exemplo. Não é pra menos.
É muita aflição regulatória, gente. Até agora não vi nenhuma ação ou um alerta contra a China, o maior poluidor do mundo com os dióxidos sulfúricos (parente do nosso sulfito): suas emissões em 2005 foram estimadas em 25.49 milhões de toneladas, que chegam à sua casa e pulmões sem avisos.
Almadén Tannat Merlot 2005.
Agradeço ao pessoal da Pernod Ricard pelo suculento presente, que comemora os 30 anos da Almadén no Brasil, vinícola pioneira (a primeira a chegar à Campanha Gaúcha) e líder em vendas em sua categoria. Sucesso, Almadén.

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