22.11.07

Vinho e engenhocas

Este é o melhor dos tempos para quem gosta de vinhos – aqui e em todo o mundo. Nunca, em toda a história, tivemos tantas e tão variadas ofertas da bebida. E nunca tivemos também tantas engenhocas (ora práticas, ora nem tanto) para lidar com a bebida. São centenas de tipos de abridores, decantadores, invenções mil para facilitar ou atrapalhar a nossa vida. Aproveito para testar você, leitor: por acaso conhece algumas das engenhocas abaixo?
1. Rotor Automático para Vinhos. Girar a taça para liberar os aromas do vinho: essa é a primeira coisa que você faz após ser servido. Pois agora existe esse aparelinho, que em inglês se chama “Automatic Wine Twirler”. Resume-se numa base circular, ligada a uma pequena caixa, onde está um motor elétrico movido a pilhas. Vem nas velocidades “Jovem”, “Meio Maduro” e “Maduro” – que apenas aumentam o número de giros. Se o vinho for muito jovem (um, dois anos), ela vai girar mais vezes. E menos para os vinhos mais maduros. Para cada variedade de uva existe também uma velocidade determinada: para a Cabernet, Pinot, Merlot, Shiraz, Chardonnay, Sauvignon Blanc e Riesling. Os giros são cuidadosos para que não haja respingos no seu vizinho. Pode ser colocada na mesa ou num balcão de restaurantes. E também pode ser utilizada em casa. É muito silenciosa.
2. Jaqueta Dental Sensitiva para Vinhos. O caso é que o vinho não tem sabor de vinho, mas de frutas vermelhas ou pretas, de chocolate, baunilha, pistache, morango, couro, tamarindo, terra, algum mineral, asfalto, limo etc., etc. Então criaram esse sensor, com o formato de uma jaqueta dental, para se ajustado a um de seus caninos. Esse sensor analisa a menor gota de vinho, descobrindo taninos, aldeídos, antocianinas, ésteres etc. etc. E, mais: funciona como um “ponto”. A informação é passada a um aparelho colocado no seu ouvido, misto de receptor e transmissor, que informa a composição do vinho: “um toque de pêra e ameixa harmonizando com uma forte sensação de pimenta do reino e canela e um traço de carvalho”. Você vai desbancar o maior dos degustadores. O problema é o custo: dois mil dólares. Em inglês é chamado de “Tooth-Mounted Flavor Sensor”.
3. Acelerador Temporal. Um aparelho que acelera a idade do vinho. Se o vinho é de 2002, ele amadurecerá 10 anos em um minuto, através de um campo magnético, colocado num cilindro onde você repousa a garrafa. Em vez de comprar um vinho mais maduro, normalmente bem mais caro, compre um novo que terá o mesmo resultado, diz a propaganda do “Temporal Acceleration Device”.
4. Alerta para dores de cabeça. É um detector de aminas (ou aminas biogênicas) tidas como as causas de dores de cabeça provocadas principalmente pela tiramina e histamina nos vinhos tintos. O modelo atual tem o tamanho de uma pasta para documentos. Mas um modelo menor, portátil, está sendo utilizado para uso em restaurantes. Uma gota de seu vinho é escaneada pelo aparelho que indica a presença dessas substâncias. O aparelho foi desenvolvido pela Universidade da Califórnia, em Berkely, a partir de equipamento criado pela NASA para achar vida em Marte. Ainda não tem um nome comercial.
5. Decantador a vácuo V1. É o Metrokane V1: de cristal, faz o que todo o decantador faz: guarda vinhos depois de retirados os sedimentos e os areja, despertando seus aromas, além de dar uma graça extra ao servirmos a bebida. E o mais importante: agora, se sobrar vinho, alguns decantadores podem preservar a bebida. É o caso do Metrokane V1. Tem uma tampa de borracha com uma abertura especial para um bombeador manual retirar o ar do vasilhame – e assim, criando vácuo, impedir que o oxigênio danifique a bebida. Na tampa, temos um registro, onde uma seta indica, quando atinge uma faixa vermelha, a hora de parar de sugar o ar. Custa U$ 80,00. Veja o decantador V1 aqui (e mais um saca-rolhas “Rabbit” e um funil com filtro para recolher sedimentos do vinho).
6. Preservador de Vinhos. É o Wine Steward (“Camareiro do Vinho”). Parece uma garrafa térmica. Você bebe um pouco do vinho e, antes de guardá-lo, abre a tampa do WS, coloca lá a garrafa, fecha a tampa, aperta um botão e o equipamento carrega gás argônio que, mais pesado que o ar, retira todo o oxigênio do vinho. Pronto, agora você pode rearolhar a garrafa que a bebida estará preservada por duas semanas, pelo menos. Mas o Wine Steward faz mais. Se o vinho esquentou além do devido, repita a operação. O equipamento pode resfriar a bebida em minutos. Veja só o filmete. Custa 200 dólares.
7. Adega Angelshare. É, até agora, a que mais perfeitamente regula a temperatura e a umidade dos vinhos. Mantém a temperatura da bebida sempre dentro do ajuste desejado (12º, 14º ou 16º). A mesma coisa acontece com a umidade: por mais que se altere externamente, a adega manterá sempre os seus 65%. É silenciosa, sem vibrações, pois não emprega compressores. E nem utiliza gases como fréon, nocivos ao ambiente. Oferece também proteção para raios ultravioleta. Existe nas versões para uma garrafa ou para meia dúzia. Veja uma demonstração aqui, com o modelo para seis garrafas. O modelo para uma só pode ser visto nessas fotos.
8. Robô Sommelier. Desenvolvido pela japonesa NEC, esse pequeno robô (61 cm de altura) pode diferenciar um vinho bom do ordinário, recomendar um prato para acompanhar e até dizer a marca da bebida. É um boneco eletromecânico, com olhos, cabeça e lábios que acendem com o robô “fala”. Mas a degustação do vinho é feita na extremidade do braço esquerdo do boneco, onde existe um espectrômetro infravermelho. Quando objetos são colocados diante do sensor, o robô dispara um feixe de luz infravermelha. A luz refletida é, então, analisada em tempo real, determinando-se a composição química do objeto. Quando identifica um vinho, o robô fala, numa voz de criança, o nome da marca e acrescenta comentários sobre o gosto, se é um Chardonnay amanteigado ou um Shiraz encorpado – e que tipos de alimentos acompanham bem o vinho estudado. A máquina pode ser programada para reconhecer as várias espécies de vinhos. Porém, dos milhares de vinhos existentes, o boneco só consegue ser programado para identificar umas duas dúzias. Além disso, ele se atrapalha ao analisar garrafas já abertas, quando vinho começa a respirar e, assim, a se transformar quimicamente. Um fotógrafo colocou a sua mão no sensor e o sommelier do futuro o identificou com bacon. Tomara que gastem um bom tempo melhorando esse boneco.
9. Termômetro Digital. É o Taylor Wine Thermometer, feito, claro, pela Taylor Precision Products, especializada há 150 anos. Esse termômetro oferece um visor digital. Abaixo dele, temos uma tampa de borracha seguida por um longo sensor. Basta substituir a rolha da garrafa pelo termômetro, que deixará o vinho tampado. Coloque a garrafa na geladeira (ou no balde com gelo) e, de vez em quando dar uma olhada para checar a temperatura. A luva protetora da peça traz impressa uma lista com as temperaturas de serviço adequadas para cada tipo de vinho. Veja aqui.
10. Camisetas. Pois tem uma companhia (também americana) especializada em camisetas com dizeres especiais sobre vinhos. Coisas do tipo: “Best drunk young” (“Melhor beber jovem”), “Ahhh, the terroir” (“Ahh, o terroir”), “I love a good corkscrew” (“Adoro um saca-rolhas”), “Think big, Think Cabernet” (“Pense grande, pense Cabernet”). E vai por aí, com muito segundo sentido, em inglês. De uma olhada aqui.
Engenhocas e artigos como esses não param de ser criados. E os entusiastas não param de procurá-las e comprá-las. Talvez seja por isso que muita gente ainda veja a bebida com medo e suspeita. Ache que é bebida de esnobes. Vinho devia ser vendido como cerveja, nos mercados, sem jargões complicados e um instrumental complicado, como o acima citado.
Por falar nisso, as três primeiras engenhocas são criações do humorista Lore Sjöberg, que escreve de vez em quando na revista Wired. Eu só coloquei mais algumas pimentas. Sjöberg buscou justamente ridicularizar essa face esnobe, elitista de uma bebida que deveria ser tratada com mais simplicidade, aliviando a cautela com que a maioria dos consumidores vêm o mundo dos vinhos, achando que somos todas um bando de esnobes.
Os demais equipamentos ou artigos existem de fato. O de número 4, “Alerta para dores de cabeça” está em testes. Falta apenas criar um modelo portátil para entrar em uso comercial. O robô japonês (número 8) também existe: só estão vendo se ele não confunde mais alhos com bugalhos, como fez com a mão do fotógrafo.
Se a amiga quiser mais sugestões de engenhocas para esse Natal é só usar o nosso e-mail.
Da Adega.
Taça para degustação às cegas
. Atenção que já chegaram ao Brasil as taças alemães Schott Zwiesel especiais para degustação às cegas. São negras (para que ninguém saiba o vinho que está provando), de cristal de titânio (mais resistentes). Devem ser bem mais em conta que as caríssimas Riedel. Podem ser encontradas na Humaitá Louças. Peça pela taça Sensus. Veja o endereço no site da
Humaitá ou fale com a Joana Carvalho.
Amante Malbec Rosé. É o novo lançamento da Casa Valduga – um vinho numa garrafa que lembra perfume, que lembra romance, que lembra momentos de vida feliz. A varietal, a Malbec, foi produzida em vinhas brasileiras da
Valduga.

15.11.07

Música em sua taça

Que estilo de música você escuta enquanto degusta o seu vinho? Beethoven ou Chitãozinho e Xororó, Tom Jobim ou Elymar Santos? Cuidado, pois acaba de ser criada mais uma teoria nesse mundico dos vinhos já tão lotado de teorias.
Na verdade, eu deveria hoje fazer referência, mais uma vez, à chegada do Beaujolais Nouveau em todas as lojas do mundo. Dizem que estão lançando uma versão rosé. Pra quê, se o Nouveau já funciona de fato como um rosado?
Mas optei por falar dessa história sobre música e vinhos, que, juram: é verdade verdadeira.
Um conhecido enólogo e consultor de vinhos da Califórnia, Clark Smith, dono da Vinovation, garante que a música que você está ouvindo influencia o gosto do vinho que você está, ao mesmo tempo, degustando. Não, não se trata de atuar sobre os seus humores, o ambiente que o cerca ou sobre as pessoas em volta de você.
Smith garante que diferentes tipos de música vão fazer o vinho ser mais ou menos saboroso. Uma simples canção que pode elevar o seu Pinot Noir a um grau de suprema excelência. Ou deixar o seu Cabernet Sauvignon num estado execrável.
Smith é preparadíssimo: já passou pelo M.I.T., é enólogo graduado pela famosa Universidade da Califórnia, em Davis, já foi produtor da Vinícola R.H. Phillips (250 mil caixas por ano). Em 92, patenteou um sistema de redução e ajuste de álcool via a tão falada osmose reversa (osmose: um liquido, no caso, o vinho passa através de uma membrana, saindo de uma solução mais concentrada para outra menos concentrada). Ele está no meio da grande controvérsia que cerca vinhos com muito álcool. Entregam para ele um vinho com 12% de álcool e ele devolve a bebida com 15, 16% ou mais, como é a grande moda atual entre produtores interessados em agradar críticos como Robert Parker. Mas pode acontecer o contrário: de um vinho com 17% e ele o reduz para 12%. O freguês escolhe. Ele sabe o que faz. E acredita firmemente que o produto final sairá equilibrado, harmônico etc.
Acredita também, honestamente, que a música pode mudar o sabor dos vinhos. Ele realizou testes, onde um Cabernet de Bordeaux parece ficar melhor ao som da Metallica, famoso grupo norte americano de heavy metal.
Garante que uma determinada polca (tocada por uma banda local) transforma um ordinário Zinfandel branco em algo bem melhor do que a maioria dos seus tintos, mais caros. Na verdade, diz que polca só combina com Zinfandel branco. E com mais nada.
Revela que os vinhos tintos, na média, melhoram substancialmente com músicas que ofereçam uma “emoção negativa”. Não gostam de música alegre. Os Pinot Noir não gostam de música sensual. Os Cabernets gostam de músicas “zangadas”, como as da Metallica. Daí a dificuldade de encontramos uma música que seja boa ao mesmo tempo para a Pinot e para a Cabernet.
Apesar de ser um tecnólogo inveterado, Smith afirma que os vinhos possuem sua própria melodia. É um místico que ainda acredita na antiga idéia grega de separar os pensamentos e atividades entre as lógicas (que seriam originárias de Apolo, segundo ele) e as intuitivas (nascidas de Dionísio). Francamente, não entendi as analogias com os deuses gregos. Até hoje, não conheci um só deles cujo perfil apontasse para um ser lógico, coerente, racional. A lógica, o bom senso, o caminhar conforme as regras eram tarefas mais afinadas com os mortais, na maioria das vezes. Também não atino que pudessem ser apresentados como intuitivos: eles eram mais para espertos, estabanados, de caráter suspeitíssimo, mas ao mesmo tempo ingênuos.
O enólogo não sabe ainda explicar a razão pela qual o binômio vinho-música interfere em partes de nosso cérebro. Não consegue ainda explicar como, fisiologicamente, a Cabernet torna-se significativamente melhor com os The Doors (uma banda de rock americana que existiu entre 60 e 70, onde pontificava o lendário Jim Morrison), ou com a abertura da Carmina Burana, do que com Mozart ou os Beach Boys.
Já que “a música é o vinho que enche a taça do silêncio”, segundo o guitarrista e compositor Robert Fripp, não é de estranhar que tenhamos agora essa moda de música. O que não é uma exclusividade do Clark Smith.
O produtor Jean-Marie Zerr, da Alsácia, jura que a complexidade aromática de suas uvas, em particular as Gewürztraminer, melhorou substancialmente a partir do momento em que começaram a ouvir Brahms, Schubert, Mozart, Vivaldi, entre outros.
Zerr usa música clássica e um conjunto de sons estranhos, que só as uvas conseguem entender, mas que “não adequados aos ouvidos humanos”. Seus vizinhos já estão achando que ele é um caso perdido.
De qualquer modo, a hipótese da música de Bach ou de Tchaikovsky influenciar toda uma vinha está sendo pesquisada seriamente pela Universidade de Florença, Itália, a partir das experiências de um outro vinicultor, o toscano Giancarlo Cignozzi, que produz o famoso Brunello di Montalcino.
Um especialista italiano em neurobiologia vegetal, professor Stefano Mancuso, já começou a reproduzir em laboratório o que realizam esses vinicultores melomaníacos. E ele garante: “Os efeitos da música ou das freqüências sonoras sobre o crescimento das plantas são notáveis”.
Não sei, não. Uma amiga querendo livrar-se de um namorado, mas temendo ser indelicada, gravou o Soneto da Fidelidade, dito pelo próprio autor, o mestre Vinicius de Moraes. Fez um CD inteiro com o soneto – aquele que termina assim: “Eu possa me dizer do amor (que tive)/Que não seja imortal, posto que é chama/Mas que seja infinito enquanto dure.”
O rapaz foi a casa dela, jantou, conversou sobre o tempo, o trabalho, pediu cerveja e mais cerveja e depois um cafezinho. E o CD não parava de tocar, era também infinito. O namorado se fez de surdo ou era bronco mesmo. Sequer emitiu um comentário sobre o fundo musical neuroticamente repetitivo. Não adiantou nada. Foi embora com beijinhos e tudo. Ela optou por mandar uma carta encerrando o namoro. Estão casados desde então.
Desconfio que se colocar qualquer clássico para acalmar os meus cachorros e evitar que chacinem minhas galinhas, o esporte preferido deles, não vai adiantar nada. O mais seguro seria colocar um som eletrônico, tipo bate-estaca, bem alto para espantar as penosas para bem longe de feras residentes.
Também não sei o que faço com os vinhos que consumo habitualmente. Como resolver, por exemplo, a questão do premiado Rio Sol? É um dos vinhos servidos ao Papa Bento XVI quando visitou o país e feito numa vinícola à beira do rio São Francisco, Pernambuco. Devo degustar esse vinho, um Cabernet-Shiraz, ao som de um baião, de um coco, de um afoxé, frevo, jongo, maracatu, ou quem sabe de um xaxado, um batucajé? Um perigo arriscar.
Enfim, amigas, cada enólogo com a sua mania. A leitora tem alguma particular preferência musical quando degusta um vinho? Ou o som que prefere é o do papo entre amigos ao redor da mesa? Conte para nós aqui.
Da Adega.
Sabores do Sul da França
. Não vamos esquecer que o festival Sabores do Sul da França termina dia 17, depois de amanhã. Ele acontece em 45 restaurantes do Rio, Niterói, Búzios e Petrópolis, onde harmonizarão vinhos do Languedoc-Roussillon com a gastronomia de cada casa. Só tem feras da cozinha francesa no festival: Troisgros, Roland Villard, Olivier Cozan, e muitos cobras nacionais. Saiba mais com a Juliana (juliana.castanheira@approach.com.br).
Etchart Cosecha Tardia no Brasil. A Pernod Ricard está lançando no mercado o Etchart Cosecha Tardia (“Colheita Tardia”, um vinho doce natural), da
Bodegas Etchart, fundada em 1890, uma das mais antigas da Argentina. O vinho já chega premiado (o único colheita tardia medalha de ouro na feira Vinhos & Bodegas de Buenos Aires. Utiliza as uvas Torrontés, de origem espanhola, parenta da Moscato, é a variedade de uva branca mais utilizada naquele país. Uma preciosidade.
O Etchart Cosecha Tardia vem com um amarelo ouro brilhante, um buquê de flores e frutas intenso e complexo, além de notas de rosas, jasmim, pêssego e frutas cítricas. Você não pode perder. Mais informações no site da
Pernod Ricard ou através do SAC: 0800 014 20 11.

8.11.07

Os vinhos e o seu nasal

É muito comum encontrarmos nas críticas de vinho uma observação sobre a partir de quando um vinho estará “pronto” para ser bebido. Mas e se víssemos essa questão do nosso ponto de vista: até quando estaremos no domínio pleno de nosso potencial olfativo – para provar não só os vinhos, mas as comidas e tudo o que nos der prazer?
Nas resenhas das revistas, os críticos fazem uma estimativa complexa e ousada, para a qual precisa realmente ter muito treino, conhecimento e um senhor nariz, um sentido de olfato privilegiado. Normalmente, são avaliações conservadoras. Quando recomendam que um determinado vinho da safra de 2000 deve ser bebido depois de 2010, esperam que em 2011 a bebida tenha atingido aquele ponto em que as imperfeições de sua juventude tenham sido aplacadas e a bebida conquistado todas as suas melhores qualidades.
E o que acontece com os sentidos de olfato e paladar na medida em que envelhecemos? Já fui curadora de alguns leilões de vinhos de gente que tinha guardado o seu rico acervo para bebê-lo e não esperar vendê-lo por mais dinheiro. Mas aí a idade chegou e esse povo não conseguia mais distinguir sardinha de bacalhau. Aí, resolviam desfazer-se de sua adega. Muitas vezes, os donos dessas garrafas morriam antes de poderem provar do seu precioso acervo.
A verdade é que só pensamos no nosso sentido olfativo quando cheiramos alguma coisa particularmente agradável ou desagradável. Nossa habilidade em detectar e reconhecer odores ajuda até mesmo a amoldar o nosso mundo mental.
Odores podem nos trazer de volta memórias de lugares e de pessoas, freqüentemente envolvidas com os estados emocionais que associamos com elas. Quando Proust faz o seu personagem provar uma madeleine, ele é transportado para outro tempo e outro lugar. E assim, a partir dos odores desse bolinho, ele construiu uma das maiores obras da literatura universal, Em busca do tempo perdido.
É bem provável que o sentido do olfato tenha sido até mais importante para os nossos ancestrais. Talvez já não seja assim tão vital para nós como ainda é para os animais, que usam seus narizes para caçar (ou para não serem caçados). De qualquer modo, nossa habilidade em distinguir cheiros como os de comida estragada, de vazamentos de gás e de cigarros pode representar até mesmo uma questão de vida ou de morte.
Notamos mais os sentidos de olfato e paladar quando comemos. Os sistemas olfativo e de paladar operam alinhados de modo a nos proporcionar os sabores das comidas e bebidas. Se perdermos o sentido do olfato, logo veremos que também ficamos privadas do nosso paladar, mesmo que nossas papilas gustativas estejam respondendo normalmente. Juntos, olfato e paladar podem fazer do comer e beber um prazer estético.
O olfato é, de longe, nosso mais poderoso dos sentidos. Pode discriminar entre dezenas de milhares de diferentes aromas. É capaz de determinar alguns dos componentes de um vinho em níveis iguais a uma única parte por trilhão. Um exemplo disso é o célebre componente TCA (2,4,6 Trichloroanisole), o responsável principal pela “doença da rolha”, sobre a qual vivo falando aqui. Algumas pessoas podem detectar o TCA na razão de uma parte por trilhão – que é igual a um simples segundo em 32 anos! Contudo, comparadas com o meu Labrador, o Ignácio, nossas qualidades olfativas tornam-se realmente patéticas. O Ignácio sabe que estou chegando em casa há uns três quilômetros de distância. Podem acreditar.
Hoje, sabemos mais sobre esse importante sentido, através de muitas pesquisas científicas medindo as muitas e diferentes capacidades olfativas das pessoas, abrindo as portas para novas descobertas. Sabemos mais agora as razões pelas quais as pessoas perdem o seu sentido de olfato e porque isso pode ser a pista para desordens neurológicas.
A causa mais comum da perda permanente deste sentido parece ser uma braba infecção respiratória, causada por vírus, danificando uma camada da célula nervosa na cavidade nasal (o neuroepitelium). Isso é raro em pessoas com menos de 45 anos. Mas na medida em que envelhecem, os homens (mais que as mulheres) apresentam grandes perdas.
Na falta de uma pesquisa brasileira, tenho em mãos uma norte-americana que estima que menos de 2% dos americanos com menos de 65 anos têm alguma perda olfativa significativa. Mas cerca de metade da população do país entre 65 anos e 80 apresentam problemas. Acima de 80 anos, ¾ da população experimenta perdas. Isso explica porque muitos idosos reclamam da falta de tempero de sua comida, que aquela marca de vinho que gostava tanto já não mais a mesma. Explica porque muitos velhos morrem envenenados por gás em razão de algum vazamento acidental.
As pesquisas sugerem que a perda do olfato, na maioria das vezes, reflete danos cumulativos na membrana olfativa: são vírus, bactérias, toxinas danificando as células nervosas ao longo de nossas vidas. Até que chega um dia e acontece um mais um resfriado, o bastante para produzir uma perda, às vezes permanente, do sentido olfativo. Mas existem outras causas, relativas à idade: o endurecimento do osso etmóide, que forma parte das paredes e do septo nasal, através do qual passam os nervos olfativos.
A segunda causa mais comum de disfunção do olfato são traumas cranianos. De 7 a 15% de pacientes com esse tipo de lesão podem sofrer de perda parcial ou total do olfato. A terceira causa comum são as doenças como as envolvendo pólipos nas mucosas ou desordens como a rinite alérgica. Às vezes, tudo se resolve com terapias que envolvem até cirurgias. Contudo, inflamações crônicas das regiões nasais podem resultar em perda permanente do nosso sentido olfativo.
Essas desordens podem ser derivadas de outras fontes: radioterapia para câncer, cirrose do fígado, deficiência de tiamina, problemas endocrinológicos (diabetes etc.), epilepsia, doenças nos rins e hemodiálise. A decadência desse sentido pode ainda alertar para desordens neurológicas ou psiquiátricas, como a esquizofrenia, as doenças de Parkinson e de Alzheimer e depressão.
Em suma, a leitora fique atenta: a partir dos 60 nosso sentido olfativo começa a decair, segundo as pesquisas. Entre 65 e 80 anos, metade da população norte-americana apresenta problemas significativos. Depois dos 80, 60% dessa faixa terá problemas mais sérios. As pesquisas só não falam do nariz do Pinóquio.
Tudo muito natural: na medida em que envelhecemos, vamos perdendo nossas potencialidades. No caso do olfato, vale notar, os homens perdem primeiro do que nós. Sabemos que eles também perdem mais em outras áreas, não é mesmo?
Portanto, leitora, a qualquer sinal de perda de olfato fale com o seu médico imediatamente. E não faça adegas muito grandes: aproveite todo o seu vinho.
Da Adega
II Encontro do Forum de Eno-Gastronomia. Começa amanhã, dia 9, o II Encontro, com degustações, workshops, exposições, almoços e jantares temáticos, show room de vinhos nacionais e importados, queijos e outros produtos alimentícios. O evento vai até o dia 11 e será realizado no Porto Bay Hotel Rio Internacional, em Copacabana, Rio (Av. Atlântica, 1500). Haverá debates com Stephanie Creyssels, do Vignerons de La Mediterranée, o maior produtor do Languedoc, França. E também sobre os vinhos orgânicos de Juan Luis Carrau, além de uma conversa sobre Robert Parker, o imperador do vinho. Tudo comandado por Mike Taylor. Não perca. Saiba mais
aqui. Faça contatos aqui.

5.11.07

Bobificações

O mais famoso crítico de vinhos do mundo, Robert Parker, anda nervoso ultimamente. Ele chamou de “medroso nazista do vinho” o diretor cinematográfico Jonathan Nossiter (do documentário Mondovino) e agora autor. Em 2004, Parker e o enólogo e consultor Michel Rolland foram criticados naquela fita. Para Nossiter, Parker tem muita influência e gosta de vinhos tintos de baixa acidez, muita cor, muito carvalho, muito álcool, “bombas de fruta”, que sacrificariam a estrutura dos grandes vinhos tradicionais. Ele também acha que Rolland é um burocrata do vinho, forçando todas as vinícolas onde é consultor a se enquadrar no molde de Parker.
Não sei se Parker sabe que ao chamar alguém de nazista, ele enquadrou-se na Lei de Godwin, criada em 1990 por Mike Godwin (advogado e autor americano). Ela diz: quando uma discussão esquenta, é quase certo que te xinguem de nazista ou equivalente. Seria um recurso diante da falta de argumentos.
Para piorar as coisas, Nossiter acaba de publicar um livro, “Le Gout et le Pouvoir” (“O Gosto e o Poder”), onde, parece, não apenas continua a censurar Parker e outros críticos, Roland e outros enólogos, revistas (como a Wine Spectator) e também restaurantes que exageram nos preços da bebida. Cita até uma casa onde uma garrafa de 6 Euros (15 reais) é vendida por 13 Euros (33 reais) – a taça.
Nossiter, segundo Parker, tem apenas “metade do cérebro de um macaco”. Segundo o que li das notas sobre o lançamento do livro, escrito em francês e realizado numa livraria de Bordeaux, Nossiter o classifica como “um antiguia de vinhos” e que, como no seu filme de 2004, marreta a crítica dominante e os preços extorsivos. O americano, que mora no Rio, comenta que Parker comete uma traição ao provar 300 vinhos de enfiada e depois publicar notas aritméticas. “Se houver 40 pessoas numa degustação, teremos 40 diferentes experiências”, diz. “Esse livro é um antiguia: não pretende impor gostos, mas defender o paladar dos indivíduos dos críticos badalados”, explicou o autor.
Tudo isso acontece na esteira do lançamento da biografia (não autorizada) do poderoso Parker, assinada por Hanna Agostini, que durante anos representou o crítico Bordeaux. Ela coordenava degustações e traduzia o trabalho do americano para o francês. Foi demitida pela suspeita de usar o nome do chefe para faturar em projetos de consultoria. Robert Parker: Anatomie d'un Mythe sugere, por exemplo, que o crítico tivesse aceitado ser padrinho da filha de um produtor de Bordeaux, que assim passou a ganhar favores (ou notas altas). É duro ser uma celebridade.
O livro de Nossiter, pelo que li, é mais um alerta contra a padronização dos vinhos. Produtores, particularmente os das grandes corporações, são levados a fazer um vinho do jeito que Parker gosta, caso queiram boas notas das revistas, que vão se traduzir em grandes vendas e lucros maiores. Se o Michel Rolland é visto como a pessoa capaz de fazer esse tipo de vinho, teremos mais e mais vinícolas correndo atrás dele para repetirem o estilo. Ficamos imprensadas entre “Parkerizações” e “Bobificações”.

30.10.07

Cápsulas

1. Essa é a cápsula mesmo. Elas ainda continuam populares entre produtores e consumidores. Você sabe: são esses invólucros cobrindo a tampa e o pescoço da garrafa. Elas emprestam às garrafas um acabamento limpo, ajudam a identificar o vinho e podem também revelar se a bebida foi adulterada.
Existem desde o século XVII, feitas de uma lâmina de chumbo, uma escolha fácil, pois praticamente indestrutível, maleável, fácil de amoldar-se às garrafas e de remover. Foram criadas para proteger a rolha contra insetos e ratos que infestavam as antigas adegas. Falam também que protegiam o consumidor de fraudes: nas tavernas, retiravam as rolhas, batizavam os vinhos e os rearrolhavam em seguida. Isso é feito até hoje, quase sempre fora dos restaurantes.
A partir de 1990, a lâminas de chumbo foram proibidas na Europa e nos Estados Unidos. Quem não limpava bem a boca garrafa acabava consumindo chumbo, com resultados nocivos para a saúde. Além disso, esse material representa um lixo tóxico, nocivo para o solo e para o que nele se cultiva.
Até hoje, temos esse ritual da retirada das cápsulas: o garçom retira a tampa da cápsula com a ajuda de uma pequena lâmina embutida no saca-rolha. Com ela, em seguida, raspa a boca da garrafa e a limpa finalmente com um guardanapo.
Mas qual seria a finalidade das cápsulas hoje? Não impedem a entrada do ar nas garrafas (algumas têm até pequenos orifícios para a passagem do ar), nem que a bebida vaze. Sua função acaba sendo apenas decorativa. Sem ela, muitos acham que a garrafa vai parecer “nua”, inacabada. Outros a julgam necessária para evitar mãos sujas ou contaminadas nas rolhas.
Assim, em lugar do chumbo tivemos folha de flandres (folha de ferro laminado revestido de estanho) e plástico (raios, vez por outra me corto com as pontas do PVC). Noto que cada vez mais utilizam um selo de papel ou de cera sobre a rolha – que, assim, é deixada à mostra para nosso exame. É uma boa solução para reduzir custos de produção - o que igualmente nos beneficiaria, consumidoras, e principalmente, o meio ambiente.
Aliás, as tampas de rosca, rolhas de plástico e as cápsulas representam um sério dano ao meio ambiente – são um lixo difícil de ser absorvido. As garrafas ainda podem ser reutilizadas, recicladas – com novos custos e mais emissão de gases.
Um crítico sugeriu a abolição de garrafas, tampas de qualquer tipo e de cápsulas. O vinho seria oferecido em pequenos barris de aço inoxidável, o que baratearia o custo da bebida e pouparia substancialmente o meio ambiente. Traríamos o vasilhame para casa e beberíamos o vinho direto da torneirinha ou o passaríamos para garrafas esterilizadas ou decantadores. Já pensaram, o clima de confraternização em volta do barril?
O crítico sonhou, é certo. Acho que os marqueteiros do vinho não topariam. Mas alguma coisa terá de ser feita com relação a materiais como as cápsulas, mais um pesadelo para o planeta.
2. Essa é uma cápsula informativa. A grande especialista inglesa Jancis Robinson, Master of Wine, comandou dia 25 de outubro uma grande degustação em São Paulo, onde destacou o vinícola Salton como a fabricante do melhor vinho brasileiro ao provar do Salton Talento 2004. Estamos no “caminho certo”, afirmou a crítica.

Uma questão de idade

Um leitor viu na lista de vinhos do famoso Amadeus, restaurante português com uma medalha do Guia Michelin, o vinho Luis Pato Vinhas Velhas 1999. Ele não se interessou pelo, mas ficou intrigado com a expressão “Vinhas Velhas”.
Vinhas velhas, vielles vignes, alte Reben, old vines – são indicativos de que vinhos produzidos a partir de, óbvio, vinhas velhas, a partir do conceito de que possuem uma qualidade extra, de que produzem vinhos melhores. Essas videiras anciãs são facilmente reconhecíveis: muito nodosas, de troncos grossos e raízes longuíssimas.
O fato é que não existem nos Estados Unidos, Europa e, acho eu, em nenhuma outra parte do mundo, regras relativas a essa expressão. Se o vinicultor tem uma vinha com mais de 15, 20, 30 anos pode colocar esse termo no rótulo.
E porque ele faria isso? A lógica do produtor seria essa: uma vinha velha produz menos quantidade de frutos e daí resultar num vinho de maior qualidade (“menos é mais”). Isso faz algum sentido já que muita quantidade de um mesmo vinho pode resultar em sabores difusos. E uma concentração maior de sabores normalmente se origina de uma produção menor e dar, no fim das contas, um vinho mais saboroso.
O racional do produtor é o de que, na medida em que envelhecem, as raízes da videira penetram cada vez mais fundo no solo. Quando jovens, essas raízes estão mais próximas da superfície e podem ser rapidamente afetadas por doenças, fertilizantes. Seus frutos dificilmente resultarão em vinhos de qualidade. Se o solo próximo à superfície não fornece nutrientes suficientes, as raízes vão procurá-los mais abaixo, muitas vezes descobrindo fontes importantes para melhorar o sabor do fruto.
O produtor acredita nisso e imediatamente adorna o rótulo com essa informação, tal como fez o Luis Pato descoberto pelo leitor.
A realidade é a de que não existem quaisquer provas científicas de que vinhas mais velhas produzem frutos melhores e, por isso, vinhos melhores.
Essa linha de argumentação nos leva a pensar que quanto menor a produção, melhor o fruto e melhor o vinho. Acontece que, quando menininha, uma videira foi podada de modo a produzir menos frutos, fazer com que a árvore se concentrasse nos poucos frutos restantes e assim eles ficassem mais densos, mais saborosos. Logo, o que está acontecendo agora com um vinha velha já acontecia há 50, 80 anos. Não parece confuso?
A idéia de que velhas vinhas produzem um vinho melhor é cultuada na legislação das Appellation Contrôlée, o sistema francês que controla todo o plantio e produção de vinhos em regiões determinadas. A legislação de lá exclui a produção das vinhas com menos de três anos. Quando ainda muito jovens, essas vinhas serão utilizadas apenas para um simples vinho de mesa.
Como uma regra geral, o produtor do Velho do Novo Mundo acha que as nossas vinhas velhas oferecem a mesma qualidade do que as jovens videiras, respeitando-se que tenham ambas os mesmos cuidados no controle de qualidade.
Já do produtor do Velho Mundo, cujos vinhedos estão com a sua família há gerações, vamos ouvir que as velhas vinhas oferecem mais concentração e complexidade em seus vinhos, desde que, como vimos, sua produção seja menor e que tenham um sistema de raízes tão profundo que conseguem buscar o melhor daquele solo.
Uma vez que uma vinha produza de uma a três safras normais e tenha entre e seis anos de idade, ocupe o seu lugar acima do solo, o seu rendimento anual se vai se estabilizar (só se alterando se houver alguma grande mudança nas condições de cultivo, plantio ou de políticas por parte do vinicultor). Uma vez que essa vinha esteja devidamente protegida de estresses, pestes, doenças, de muita ou pouca irrigação e nutrida com os minerais suficientes, ela pode ter vida muito longa.
O vigor a produção de muitos vinhedos comerciais começam a declinar depois de 20 anos. E lá pelos seus 50 anos muitos deles produzem tão pouco que normalmente são considerados antieconômicos.
Assim, o curso normal das coisas é o das vinhas perderem vigor à medida que envelhecem, tal como nós. Mas em razão de sua pouca produção, com poucas uvas e folhas expostas ao sol, temos indiretamente uma explicação para o efeito da idade da vinha sobre a qualidade do vinho.
Quando uma vinha pode ser considerada velha? Muitos produtores afirmam que é a partir dos 35 anos. A mais antiga vinícola familiar da Austrália, a Yalumba, no Vale Barossa, quer codificar o termo “Velhas Vinhas” nos rótulos. Para ela, só as vinhas que tenham pelo menos 35 anos podem receber esse galardão.
Há um mérito nisso, pois como não existem padrões para o uso dessa expressão, os produtores podem promover essas vinhas de modo arbitrário e potencialmente confuso. Ele propõe um critério, onde define o que é velho (35 anos), indica o que é “antigo” (ou “muito velho”: 70 anos) e o que é “centenário” (ou “excepcionalmente velho”): 100 anos.
Quando a leitora estiver fazendo turismo pela Inglaterra, vale visitar a famosa videira do Hampton Court Palace, perto de Londres. É o maior palácio da Inglaterra, feito há 400 anos e lá residiram vários Tudors. A videira foi plantada em 1768, tem ramos de mais de 30 metros de comprimento, um tronco de 3 metros de circunferência, e produz 300 quilos de uvas tintas, doces, a cada ano. Estando lá, compre um cacho delas – são as mesmas uvas que serviam à realeza britânica do século XVIII. Com 239 anos, é a maior e mais antiga videira do mundo.
Se quiser perguntar sobre outras idades (que não seja a nossa) é só clicar aqui para a Soninha no soniamelier@terra.com.br
Da Adega.
Hora de ajudar
. A Sociedade Brasileira dos Amigos do Vinho, capítulo Rio de Janeiro está em busca de vinhos e afins para serem leiloados em benefício da Casa Maria de Magdala, (de Niterói), que atende a crianças e adultos portadores do vírus HIV. O evento será realizado dia 28 de novembro na sede da SBAV-Rio (Av. Nestor Moreira, 11, Botafogo).
O leilão será conduzido pelo vice-presidente da entidade, Marcelo Copello. Os interessados em contribuir para o leilão, através de vinhos, acessórios e afins, devem entrar em contato com a SBAV-Rio através do telefone: (21) 2543-2382 (13h às 18h) ou pelos e-mails: mcopello@mardevinho.com.br / secretaria@sbav-rio.com.br
A Casa Maria de Magdala, fundada em 1991, é uma instituição filantrópica, sem fins lucrativos. Funciona como abrigo para crianças e adultos portadores da doença. Todos recebem assistência médica, acompanhamento farmacêutico e nutricional, cuidados de enfermagem e de uma equipe multidisciplinar composta de profissionais de diversas áreas, 24 horas por dia. São mais de 300 profissionais cuidadores. Atende também a 160 famílias, com distribuição de cestas básicas mensais, oferecendo palestras onde são abordados temas voltados à promoção humana e à superação de dificuldades pessoais e vícios.
Maiores informações com o Leo Caldeira, da MLR Comunicação, via 55 21 3027-2340 ou 55 21 8255-1855.
Duvido que a amiga não tenha uns vinhos sobrando em casa e, mais importante, não queira ajudar a Casa Maria de Magdala.
Vinhos Salton entre os melhores. Na degustação da quarta edição do Prazeres da Mesa ao Vivo, realizada em São Paulo, no último dia 25 de outubro, a especialista inglesa Jancis Robinson, Master of Wine, classificou a Salton como o fabricante do melhor vinho brasileiro, durante a degustação do vinho Salton Talento 2004.
Na maior feira de alimentos e bebidas do mundo, a Anuga Wine Special 2007, realizada em setembro, em Colônia, na Alemanha, a Salton ganhou medalha de ouro.
O Salton Talento tem produção limitada a 30 mil garrafas. É um corte de 60% de Cabernet Sauvignon, 30% de Merlot e 10% de Tannat. Passa por um ano em barris de carvalho e descansa nove meses em adegas caves subterrâneas. Mais informações com a Elisângela Lima (elisangela@mdassessoriacom.com.br), da MD Assessoria & Comunicação.
Pesquisa: valorização dos consumidores de vinhos. Recebi da
Confraria Amigas do Vinho material relativo a uma pesquisa que vai certamente interessar a todas nós leitoras.
Essa pesquisa é parte de uma dissertação de mestrado, pré-requisito para titulação de mestre em agronegócios, orientada pelo Prof. Dr. Jean Philippe Revillion, que está sendo desenvolvida no Centro de Estudos e Pesquisas em Agronegócios – CEPAN - da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
O objetivo do questionário é identificar a percepção e a valorização dos consumidores de vinhos em relação à indicação geográfica, estratégia de diferenciação que vem sendo foco de muitas empresas brasileiras, seja no setor vitivinícola ou não.
Os resultados obtidos deste questionário possivelmente auxiliarão as empresas nacionais a melhor desenvolverem suas estratégias de mercado com relação aos diferentes segmentos de consumidores de vinhos.
Para que a pesquisa siga seu cronograma, é conveniente que a leitora encaminhe o questionário devidamente preenchido (não demora mais do que 15 minutos) 15 de novembro de 2007.
O link de acesso ao questionário é:
http://cepa.ea.ufrgs.br/pesquisa/alunos/thays/

25.10.07

Vinho: para beber ou comer?

Li que o vinho está para ser classificado como alimento e não mais como bebida alcoólica, segundo projeto antigo do senador Pedro Simon, ora em votação. Acho uma ótima manobra para a redução dos impostos e dos preços da bebida, o que ajudaria bastante a nossa indústria vinícola e todos nós, consumidores.
A argumentação do veterano político concentra-se nos benefícios do vinho para a saúde, o que, em minha opinião, não justificaria que ele abandonasse a sua condição de bebida alcoólica: bastaria, talvez, uma informação no rótulo sobre alguns benefícios comprovados do vinho para a saúde.
Alimento, como substância nutritiva, que faz subsistir, o vinho não é. No máximo é o que chamam de “alimento de poupança”: apenas estimula o sistema nervoso e produz energia passageira, com poupança das reservas do organismo (como faz a rapadura para o sertanejo).
Se a lei passar, é provável que haja uma regulamentação obrigando o “novo alimento” a se comportar como todos os demais: tenha no rótulo uma lista de seus ingredientes e dos respectivos valores nutricionais. E aqui temos um primeiro problema.
Em contraste com a maioria dos alimentos e bebidas, a legislação sobre o vinho na maioria dos países não exige que os produtores apresentem essa lista nos rótulos da bebida. A indústria do vinho vem resistindo fortemente aos esforços de mudar essa atitude.
Em agosto desse ano, o governo norte-americano apresentou duas propostas que, se aprovadas, obrigarão todas as bebidas alcoólicas vendidas no país a informar sobre o conteúdo alcoólico e o que contem cada dose (calorias, carboidratos, gordura e proteína etc.).
Pelo menos, uma parte substancial da indústria do vinho de lá está protestando: falam que essa medida é uma faca de dois gumes, vai representar mais uma despesa para o pequeno produtor, o vinho é promovido como um produto agrícola e parte de um estilo de vida saudável. E, de fato, é difícil determinar o valor nutricional exato do que está numa garrafa. A vinícola teria que analisar praticamente tanque por tanque, barril por barril.
Com base em análises nutricionais do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos e de uma série de outras fontes cheguei a uma lista que representa os valores nutricionais da média dos vinhos. É uma idéia geral, embora saibamos que variações podem existir em função de estilos de vinho. Por exemplo, um Riesling tem mais calorias derivadas do açúcar e mais carboidratos do que um tinto e branco secos. Um vinho com 13,5% de álcool por volume tem um pouco mais de calorias do que o vinho médio apresentado aqui, com 12% de álcool.
Vejamos: o vinho é 85% água, 12% álcool e 3% todos os demais componentes. Numa garrafa (750 ml ou 750 gramas) de vinho tinto, com capacidade para cinco taças, de 147 gramas (147 ml) cada uma. Em cada taça, teremos:
Calorias: 102,06; gordura total: 0 g; gordura saturada: 0 g; colesterol: 0 g; sódio: 7,09 mg (0,3%); total de carboidratos: 2,41 g (1%); fibras: 0 g; açúcares: 0 g; proteína: 0,28 g (0,44%), vitamina A, C, cálcio e ferro: nada: 0%; tiamina: 0,1%; riboflavina: 0,4%; niacina: 0,11%, folato (ou ácido fólico): 0%.
Os rótulos deveriam também dar informações adicionais sobre os valores percentuais diários com base numa dieta de tantas mil calorias. Os ingredientes desse vinho seriam: suco de uva fermentado, sulfitos naturais usados como preservativos. Fermento e itens de clarificação (albumina, bentonita, gelatina ou cola de peixe) que poderiam ter sido utilizados embora desapareçam no vinho acabado.
No vinho branco, na mesma quantidade, temos menos calorias (96,39), o total de carboidratos também é menor (1,13 g ou 0,35%), proteínas um pouco mais baixas (0,14g ou 0,22%).
Nos vinhos doces, considerando a meia garrafa (375 ml ou 375 gramas), cada taça com 88 ml, tem: calorias (130,13 gramas); gordura total: 0 g; gordura saturada: 0 g; colesterol: 0 g; sódio: 7,65 mg (0,3%), total de carboidratos: 10,04 g (5%); fibras: 0 g; açúcares: 8 g; proteína: 0,17 g (0,27%); vitaminas A e C, cálcio e ferro: 0%; tiamina: 0,02%; riboflavina: 0,02%; niacina: 18%. folato: 0%.
De qualquer modo, o projeto do senador Pedro Simon poderá reduzir pela metade as alíquotas de impostos atualmente pagas nossa indústria, fazendo-a mais produtiva, ajudando-a a modernizar-se.
Mas podemos desde já esperar que o segmento da saúde proteste. Pois sempre há quem abuse, amiga. Sob a cínica desculpa de que “estou me alimentando”, muita gente vai encher cara.
Nas vinícolas da Califórnia começa a haver um controle maior para acabar com excessos. Turistas entram lá para visitar, degustar vinho e eventualmente comprá-lo. Mas acabam entornando demais. Ninguém degusta, todos bebem mesmo. Então, numa turma de turistas, que chega de ônibus, ninguém está preocupado em dirigir e ser pego na estrada. Mas se os problemas não existem nas rodovias, existem dentro das vinícolas. Barulho, bagunça, briga etc.
O argumento utilizado pelo senador, os benefícios para a saúde do vinho, também pode ser utilizado de maneira abusiva. A desculpa será na base do “bebo para me tratar”.
Para mim, o vinho vai continuar sendo a bebida mais deliciosa, variada e a mais rica em sutilezas que existe. É incrível como uma bebida, quase 90% água, ser tão leve, cheia de vida, rica, aparecendo em várias cores e estilos, e que pode durar décadas e mesmo madurona ainda surpreender.
O leitor vai passar a se “alimentar”, a “se tratar” ou apenas a apreciar os vinhos? Opine!!
Da Adega.
II Encontro do Fórum de Eno-Gastronomia
. Esse não dá para perder. Vai acontecer no Rio, de 8 a 11 de novembro, no
Hotel Rio Internacional. São degustações de vinhos e comidas, palestras, exposições, shows musicais, não apenas no Hotel Rio Internacional, mas em outros hotéis e em restaurantes. Você poderá adquirir ingresso para um dos dias (70,00) ou para todos (135,00). O passaporte (válido para os 3 dias) dá livre acesso às palestras, show rooms, mesas redondas, exposições, ao almoço de confraternização no domingo, 11 de novembro, e ao pocket show na 6ª feira. Saiba mais, faça reservas e compras de ingressos ou passaportes via forumenogastronomia@yahoo.com
Papa da Gastronomia Molecular no Brasil. A Universidade Anhembi Morumbi está trazendo ao Brasil o químico-físico francês Hervé This, famoso por suas descobertas científico-culinárias. Estará no país de 28 de outubro a 1º de novembro e fará palestra aberta ao público na Universidade (29 de outubro) sobre Os Fundamentos da Gastronomia Molecular: O Fazer Culinário e a Nova Fisiologia do Gosto. Se a amiga quer saber o porquê da sua maionese desandar, como seu suflê pode crescer mais ou se o bife deve ser salgado antes ou depois de ir para a frigideira, basta assistir ao seminário do professor This. Ele vai deslindar essas questões e muito mais. This é doutor em Gastronomia Molecular e Física e trabalha no Laboratório de Química de Interações Moleculares do College de France, Paris.
Inscreva-se já no seminário, dia 29 de outubro, a partir das 20h30, no Campus Vila Olímpio, Auditório Theatro Casa do Ator. Procure o site da
Universidade ou peça informações pelo telefone: 11-3847-3050.
Mumm Cordon Rouge Magnum. Pois não é que a Pernod Ricard está importando para cá a versão de 1,5 litro dessa preciosidade, em edição limitada? Apenas 200 garrafas serão comercializada no país – todas em estojos especiais. Ela terá um preço médio de R$ 400,00 e poderá ser encontrada em restaurantes, delicatessens e empórios. No seu rótulo, a lendária faixa vermelha da Légion D`Honneur (Legião de Honra), a mais alta distinção francesa, concedida por Napoleão Bonaparte – que não saia de casa para suas batalhas em passar por Reims e se abastecer com a Mumm. A Mumm Cordon Rouge também é a marca oficial de Champagne da Fórmula I. Saiba mais com o SAC da Pernod Ricard (0800 014 20 11) ou através do seu
site.
Helicópteros salvam vinhedos. Na Nova Zelândia 100 helicópteros foram utilizados recentemente para livrar da geada alguns vinhedos na região de Marlborough. As hélices dos helicópteros fazem o ar quente descer e circular pelos vinhedos.
Veja o
filme feito por uma emissora de TV da NZ.

23.10.07

Vinho, uma ferramenta

Os colecionadores de vinho continuam comprando muito, ignorando até a grave crise da maior bolha imobiliária da história. Para eles, vinho é igual a prestígio, a poder, vale qualquer preço, está acima de qualquer crise. Não é preciso sequer apreciá-lo, apenas desfrutar da força que inspiram alguns de seus rótulos e safras. Ele certifica celebridades, empresta fama, concede autoridade.
É o enocentrismo, um sistema onde as pessoas idolatram não a bebida, mas a sua influência, a sua magia. Só assim entendo que alguém dê 157 mil dólares por uma garrafa, com o fez, em 1985, Christopher Forbes, o filho do bilionário Malcolm Forbes, o dono da revista Forbes, já morto. Ele comprou em leilão uma garrafa de um Lafite do ano de 1787, que teria pertencido a Thomas Jefferson, um dos pais da América. Outro multimilionário, Bill Koch, comprou quatro dessas garrafas por meio milhão de dólares. E hoje processa o ex-proprietário delas por achar que são falsas. Até o FBI investiga esse caso.
E a Martha Stewart, a Ana Maria Braga norte-americana? Ela é muito mais rica e poderosa, mesmo depois de ficar um tempo na prisão por mentir para o fisco. Sua empresa tem braços no mundo editorial (revistas e livros), programas de TV e rádio, sites na internet e promove ações de merchandising. E agora oferece uma coleção de vinhos. Vinhos da E&J Gallo, a maior produtora dos EUA. Da bebida, Martha sabe mesmo é que ela harmoniza com celebridade. Logo, precisava ter a dela. Poderia continuar falando do vinho da atriz pornô Savanna Samson, dos vinhos de celebridades vivas e mortas, todos embalados por esse tipo de magia.
Mais recentemente, a japonesa Nintendo lançou um jogo eletrônico no qual você escolhe um dos 120 vinhos listados para tentar combinar com algumas sugestões de comida. Parece instrutivo, mas não deixa de chamar a atenção que um mundo estranho ao vinho esteja já caidinho pelo que a bebida pode simbolizar (e ajudar a faturar).
Isso me lembra da febre pelas relíquias religiosas. Ter pedaços da cruz de Cristo, cueiros do menino Jesus, ossinhos de santos, sudários – valiam na Idade Média milhares de moedas de ouro e muito mais. Parodiando Eça de Queiroz (em A Relíquia), essas tão ambicionadas garrafas não valem pela autenticidade que possuem, mas pelo poder que inspiram.
Jefferson, o 3º presidente norte-americano, amava os vinhos, mas para degustá-los. Ocupava-se em construir um país, fazer história, ao contrário de Forbes: “Comprei mais do que uma garrafa, comprei um pedaço de história”.
A garrafa do Lafite 1787 ficou exposta num salão da revista, em Nova York, recebendo luz direta. Se ainda não era, virou vinagre de vez. Quando saiu vitorioso da Christie’s, de Londres, em 1985, colocou a garrafa (provavelmente falsificada) numa sacola com a logomarca e o famoso slogan de sua empresa: “Capitalist Tool” (“Ferramenta Capitalista”).

18.10.07

Como degustar um vinho ruim

E quando você encontra um vinho ruim, muito, muito ruim? O que diz a etiqueta a respeito? Falo daquele vinho oferecido pela sua melhor amiga, comprado exclusivamente para você, escolhido por ter conseguido medalha de ouro no Concurso Regional de Piririburgo da Serra (que você jamais imaginou que existissem, tanto Piririburgo quanto o concurso), para ser provado numa ocasião especial, numa reunião onde todos a têm como “doutora em vinho”.
Já passei por isso e todas as vezes que escrevo sobre etiqueta do vinho (que taças utilizar, como servi-lo, como degustá-lo, o que apreciar nele, seus aromas, seus sabores etc.) lembro de comentar como é essa experiência beber um vinho imprestável, estragado, defeituoso. E diante de sua amiga do peito.
Olha que não estou falando precisamente dos defeitos mais comuns nos vinhos. Um vinho não é ruim só porque não caiu no seu gosto, não faz o seu estilo etc. Não é ruim porque o rótulo está rasgado ou a base da rolha veio cheia de pequenos cristais brancos. (o tais cristais de tártaro, inofensivos, subproduto natural de vinhos que não foram filtrados). Não é ordinário porque a rolha parece mofada ou se partiu em pedacinhos dentro da garrafa. Nada disso altera o vinho ou o torna intragável.
Os principais defeitos poderiam ser: o da chamada “doença da garrafa” ou TCA, numa linguagem mais técnica: você coloca o nariz na taça e o aroma parece com algo que saiu do lugar mais mofado da casa. TCA (2,4,6 tricloroanisole) é um elemento químico tão potente que mesmo em quantidades ínfimas causam aromas e sabores de mofo na bebida. Tem origem numa reação do cloro utilizado para esterilizar rolhas de cortiça.
Outro defeito seria o do vinho oxidado: você sabe que o oxigênio é o inimigo invisível dos vinhos, que se tornam oxidados quando expostos a ele. A bebida fica sem vida, insípida, já a caminho, literalmente, do vinagre.
Outro problema seria quando a garrafa fica por muito tempo exposta ao calor (certamente, porque foi armazenada inadeqüadamente). Chamam isso de “madeirização”, pois o vinho, geralmente o branco, fica com uma cor mais escura, oxidada, mais acastanhada e adocicada, algo que pode lembrar o vinho Madeira, que cuja produção implicava em propositadamente numa grande exposição ao sol, ao calor. O sabor do verdadeiro Madeira lembra amêndoas, frutas cristalizadas. Muitos críticos colocam oxidação e madeirização num mesmo saco. É fato que ela compreende também uma dose de oxidação. Mas esse tipo de sabor num vinho de mesa não fortificado (como é o Madeira verdadeiro) é considerado um defeito.
Uma quarta falta aconteceria quando alguns fermentos dorminhocos ficaram no vinho – e resolvem acordar e a trabalhar – dentro da garrafa. E, dentro dela, o vinho é refermentado, por acidente. Se fosse um champanhe, tudo bem. Mas quando você prova de um vinho de mesa tranqüilo sentirá na língua pequenas bolinhas, aspecto não recomendável nesse tipo de vinho.
Mas, no meu caso, o vencedor do concurso de Piririburgo era a soma de todos os defeitos e mais uma dezena. Era execrável em todos os sentidos. Achei que podia me livrar dessa situação com alguma elegância. E o que eu fiz pode servir como guia para as amigas que venham a enfrentar embaraços semelhantes (algumas das dicas abaixo foram inspiradas pela blogueira americana que escreve no WineScamp):
1º) Beba sem pressa. Aceite com graça a taça e prove um mínimo do vinho. Em seguida, após um diplomático intervalo de tempo, procure um canto, uma pia, um vaso de plantas, por exemplo, para esvaziar a taça e corra para beber água. Se alguém estranhar, diga que está um pouco desidratada e quer dar um tempo no álcool.
2º) Mantenha o vinho bem gelado – a refrigeração é sua aliada quando se trata de vinho danado da peste. O gelo emudece o sabor da bebida. Se ele é assim, péssimo, peça gelo e coloque na taça. Diga que os melhores críticos também fazem isso. Você é a “doutora em vinho”, lembra?
3º) Nada de cheirar. Sei que é um reflexo girar e cheirar qualquer coisa, como café, água e, claro, o vinho. Mas não coloque o seu nariz nessa droga. Sua situação ficará mais miserável ainda se liberar os aromas dessa bebida e cheirá-la.
4º) Não deguste. Beba em goles absurdamente grandes. E não respire ao sorver o vinho – tal e qual fazemos ao tomar um xarope de gosto ruim. Isso diminuirá o quanto de sabor e aroma você pode perceber.
5º) Misture. Seja espumante ou vinho tranqüilo, discretamente pegue o que tiver pela frente, de refrigerante a suco de frutas, e misture com o vinho. Ou, com todo o garbo possível, após a primeira provada, afirme que aquele vinho é ideal para uma Sangria. E torça para que sua amiga tenha algumas frutas em casa. Se tiver pouca, junte suco de frutas. Faça a sua Sangria salvadora com muito gelo e, se possível, um licor.
A outra saída é apelar para a mãe de todas as desculpas, pelo menos entre nós, mulheres. Após o primeiro gole, pouse a taça e peça um comprimido para dor de cabeça, urgente. Alegue que a sua velha e querida enxaqueca acaba de acontecer. Nesse caso, não saia de casa sem os óculos escuros na bolsa.
Se a amiga tem mais sugestões para sair de situações como essa com panache, por favor, conte para nós aqui.
Da Adega
GP Brasil de Fórmula I com o vinho da casa
. Um espumante, um rosé e um tinto nacionais foram selecionados para serem servidos nos camarotes do Hopitality Centre e nas áreas VIPs do autódromo de Interlagos durante a corrida do dia 21. São eles o Casa Valduga Espumante Premium Moscatel, o Casa Valduga Duetto Rosé Sangiovese-Barbera e o Casa Valduga Duetto Pinot Noir-Shiraz. Aliás, esses vinhos serão os únicos a serem servidos nos três dias do evento. A Casa Valduga fica no Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves, RS, e produz vinhos há quatro gerações.
Spa do Vinho no Brasil. Fazer um tratamento de beleza com produtos e técnicas assinadas pela famosa Caudalie agora podem ser feitos na Serra Gaúcha. A amiga não precisa mais viajar a Bordeaux. Saiba o que é o Spa Villa Europa, um hotel cinco estrelas em pleno Vale dos Vinhedos, RS, em meio, sim, em meio a belos vinhedos, degustando ótimos vinhos e vivendo um ambiente sofisticado, muito romântico. Veja mais
aqui.
Encontro nacional dos produtores de Vinho. A Vinotech e a Mercosul Bebidas, um dos maiores eventos da indústria vitivinícola e de bebidas em geral do Brasil e da América Latina, contará em 2008 com o Encontro de Municípios Produtores de Uva e Vinho do Brasil – são 162 municípios produtores em vários estados.
O encontro será feito em Bento Gonçalves, RS, nos dias 10 e 11 de abril e terá o apoio da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra) e do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin).
Produtores do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás, Bahia e Pernambuco estarão presentes para troca de experiência e análise de problemas diversos.
Em Bento Gonçalves, durante a Vinotech 2008, mais de 160 participantes
Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, fará mais uma Vinotech de 2008, e desta vez com o Encontro de Municípios produtores de Uva e Vinho do Brasil que somam mais de 160 em vários estados. Será nos dias 10 e 11 de abril.
O evento terá o apoio da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra) e do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), e vai integrar a programação da Semana Internacional Brasil Alimenta que será realizado no Parque de Eventos de Bento Gonçalves, de 8 a 11 de abril de 2008
Cidades produtoras de uva e vinho de nove Estados brasileiros deverão estar presentes ao evento. O Brasil conta com 162 municípios produtores de uva e vinho distribuídos nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás, Bahia e Pernambuco. o fortalecimento do setor vitivinícola nacional. e a troca de experiência com análise dos problemas diversos

15.10.07

#%+@$*&!!

“O que esse #%+@$*& do Al Gore sabe de vinhos? O melhor é encher sua boca de rolhas e mandá-lo passear”. Li esses comentários na Decanter online sobre a conferência que o Prêmio Nobel da Paz e ex-vice-presidente norte-americano fará sobre mudança de clima e seu impacto sobre os vinhos, em fevereiro de 2008, em Barcelona.
O fato de Gore ter dividido o Nobel com os cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças de Climáticas já o credencia. Ele sabe que o clima nas regiões apropriadas para o cultivo da vinha (entre os paralelos 30 e 50, em ambos os hemisférios) já começou a mudar. Nas tradicionais áreas frias e úmidas, como a Inglaterra, já se produz vinhos de qualidade. E, ao contrário, nas regiões temperadas e quentes as dificuldades já se apresentaram. Continuar a cultivar as variedades clássicas começa a ficar difícil. Estudam já novas variedades, novos clones e uvas híbridas, com maior resistência às novas condições climáticas. Diferentes técnicas terão de ser pensadas. O efeito estufa promove prejuízos em todos os setores (não apenas o do vinho) em conseqüência de secas e enchentes, tornados e tormentas devastando grandes áreas do planeta: os prejuízos exorbitantes com a perda de vidas, reconstrução de cidades, portos, fábricas, cultivos, fome, saúde etc.
Al Gore pedirá atenção, por exemplo, para as destrutivas pegadas de carbono deixadas pela produção e transporte. Poderá comentar sobre itens algo esquecidos, como a moda em produzir garrafas bem mais grossas, de modo a induzir o consumidor a pensar que dentro delas vai um vinho melhor. Uma pesquisa inglesa demonstrou que os consumidores ao examinarem uma garrafa de vinho dão preferência, pela ordem: à variedade da uva (74%), ao preço (66%), ao país de origem (63%), à cor da garrafa (10%) e ao peso da garrafa (7%). 63% dos pesquisados acham que o vinho, qualquer vinho, deve se apresentar numa garrafa de vidro. Embalagens de plástico e em Tetra Pak tiveram 37% de aceitação. Al Gore e todos nós sabemos que o problema do aquecimento é obra dos homens.
E o prejuízo causado pelo transporte? Australianos estão começando a embarcar vinho a granel em containers para a Inglaterra. A bebida será engarrafa no destino. Os chilenos fazem isso há anos (para os EUA principalmente). É muito mais barato. O planeta acabará implodindo com a emissão de gases resultantes do transporte de garrafas pra lá e pra cá.
Imagino que Gore não vá girar uma taça, cheirar o vinho, provar dele e dar a sua nota. Vai mais uma vez explicar que o problema é gravíssimo, que está em nossas mãos minimizá-lo e adotar medidas severas, caso contrário nossos filhos e netos vão conviver com os efeitos catastróficos dessa atitude irresponsável de consumir sem remorsos os recursos naturais do planeta.
Sabe o que mais? #%+@$*& é quem fez o tal comentário.

11.10.07

Decantar ou não?

Descobriram que você gosta de vinhos e, logo, logo, acabou presenteada com um decantador. É uma peça linda, decorativa, na qual qualquer vinho fica mais vistoso. Mas a pergunta é: a amiga alguma vez já usou o decantador?
Usar ou não usar, quando usar, para vinhos jovens, maduros, só para tintos, para tintos e brancos? Para espumantes? A controvérsia é grande.
Um dos mais reverenciados enólogos do planeta, o Professor Émile Peynaud, francês responsável por muitas das mais modernas idéias sobre vinificação, não achava necessário decantar – a não ser para eliminar sedimentos: cristais de tártaros nos brancos e partículas de componentes de cor e fenóis polimerizados (taninos, em sua maioria), nos tintos maduros. Jancis Robinson, no seu “The Oxford Companion to Wine” a define como “uma opção controversa para servir vinho”.
Começa a história. A origem dos decantadores está na Roma clássica, onde a técnica de produzir objetos e utensílios de vidro soprado foi bastante desenvolvida. O vinho era servido em jarras (ou decantadores) de prata ou de vidro, primeiro porque a bebida era armazenada em vasilhames enormes, em ânforas de argila ou em barris de madeira. Desse modo, algum tipo de recipiente era necessário para trazer o vinho desses grandes vasilhames, nas adegas, para as taças na mesa. Surgem então jarras de vidro (ou de metal) para fazer esse serviço. Seriam os primeiros decantadores. Mas lá pelo século V, o império Romano entrou em colapso e a produção de vidro declinou.
No século XVI, os Venezianos redescobriram a tecnologia do vidro de sopro e suas belas e rebuscadas taças, garrafas e outros vasilhames percorreram o mundo e foram largamente copiadas.
No início do século XVII, conseguiu-se produzir garrafas mais resistentes, além de muito escuras e pesadas, com um formato de cebola, com a base chata, e gargalo muito curto e corpo globular - um formato impossível de colocá-las na horizontal, mesmo que tivesse uma rolha tampando-as. Eram utilizadas mais para servir vinhos e não para guardá-los. Ou seja: uma espécie de decantadores.
Artefatos de cortiça, como as tampas, representavam uma tecnologia muito nova no século XVI e ninguém pensou em tampar as garrafas com rolhas de cortiça. Assim, tampas de vidro eram ocasionalmente utilizadas para selas essas garrafas, pelo menos temporariamente.
Com o costume de uma tampa de vidro para cada garrafa, tornou-se imperativo que os dois itens não mais se separassem, pois as tampas não eram intercambiáveis. Cada uma cabia apenas na garrafa para a qual havia sido feita. Assim, eram permanentemente presas por um cordame ou fio metálico ao gargalo. Podemos verificar vestígios dessa prática em algumas das garrafas de hoje, que possuem uma aba em suas bordas.
É no início do século XVIII que se redescobriu algo muito importante: as safras, a idade dos vinhos e o que pode acrescentar na qualidade da bebida. Se pudéssemos guardar os nossos melhores vinhos bem guardados eles poderiam melhorar enormemente. E a melhor maneira de armazenas um vinho seria numa garrafa de vidro se tampada com um novo e exótico material: a cortiça.
A guarda de vinhos, ótima para desenvolver a bebida, resultava, porém, num probleminha: camadas e mais camadas de sedimentos na garrafa. É compreensível: na época, as técnicas de filtragem, estabilização, afinamento não estavam ainda desenvolvidas e muitos vinhos liberavam sedimentos, cristais de tártaro, ficavam foscos, enevoados. A resposta para isso foi, naturalmente, decantar os vinhos num vasilhame límpido deixando para trás os detritos.
Assim, as pessoas podiam decantar seus vinhos bem antes de amigos ou visitas chegassem para um jantar. Os vinhos estariam dispostos em diferentes decantadores, cada um apropriado para os vários tipos de pratos, cada um com um etiqueta de identificação dependurada no gargalo.
O decantador hoje. Ele ganhou uma nova função, a de fazer com que os vinhos despertem para seus aromas e sabores.
A maioria dos decantadores é feita de vidro transparente, incolor, com volume entre 30 a 50% maior do que o da garrafa padrão (750 ml), com bastante espaço para deixar o vinho “respirar”, esticar as pernas, liberar seus aromas. No caso dos sedimentos, a operação é mais delicada: você tem de despejar o conteúdo da garrafa no decantador e, com uma lanterna ou vela sob a o gargalo da garrafa, ficar atento para os sedimentos não passem para o decantador.
Pela minha experiência, esse “respiro” não apenas levanta os aromas, como ajuda também a eliminar o que eventualmente restou de dióxido de carbono (CO2) na garrafa (deixando o vinho um tantinho frisante). A bebida fica mais macia. Se ela apresenta uma apreciável quantidade de sulfitos, a decantação vai oxidá-los e eliminar esses aromas (de fósforo queimado). Isso acontece muito nos vinhos com rosca metálica (é a tal da “redução”, uma condição que resulta da ausência total de ar). Os vinhos marcados fortemente com sabores e aromas de madeira (como muitos Chardonnay do Novo Mundo) vão perder um pouco essa característica e mostrar mais as frutas. Aqueles muito tânicos ficarão menos adstringentes e mais amistosos, saborosos e aromáticos.
Decantar vinhos mais delicados, como um Pinot Noir, um Sauvignon Blanc, um Riesling ou um Beaujolais não vai melhorá-los. Mas um Chardonnay com muito carvalho, um Cabernet Sauvignon encorpado ou um Amarone vão se beneficiar. Alguns livros, inclusive, recomendam que o caríssimo toscano Brunello di Montalcino, feito com a Sangiovese, deve ser decantado um dia antes de servi-lo.
Ah, ia me esquecendo: até mesmo os espumantes podem ser decantados. Isso é feito de modo a que esses vinhos liberem um pouco do gás carbônico e se tornem mais cremosos, frutados e menos ácidos. O dono da Riedel, Maximiliam Riedel, criador das mais famosas taças de cristais para vinhos, homem refinadíssimo, diverte-se e espanta convidados quando decide decantar champagne. “Surpreendo meus amigos americanos quando decanto Champagne. Os americanos pensam que é necessários termos muitas bolhas, mas para mim uma Krug ou Dom Pérignon são até melhores sem elas, pois você então pode efetivamente provar o vinho”. Leia a entrevista de Riedel aqui.
O caso é que se decantam espumantes desde o século XIX. O objetivo, claro, não é fazer com que eles percam suas bolhas, mas que seus aromas e sabores se apurem mais, não se deixem esconder pela efervescência, fiquem mais macios. É só um tempinho no decantador (que tem o gargalo bem menor do que o feito para vinhos tranqüilos, como você pode ver aqui).
Afinal, decantar ou não? Tire a dúvida você mesma, amiga. Faça um teste e comece a usar o decantador que você ganhou e largou num canto. Com duas garrafas de um mesmo vinho, da mesma safra, decante o primeiro meia hora antes de servi-lo. Abra o segundo e sirva-o imediatamente. Compare-os. Pelo meu gosto, o do decantador sai-se melhor.
Da Adega.
Um gás para a vodca. A Orloff reformula a sua linha, o que compreende não só embalagens, mas uma família de vodcas cinco vezes destiladas (a bebida passa de três vezes destilada para cinco) e a Orloff Gás: uma vodca efervescente, mais refrescante. A Orloff é uma vodka nacional produzida no Brasil desde a década de 60. Elaborada a partir do álcool de cereais, a marca sempre é pioneira no mercado nacional. Em 2006, ganhou a sua primeira variante com sabor, a Orloff Mix Lemon e agora chega com fórmula evoluída (cinco vezes destilada) e a versão efervescente. Veja mais no site da
Pernod-Ricard.

27.9.07

Esqueça o saca-rolhas

Já temos o nosso primeiro vinho com tampa de rosca (screwcap): são dois rótulos da linha Sunny Days, dos Vinhedos Almadén, de Santana do Livramento, RGS, pertencentes ao poderoso grupo francês Pernod-Ricard, o segundo maior em vinhos e destilados no mundo.
As tampas de rosca parecem ser até agora a melhor solução para o grave problema da contaminação pelo TCA (2,4,6-trichloroanisole), um componente químico que infecta a rolha, deixando a bebida intragável. Estima-se que, no total, a indústria vinícola perca entre 3 e até 10% de seus vinhos pela “doença da rolha”.
Uma rolha contaminada vai naturalmente infectar o vinho, deixando-o com aromas de mofo e sabores rançosos. Se a vinícola tiver sorte, o consumidor identificará o problema (TCA), e ganhará uma nova garrafa. Se tiver azar, o consumidor não saberá do que se trata e vai maldizer aquele vinho. Um senhor prejuízo e, daí, a busca por tampas alternativas.
A Nova Zelândia lidera a busca pela mudança, favorecendo as tampas de rosca, seguida pela Austrália e Estados Unidos. Até Bordeaux, tida como um bastião do tradicionalismo, já oferece um Deuxième Cru Classé com tampa de rosca. É o Les Tourelles de Longueville, o segundo vinho do famoso Château Pichon-Longueville.
É grande a controvérsia envolvendo as tampas de cortiça natural e as alternativas, principalmente as tampas de rosca. As rolhas de cortiça ainda lideram a preferência de consumidores e vinicultores. Uma pesquisa recente, realizada pela empresa de pesquisa e consultoria, a inglesa Wine Intelligence, dedicada à indústria do vinho, mostra que as rolhas de cortiça ainda são, por larga margem, as preferidas – tanto por consumidores quanto por produtores. Contudo, demonstra também que as tampas de rosca de metal estão cada vez mais ganhando as simpatias desses dois públicos.
No seu livro “To Cork or not to Cork” (Scribner, 2007) - mais ou menos “Arrolhar (com cortiça) ou não arrolhar (com cortiça)” -, o americano George M. Taber informa que a produção mundial de rolhas de cortiça foi de 16 bilhões de unidades (80% do total), contra 2,5 milhões de rolhas de plástico (12,5%), 1,5% bilhão de tampas de rosca (8,5%) e 20 milhões de tampas de vidro (as Vino-Seal, também da Alcoa, com 1%).
Em termos de popularidade por país, esse autor diz que as rolhas de cortiça têm 84% na França, 80% nos Estados Unidos, 5% na Nova Zelândia e 30% na Austrália. As de plástico chegam a 13% na França, 15% nos Estados Unidos, 1% na Nova Zelândia e 20% na Austrália. As tampas de metal conseguem 3% na França, 5% nos Estados Unidos, 95% na Nova Zelândia e 50% na Austrália.
Claro que essa pesquisa foi feita perguntando ao consumidor o que ele prefere ou não. Porém, pesquisadores da Universidade do Estado do Oregon, EUA, mostraram um trabalho, em julho de 2007, no qual os consumidores não conseguiram diferenciar entre vinhos com rolha de cortiça, sintética ou com tampa de rosca. Ninguém perguntou nada: pediram apenas que experimentassem vinhos (cujas tampas ficaram desconhecidas).
O vinicultor da Tablas Creek Vineyard, Jason Haas produz vinhos que, dependendo do estilo desejado, ora utilizam tampas de rosca, ora de cortiça. Como profissional, ele diz que os vinhos com as tampas metálicas são mais refrescantes, são mais ácidos, mais minerais. Os com tampa de cortiça parecem mais suaves, mais doces, mais maduros, com um paladar menos ácido, o que equivale a uma percepção de doçura. Haas é um técnico, treinado para saber das diferenças – que o consumidor, como vimos na pesquisa do Oregon, não percebe.
Em resumo: muito da força da rolha de cortiça reside na tradição, na imagem de que garrafas com essa tampa oferecem vinhos de maior qualidade. Uma imagem construída há séculos. Afinal, os romanos as utilizavam desde 500 a.C. Saem de uso em 500 d.C., em razão do caos provocado pela queda do Império. São citadas até por Shakespeare, no seu “As You Like It” (“Como quiseres”, de 1599). Até que em 1632, a criação das garrafas de vidro fez proliferar o uso das rolhas de cortiça. O curioso é que o saca-rolhas foi patenteado muito tempo depois, em 1795. Como será que faziam sem ele? Pois ele é fundamental no cerimonial de abertura da garrafa. É uma prova de fogo para o garção. Se não passar por ela, ele é demitido.
Já as tampas de rosca vêm fechando potes de alimentos, com toda a segurança, desde 1858 – quando uma tampa dessas foi patenteada pelo inglês John Mason. E vêm fechando uísques, dos mais simples aos mais nobres, desde 1926. Com relação às garrafas de vinho, a França começou a pesquisá-las em 1959. Em 1972, vinícolas suíças lançaram com sucesso as tampas Stelvin (do grupo Alcoa) e as estão usando até hoje. Os neozelandeses e australianos as empregam desde 2000. Sem reclamações.
As queixas mais comuns contra as sintéticas são que podem passar um sabor de plástico aos vinhos. Funcionam bem apenas para vinhos feitos para serem bebidos imediatamente após a compra (a maioria deles). A grande queixa, porém, é a da extrema dificuldade de retirá-las e a quase impossibilidades de serem recolocadas na garrafa. É dose: já pedi ajuda até ao carteiro para desarrolhar vinhos com elas.
Isso não acontece com as tampas de rosca: simplicidade e praticidade são duas de suas maiores características. Só que sua imagem está ligada a vinhos de baixa qualidade. Mas esse impedimento parece que está caindo.
Entre os profissionais, têm-se os vinhos fechados com tampa de rosca podem desenvolver aromas “redutivos”. “Redução” é o oposto de oxidação. Durante o processo de vinificação, o vinho faz contato com o oxigênio (o fermento não viveria sem ele). Quando o vinho é engarrafado, o seu meio muda, nada de oxigênio, e ele se torna “redutivo”. O vinho em contato com um ambiente oxidativo vai irremediavelmente morrer. Mas a oxidação pode ser parte de um estilo de vinificação, pode ser administrada. Essa seria uma das vantagens da cortiça: deixar passar mínimas quantidades de oxigênio ao longo dos tempos, quando o vinho ganharia mais complexidade.
Mas um vinho com tampa de rosca praticamente não deixa passar nada (embora já exista uma tampa de rosca, a Stelvin Lux, feita de modo a permitir a passagem de pequena quantidade de oxigênio, imitando a porosidade da cortiça). Esses vinhos, contudo, podem desenvolver aromas originários do fato de estarem num ambiente “redutivo” (aroma de suor ou de animais, por exemplo). Mas isso não destrói o vinho. Basta abri-lo e deixá-lo arejar por um tempinho.
Além do fato de eliminar o risco da contaminação pelo TCA, e serem facílimas de abrir (e fechar), as tampas de rosca afastam também a ameaça esporádica da oxidação. E facilitam o armazenamento do vinho na vertical (ganhamos espaço e facilmente identificamos a garrafa). Além disso, são mais resistentes às alterações da temperatura (as rolhas “trabalham” com essas alterações, aumentando ou diminuindo o seu volume, facilitando a entrada do oxigênio ou a saída da bebida). Elas também não são afetadas pela umidade ou pelos odores do ambiente.
A linha Sunny Days da Almadén, agora modernizada com as tampas de rosca, vem nas versões Branco e Blush (rosado). São vinhos frisantes, e, segundo vinícola, bem refrescantes e aromáticos, suaves e frutados. Feitos para um dia de verão.
Se a leitora quer experimentar esses vinhos pioneiros com tampa metálica é só visitar o site da Pernod (veja aqui) ou falar com a Allys Franco, da divulgação, pelo allys.franco@brodeur.com.br
Ajude um garção a continuar no trabalho, leitora. Experimente os Sunny Days e depois conte para nós o que achou.
Da Adega
Grande degustação de vinhos da terrinha
. Mais de 200 rótulos de importantes vinícolas e regiões portuguesas estarão sendo degustados hoje, 27, em reunião supimpa promovida pelo Cônsul de Portugal, Sr. Antônio Almeida Lima, e sua esposa Vanda, nos salões de sua residência, no Palácio São Clemente, em Botafogo. Além do consulado, promovem o evento a ViniPortugal e a AICEP. O objetivo é, claro, divulgar os vinhos lusitanos e atingir novos grupos de consumidores aqui.
No belo Palácio, um dos marcos arquitetônicos do Rio, são esperados 400 convidados, entre críticos, consultores, empresários, grandes consumidores de vinhos e profissionais do setor como donos de restaurantes, de lojas e sommeliers. O evento acontecerá das 16 h às 21 h.
As importadoras participantes são: Adega Alentejana, Aurora, Barrinhas, Casa Flora, Casa Aragão, Carvalho e Filhos, Caves Aliança, Comercial Beirão da Serra, Decanter, Diageo Brasil, Expand, Enoport - Dom Teodósio, Euro Real, Grand Cru, Impexco, Interfood, La Pastina, Lusitana, Mistral, MGC, Msé Trading Company; Paralelo 35 Sul, Portugal Trade Show, Qualimpor, Vinhas do Douro, Vinci Vinhos, Wine Company e World Wine.

20.9.07

O pote de maionese

O que o vinho representa na minha vida? Eu circulo exclusivamente em torno do vinho? Não faço outras coisas?
Essas perguntas se repetem e se repetem. Não são a maioria delas, mas estão sempre se repetindo. Então vou tentar responder recontando uma historinha que circula há bastante tempo na internet. É a história do “Pote de Maionese”. O Google diz que existem quase 900 mil resultados para Mayonnaise Jar, que é o pote em questão.
Sua autora ou autor não são conhecidos. Um endereço jura que é uma pedagoga norte-americana especializada em crianças. E existem versões dessa história, cujo título original é “O Pote de Maionese e as Duas Xícaras de Café”. Bem, ora são duas xícaras de café, ora são duas canecas de cerveja, depende da versão que você encontrar. Não faz muita diferença.
No caso da minha (que vai logo aí abaixo), e em atenção às leitoras curiosas, eu optei por duas taças de vinho. Eis como conto a história do pote, com um mínimo de alteração:
  • Um professor, diante de sua turma, prepara-se para uma aula de filosofia. Tem diante dele alguns itens. Quando a aula começa, sem dizer uma palavra, o mestre pega um grande pote de maionese vazio o começa a enchê-lo com bolas de golfe. Então, pergunta aos alunos se o pote está cheio. Todos concordam que está.
    Em seguida, o nosso professor pega um punhado de pedras de brita bem pequenas e as despeja no pote. As britas rolam pelas áreas disponíveis entre as bolas de golfe. E, mais uma vez, o professor pergunta se o jarro ficou cheio. Sim, todos concordam.
    Mas agora o professor pega uma caixa de areia e despeja seu conteúdo no pote. Claro que a areia ocupou todos os espaços restantes. E a classe, mais uma vez, assente que o pote desta vez está completamente cheio.
    Foi aí que o mestre apareceu com duas taças de vinho que estavam debaixo da mesa. E as derramou no pote, dessa vez efetivamente lotando todo o espaço. Os estudantes riram.
    “Agora, disse o professor, enquanto a turma ria, quero que vocês considerem esse pote como representante de suas vidas. As bolas de golfe são as coisas importantes: família, filhos, saúde, amigos, suas paixões, coisas que, se tudo o mais fosse perdido, e só elas ficassem, suas vidas ainda continuariam repletas”.
    “As pedras são as outras coisas que importam: o trabalho, a casa, o carro. E a areia representa o resto, as pequenas coisas”, explicou o mestre.
    “Se colocarmos a areia primeiro no jarro”, continuou, não haverá espaço para as coisas que são verdadeiramente importantes para nós. Temos que prestar mais atenção àquilo que é crítico para a nossa felicidade. Brincar com os filhos, ter tempo para cuidar da saúde. Levar o namorado para jantar. Jogar mais uma partida [de golfe].”
    “Sempre haverá tempo para arrumar a casa, lavar o carro. Verifique as suas prioridades, pois o resto é areia”, finalizou o professor.
    Foi quando um estudante levantou a mão e perguntou o que o vinho representava.
    O professor sorriu: “Que bom que você perguntou. Ele demonstra que não importa o quanto a sua vida parece cheia, sempre haverá espaço para umas taças de vinho com um amigo”.
Amigas, faço uma porção de coisas: crio galinhas d’angola (ou “to fraco” ou faraonas, em italiano, pintades, em francês) e as vendo para outros criadores ou restaurantes. Ainda faço trabalhos para publicidade (na área de planejamento). E tive um comércio de vinhos – que fracassou. Mas aí já era tarde, a bebida tinha penetrado por todo o meu “pote”. E o vinho tem me acompanhado desde então, cada vez mais abrindo espaço para que saiba um pouco mais de história, de geografia e dos caríssimos seres que me rodeiam. As colunas que assino são resultado disso tudo.
Muita gente acha que o filme Sideways é sobre uma viagem de dois amigos a uma região produtora de vinho. Eu já acho que é sobre amor, amizade, relacionamentos, auto-avaliação. O vinho serve como metáfora para tudo isso.
Ah, mas a história não termina aqui. Na verdade, o autor começa a história com uma espécie de moral:
Quando parece que temos coisas demais para fazer, quando 24 horas por dia não são o bastante, lembrem-se do Pote de Maionese e das Duas Taças de Vinho.
A amiga já avaliou o seu pote? Quais as suas prioridades? Cabe espaço para mais umas taças de vinho?
Da Adega
Curso de sommeliers. Atenção: a SBAV-SP está lançando um Curso de Sommeliers com o objetivo de preparar profissionais para o mercado do vinho em restaurantes, lojas, empórios e afins. Terá a duração de 40 semanas e será dividido em quatro módulos com dez aulas cada. Para ingressar no módulo seguinte, os alunos devem fazer um exame e recebem um diploma com a quantidade de horas/aula e os temas estudados em cada etapa. As aulas, sempre às terças-feiras, das 15h30min às 17h30min horas, são ministradas por enólogos, engenheiros de alimentos, perfumistas, sommeliers e especialistas em cervejas, destilados, charutos, cafés e chás. Carina Cooper, César Adames, Gianni Tartari, Rosana Wagner e Manuel Luz são alguns dos professores. O primeiro módulo tem início no dia 2 de outubro e segue até 11 de dezembro.
A SBAV-SP fica na Alameda Gabriel Monteiro da Silva, 2586, em São Paulo. Inscrições e outras informações podem ser obtidas pelo telefone (11) 3814-7905, com Nelson, ou pelo site www.sbav-sp.com.br.
A Sociedade Brasileira dos Amigos do Vinho, primeira sociedade enológica brasileira, foi fundada em São Paulo há 27 anos, com o intuito de reunir apreciadores da bebida para degustações, troca de conhecimentos e difusão do mundo do vinho.
V Concurso do Espumante Fino Brasileiro. Já saíram os resultados do V Concurso do Espumante Fino Brasileiro, evento promovido pela Associação Brasileira de Enologia (ABE) e que foi realizado no Hotel Casacurta, no município de Garibaldi, RGS. Estamos falando da maior avaliação de espumantes nacionais. Das 147 amostras inscritas, 44 foram premiadas: 37 com medalha de ouro e 6 com medalha de prata.
Veja a lista dos premiados no site da
Academia do Vinho. E faça já a sua lista para as festas de fim de ano.

13.9.07

Esqueceram das brancas!

A uva vinífera pertence ao gênero Vitis na classificação botânica. E ela é organizada por divisão, classe, ordem e família. Com relação às suas vinhas, o gênero Vitis apresenta inúmeras espécies. As mais comuns são a Vitis vinifera, Vitis labrusca, Vitis aestivalis, Vitis rotundifolia e Vitis editorialis (produtora da famosa casta Diniz).
Mas onde queríamos chegar mesmo é que essas uvas crescem em plantas perenes, em cachos, e se apresentam em quase todas as possíveis cores: dourada, verde, púrpura, vermelha, marrom, pêssego, branca, preta, azul, rosa etc.
As uvas brancas derivam das tintas. Através de uma mutação, as antocianinas não são produzidas nas brancas. As antocianinas são parte de um grupo de fenóis responsável pela cor das uvas tintas e pretas. São pigmentos comuns no mundo das plantas e respondem pelas cores de vermelhas a azuis nas folhas, frutos e flores. A palavra vem do grego anthos (flor), mais cyan (azul).
Essa antocianina é também uma das substâncias responsáveis pelos efeitos benéficos da uva e do vinho para a nossa saúde. Veja reportagem sobre as experiências do professor Roberto Soares de Moura, no Instituto de Biologia Roberto Alcântara Gomes.
A crítica americana Jennifer Jordan comenta que “a ausência de antocianinas deixas as brancas, assim, brancas e metaforicamente vermelhas de inveja”. Isso porque aparentemente as tintas tenham conquistado a preferência do consumidor, em princípio devido a sua associação com a saúde. Talvez não tão vermelhas e nem tão invejosas, assim.
Até fins de 80, as brancas imperavam e a Chardonnay era sem dúvida a rainha de todas as uvas. Mas a campanha “vinho-tinto-faz-bem-à-saúde” não parou desde a história do Paradoxo Francês.
Em novembro de 1991, o programa de TV da norte-americana CBS apresentou uma reportagem sobre a correlação do consumo francês de vinho tinto e baixa taxa de doenças cardíacas na França. No mundo todo, em particular na América, uma multidão correu para as lojas para se abastecer de vinhos tintos, cujas vendas cresceram imediatamente 44%. Essa correlação ficou conhecida como Paradoxo Francês.
E a impressão que se tem hoje é a de que até os críticos de vinho se esqueceram das brancas.
Assim, a partir daquela data, os viticultores mudaram de lado e começaram a plantar as tintas da moda, primeiro a Cabernet Sauvignon e na seqüência a Syrah/Shiraz e depois um bando de outras.
A Master of Wine Jancis Robinson (que voltará ao Brasil em outubro para um evento enograstronômico em São Paulo) analisa esse fenômeno.
“O resultado disso é que em muitas regiões, contudo, tem havido escassez de uvas para a produção de vinhos brancos, porque durante todo esse tempo e apesar de todas as colunas de vinho em jornais e revistas dedicarem-se substancialmente aos tintos a demanda pelos vinhos brancos tem permanecido sólida”.
Até hoje, nos Estados Unidos, nota a crítica inglesa, apenas quatro entre dez garrafas são de tintos. Na Inglaterra, importante mercado para vinhos de todo o mundo, o branco vende bem mais que o tinto. E o mesmo acontece em outro grande importador, a Alemanha. Na Austrália, mesmo com todo o frenesi em torno dos tintos, se consome mais brancos do que tintos. E o quadro na África do Sul é bem parecido. Já no Brasil, a produção de brancos (considerando-se apenas dados do Rio Grande do Sul, segundo a Embrapa) é um pouco maior que a de tintos: 15.273.937 litros de brancos parados mais espumantes contra 13.335.764 de tintos. É inegável a nossa vocação pelos brancos.
“Uma análise do que se lê”, comenta a crítica inglesa, “sugere que vivemos numa era em que só tintos são bebidos”.
Nas lojas de qualquer lugar, o que mais se vê é vinho tinto. Enquanto os tintos são bastante promovidos, os brancos são vendidos sem aviso prévio, quase que às escondidas. Na maioria das adegas domésticas, a maior quantidade é, quase sempre, de vinhos tintos. Servem branco quando a sogra, a madrinha, a mamãe ou qualquer rabo-de-saia visitam.
“É uma situação bizarra”, diz Jancis Robinson, “se consideramos a evolução de nossos paladares culinários”. Ela se refere aos pratos clássicos para combinar com vinhos tintos, quase que a totalidade recomendando carne vermelha, muita carne vermelha. “Mas isso parece que está em queda”.
“Hoje, estamos comendo mais leve: mais peixe, mais vegetais e saladas e mais pratos picantes – nada disso combina com os tintos”. Muita gente ainda insiste em recomendar vinho tinto para fazer par com queijos. Aqui, sempre recomendamos vinhos brancos: não tem cabimento combinar uma bebida mais potente com queijos, igualmente potentes, gordurosos, fortes.
E ainda temos o aquecimento global, onde os brancos e rosados vão pontificar mais que os tintos. Pudera, são opções bem mais refrescantes em ambientes mais quentes.
Outro argumento a considerar é o de que os brancos podem ser tão “sérios”, ter qualidade equivalente à dos tintos. A crítica comenta que sempre se perguntou, por exemplo, porque se convencionou que as taças de vinho branco sejam menores que as de tinto. “Isso quando os brancos encorpados se beneficiam da aeração tanto quanto os tintos. Eu decanto vinhos brancos e reconheço que parecem bem mais bonitos num decantador, cintilantes, dourados – mais apetitosos do que os escuros tintos”.
Jancis observa que uma volta aos vinhos brancos de qualidade está acontecendo já há algum tempo na França, Itália, Espanha e Portugal.
E, de olho no aquecimento do planeta, acredita que estamos para assistir a uma nova revolução: a da explosão dos vinhos rosados, que já está ocorrendo lá fora e aqui.
A amiga vota em que partido: dos brancos, rosados ou tintos?
Da Adega.
Jancis de volta
. Se você é profissional da área ou tem um mínimo de interesse em gastronomia e vinhos, não perca o Tendências, um fórum voltado para chefes de cozinha e profissionais da área, inspirado no Madrid Fusion e no El Major de la Gastronomia. Uma parceria entre a revista Prazeres da Mesa e o SENAC trará ao Brasil chefs como o espanhol Quique Dacosta, Ken Oringer, o crítico Nick Lander e sua esposa, a consagrada crítica inglesa Jancis Robinson. Essa é a primeira edição de Tendências e acontecerá nos dias 23, 24 e 25 de outubro, em São Paulo. Informações pelo (11) 3023-5509 e reservas no (11).5533-8848.

6.9.07

Brincando de Deus

Pois então franceses e italianos acabam de decifrar o genoma das uvas viníferas, através de uma mostra da Pinot Noir, uma das mais antigas e caprichosas variedades existentes, a principal tinta da Borgonha, que faz um dos vinhos mais complexos e sutis do planeta, a paixão de Miles no filme Sideways, responsável por disparar as vendas da Pinot nos Estados Unidos.
O feito poderá ter aplicações práticas para a indústria do vinho, pois responde a importantes questões sobre a evolução das plantas com flores (angiospermas). Descobriram que, comparada a outras, tem duas vezes mais genes produtores de aromas, geram mais taninos e sabores e bem mais resveratrol, o componente dos tintos associados a uma grande variedade de benefícios para a saúde. O produtor saberá melhor onde e como cultivá-la, como proceder a cruzamentos e a produzir clones e a identificar cepas mais resistentes a doenças.
A Vitis Vinifera (a espécie de vinha mais utilizada na fabricação de vinho) é a quarta planta cujo genoma é decifrado. Segundo Jean Weissnbach, 59, diretor da Genoscope, um centro de pesquisas genéticas francês, que participou do consórcio franco-italiano responsável pelo feito, a Vitis foi escolhida porque ocupa um lugar importante na herança cultural da humanidade.
"O estudo do genoma dessa videira foi eleito porque é ela uma espécie muito sensível a inúmeras fitopatogenias (moléstias das plantas)." Para reduzi-las, "a idéia é identificar os genes mais resistentes", o que facilitaria a introdução de cepas mais fortes para cruzamento ou transferência de gene.
O genoma da videira, que conta com cerca de 30 mil genes, é constituído de três genomas reunidos. O genoma do homem é dito "diplóide", porque cada cromossomo está presente em dois exemplares, um transmitido pelo pai e outro pela mãe. O da videira é dito "hexaplóide", porque é constituído de três genomas diplóides, ou seja, de seis conjuntos de cromossomos.
Jean Weissenbach explica que foram necessários pelo menos dois eventos maiores, dos quais um teria acontecido há entre 130 milhões e 240 milhões de anos, para passar das plantas de flores diplóides às plantas de três genomas como a videira.
Leio no Globo que tudo isso resultará num “vinho mais saudável” e, no Bloomberg, “na chance de criar novas nuances no vinho feito dessa uva”.
E o diretor da Genoscope antecipa: “Os vinicultores, ao ligarem e desligarem esses genes, poderão somar ou subtrair características de seus vinhos”. E acrescentou: “Por muito tempo o homem tem tentado selecionar sabores por meios clássicos. Vamos ver se podemos fazer melhor”. É, vamos ver.
Começa que tomo vinho por prazer e não em função de saúde. Mas agora temo por ela. Caímos no terreno do geneticamente modificado, (GM) – prática, por sinal, banida na União Européia. O caso é que se eu “ligar ou desligar” um gene de João, ele deixa de ser João. A Pinot Noir deixa de ser Pinot Noir.
Só essa uva possui pelo menos 46 clones autorizados na França (veja os casos da Pinot Blanc, Pinot Gris e Pinot Meunier), todos por mutação natural. Existem pelo menos 10 mil variedades conhecidas da vinifera.
Se quisermos “novas nuances” basta escolher uma entre as centenas de garrafas num supermercado. Tem Pinot Noir francesa, alemã, italiana, americana, australiana, neozelandesa etc. E isso sem “ligar e desligar” genes, sem alterar DNAs. Como “fazer melhor”?
Acho que experiências genéticas com as vinhas podem vir a se constituir numa verdadeira revolução, mas se tratadas com muito cuidado, com as pesquisas sendo verificadas por um organismo independente e realizadas num ambiente confinado, por prazos muito longos, assegurando-se que as inovações ocorram a partir de métodos compatíveis ecologicamente.
Já aconteceu com as culturas geneticamente modificadas de milho e soja contaminaram outras culturas antes que as devidas pesquisas fossem feitas.
O mesmo pode acontecer com as vinhas, com conseqüências irreversíveis. E o tal João poderá até virar um monstro.
Essa história de genes mais resistentes a doenças dá o que pensar. Denis Dubourdieu é figura conhecida e respeitada em Bordeaux. Pesquisador e ao mesmo tempo vinicultor, é respeitado mundialmente pelos seus trabalhos sobre a vinificação do vinho branco.
Eis o que ele afirmou uma entrevista à revista Decanter: “Um grande vinho é igual a complexidade e o papel dos produtos geneticamente modificados é o de simplificar. Apenas isso já os faz desinteressantes. Os que estão a favor argumentam que as vinhas geneticamente modificadas eliminariam a necessidade, por exemplo, de fungicidas. Mas eles não dizem que as plantas geneticamente modificadas trazem dentro deles um fungicida”.
Querem mais? Li num artigo científico sobre vinhos GM, do professor Joe Cummins, do Instituto de Ciência em Sociedade, de Londres, que “genes sintéticos, toxinas e cianureto são alguns dos elementos que poderão estar nos vinhos em sua mesa”. Confira aqui.
Acreditem, não sou contra a intervenção humana no processo: eletricidade, tanques de aço, gás inerte, lascas de carvalho, lençóis de plástico sob as vinhas, seleção de clones, enzimas, filtragem estéril etc. Tudo bem. O problema é que engenharia genética para os vinhos ainda está em testes, mas já é um grande negócio.
O mais famoso consultor de vinhos do mundo, o francês Michel Rolland, certa vez declarou ao New York Times que, essencialmente, o “vinho é um negócio”.
Vale tudo para vender. Também entendo isso, mas brincar de Deus para no final colocar cianureto numa garrafa é dose.
A amiga acha que o vinho é apenas um negócio ou um prazer a ser desfrutado com segurança? Fale aqui para a Soninha no soniamelier@terra.com.br
Da Adega
ProChile 2007
. A 4ª. Degustação Anual de Vinhos Chilenos, com degustações no Rio e em São Paulo, no final de agosto, foi sucesso absoluto. Os vinhos chilenos já estão em primeiro lugar entre os vinhos que importamos, deixando para trás a Argentina, Itália e Portugal. Os chilenos, de janeiro a maio deste ano, já exportaram 6.255.492, 50 litros de vinhos. E olha que somos apenas o 8º maior mercado para o Chile, ficando atrás do Reino Unido, Estados Unidos, Alemanha, Canadá, Holanda, China e Dinamarca. De 100 marcas contidas nas listas de restaurantes americanos, 15 são franceses, 7 são italianos, 2 australianos e 1 é chileno (segundo o relatório anual do The Restaurant Magazine). Eles não só sabem fazer como promover seus vinhos.
Casa Valduga é Ouro. O espumante Casa Valduga Extra Brut Gran Reserva 2002 conquistou a Gran Medalha de Ouro no “Wine Brasil Awards 2007”, premiação do Concurso Mundial de Bruxelas destinada aos vinhos brasileiros. O espumante, no início do ano, já havia recebido uma medalha na França. O espumante é feito pelo método champenoise, com as uvas Chardonnay e Pinot Noir.
A Casa Valduga, no mesmo Brasil Awards, obteve mais dois ouros: pelo seu Casa Valduga Identidade Ancelotta 2005, um tinto, e pelo branco Casa Valduga Chardonnay Gran Reserva 2005.
A Valduga fica no Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves (RS). Visite o site:
www.casavalduga.com.br.