26.3.10

Bebendo as estrelas

1. Sabor e aroma nas bolhas. Elas são responsáveis por muito das delícias dos espumantes, do champanhe em particular. Não calcule o que pode fazer uma minúscula bolha. O cheiro típico da maresia, por exemplo, deve muito às bolhas. As ondas as formam, delas sobem bolhas que carregam consigo componentes que promovem a maresia.
Esses componentes são chamados de tensioativos. Possuem uma extremidade que se dá bem com a água, fica em contato com o mar. A outra ponta, que não tolera água, fica dentro da bolha. Quando ele finalmente explode, esses componentes são liberados para o ar nas vizinhanças das ondas que os formaram
Esses tensioativos são importantes nos produtos de limpeza, nos detergentes, por exemplo. Removem a sujeira, pois sua estrutura possui uma parte que hidrófila, que “gosta” da água, e outra hidrofóbica, que evita a água. No processo de limpeza, a sujeita é deslocada para o interior das bolhas, ficando em suspensão, evitando que volte a depositar-se na superfície que está sendo limpa.
Uma taça de Champagne é como se fosse um oceano em miniatura. Ao retirarmos a rolha da garrafa, bolhas de dióxido de carbono se formam e sobem para a superfície. Trazem com elas esses compostos tensioativos, carregados de aromas e odores. Quando as bolhas explodem liberam esses aromas ficam pairando no ar sobre a bebida.
Essa propriedade foi descoberta graças a uma pesquisa feita pela Universidade de Reims (a maior cidade da região de Champagne, França, produtora dessa maravilhosa bebida). Uma garrafa de Champagne pode produzir cerca de 100 milhões de bolhas e oferece ainda uma boa área para hospedar os tensioativos.
Os pesquisadores, usando espectômetros de massa de alta resolução, analisaram as diferenças entre o champanhe na taça e no ar sobre a mesma. Registraram centenas de componentes concentrados no ar, todos originários da garrafa. As análises demonstraram que esses componentes tinham seu papel na composição do sabor e do aroma da bebida.
O que acontece é que essas bolhas funcionam como aerossóis, projetando-se por vários centímetros sobre a superfície do líquido, onde pipocam e liberam aromas e sabores.
2. Quanto mais bolhas, melhor. Como conseguir o máximo de bolhas nas taças? Em primeiro lugar, mantenha a bebida bem resfriada. As bolhas são produzidas pelo dióxido de carbono (criado por uma segunda fermentação na garrafa), um gás que se faz mais solúvel quando o líquido em que habita está geladinho. É por isso que em bebidas carbonatadas – do Champagne ao guaraná – perdem logo o seu gás quando mornas ou quentes.
As bolhas são formadas pelas imperfeições da taça. Alguns fabricantes produzem arranhões no interior da taça (com dispositivos a laser ou com ferramentas especiais) de modo a que a formação de bolhas seja contínua. Por falar nisso: as tulipas ou flutes são as taças preferidas, com o seu formato agindo com uma chaminé para capturar e ao mesmo tempo canalizar as bolhas.
3. Como preservar as bolhas? Talvez a compra de Champagne ou de espumantes fosse maior se não fôssemos obrigados a beber toda a garrafa. Com os vinhos parados, podemos simplesmente recolocar a rolha (ou a rosca metálica) e beber o que restou depois. Mas com o champanhe temos o problema das bolhas. Como poupá-las? Suas rolhas, uma vez retiradas, só por mágica podem ser recolocadas.
Resolvo isso com uma tampa específica para isso, vendida em qualquer boa casa de acessórios. Bebo meia garrafa num dia, coloco essa salvadora tampa e deixo o resto para o dia seguinte. Inclusive, acho que alguns champagnes mais jovens ficam mais interessantes depois de abertas por um dia. Veja essa tampa.
4. Mais leves. Agora mesmo, os produtores de Champagne anunciaram uma redução no peso de suas robustas garrafas. A garrafa padrão, de 750 ml, pesando 900 gramas, ficará mais leve 65 gramas. Tudo em nome de reduzir os custos com transporte e com ele reduzir as emissões de gás estufa. Com isso, o pessoal de Reims calcula que essas emissões de dióxido de carbono cairão para oito mil toneladas métricas, iguais ao produzido por quatro mil automóveis.
As novas garrafas foram testadas por dois anos de modo a assegurar que não explodam na cara dos consumidores.
5. Champagne: uma exceção. O ótimo crítico inglês Andrew Jefford fala que essa lendária bebida é cheia de paradoxos. Nota que a “poesia do vinho francês é expressa pelo verso da safra”. Em todo o lugar é assim: a colheita desse ou daquele ano foi boa, ótima, sofrível. Como virá o vinho. Em todo o lugar é assim, menos na região de Champagne, onde a maioria dos vinhos não traz no rótulo o ano da colheita.
Observa também que os espumantes são um bicho diferente dos vinhos parados. São mais industriais: são vinhos de processos, mais industriais, mais manipulados do que de lugar (de terroir). Os champagnes têm sabor desses processos (aqueles sabores de biscoito, de levedo). Mais do que de um lugar, de uma região. São sabores que resultam de misturas de vários vinhos parados, feitos em anos diferentes.
Mas o que importa mesmo, no fim das contas, é a soma de belas surpresas que essas bolhinhas produzem. Dom Perignon, quando provou champagne pela primeira vez, declarou: “Estou bebendo as estrelas” (sem se importar se as bolhas tinham componentes tensioativos ou não).
Da Adega
Páscoas.
Tanto a cristã como a judaica acontecerão em datas muito próximas. A primeira, domingo, quatro de abril. A segunda, um pouco mais cedo, 30 de março.
A butique de doces comandada pela chef pâtissière Mara Mello, em São Paulo, criou doces, bolos, tortas e bavaroises (sobremesa fria feita com um molha de leite e ovos, creme e gelatina) que certamente vão servir e agradar judeus e cristãos. No cardápio cristão destacam-se os ovos de ganache de framboesa com manjericão. Para a festa judaica, tortas de marzipã com ganache de mel e a macaron de chocolate com banana e gianduia, ambas, claro, sem fermento, como manda a tradição.
Na loja, podemos também comprar bombons feitos com chocolate francês Valrhona. Ou belga, o Callebaut, kosher. A Pâtisserie Mara Mello fica na Alameda Monteiro da Silva, 1308, Jardim Paulistano, São Paulo, SP. Veja o site.
Vinhos e chocolate. Não me arrisco a recomendar. No máximo, tente com um Tokay Azsú, um Bual, tintos bem maduros: Syrah, Zinfandel.
Para quem quer evitar confrontos com o chocolate, a
Casa Valduga, entre outras, oferece uma linha exclusiva de vinhos kosher, tanto os parados como os espumantes.

17.3.10

Mamãe eu (não) quero

Acho que não estamos honrando Darwin e nossos genes não estão evoluindo lá essas coisas. Vejamos:
1. O vinho da caveira. Em 1805, o Tenente Gabriel Moraga foi enviado pelo governador da Califórnia para explora o Grande Vale Central e tirar de lá os nativos e dar nomes a tudo o que encontrasse. Um dia, Gabriel e seus cavaleiros chegaram a um rio, cujas margens estavam coalhadas de crânios. Ninguém conseguiu explicar como aquelas ossadas apareceram por lá. Talvez o que restou de alguma batalha ou de uma peste. Alguma coisa, muito tempo atrás tinha dado errado. Só que, honrando sua missão, Gabriel deu um nome ao rio recém descoberto. E conseguiu ser o mestre do óbvio: “El Rio de Las Calaveras” – “O Rio das Caveiras”.
Corta para os tempos atuais. Não é que um vinicultor, Jeff Stai, dono da Twisted Oak Winery, que funciona ali pertinho do rio, em Vallecito (na Califórnia, claro), resolveu dar a algumas de suas marcas o nome de caveira. Temos o “Calaveras County Viognier”, o “Calaveras County Grenache” etc. No rótulo, um fundo preto com a figura de uma caveira em vermelho.
No mínimo de mau gosto. Mas dizem o que o vinho é até razoável. Não o beberia sozinha.
2. Perfume de vinho. Já pensou em usar perfumes inspirados em cepas? Digamos, aparecer num jantar com aromas de Sauvignon Blanc, Chardonnay, Riesling, Merlot?
Eu jamais me interessaria por essa novidade. Num jantar, por exemplo, quando certamente eu teria um vinho à minha frente, como poderia analisar ou desfrutar de seus aromas, com o nariz deformado por um dos tais perfumes de vinho. Ou por qualquer outro perfume.
O fabricante, Salud, confessa que conseguiu essas suas fragrâncias estudando várias cepas e tirando delas “suas notas individuais, como grama fresca, frutas vermelhas e taninos”. Como? Qual o aroma do tanino? No meu quintal, grama fresca tem um cheiro. Será que é igual em todo lugar?
Reconhece também que “o verdadeiro conhecedor de vinho nunca usaria perfume numa degustação em razão da interferência do bouquet da varietal”. E tenta remendar o soneto: “Acreditamos que (essa interferência) é que faz de nossos perfumes de vinho tão intrigantes, pois nossos blends vão na verdade destacar os atributos de ambos”. Inacreditável.
O pior, porém, é você, cheirando a vinho e dirigindo um carro. De repente, os guardas mandam que pare e, pronto: vai direta para o bafômetro. Ninguém vai acreditar que esteja transpirando um Merlot – ou qualquer das outras possibilidades.
Veja como funciona toda essa idiotice no site do fabricante: Salud Spa Bar.
3. Queijo de peito. A impressão que dá é de que o dono da Klee Brasserie, um bistrô especializado em pratos alemães e austríacos, no bairro de Chelsea, em Manhattan, NY, resolveu meter os peitos pra valer. Não só os dele, o da mulher também.
O chef Daniel Angerer está fazendo um queijo especialíssimo a partir do leite materno. Sim, do leite com o qual sua esposa, Lori, deveria estar alimentando sua filha, Arabella, hoje com dez semanas. Talvez, Lori seja muito produtiva e o queijo é produzido com uma sobra de seu leite.
Daniel divulgou a novidade do queijo humano em seu blog e logo os clientes começaram a pedir para experimentar. O chef preparou canapés feitos com figos, pimenta húngara para que os freqüentadores do restaurante experimentassem.
Diz o chef que a resposta tem sido positiva, na média. Algumas pessoas ficam um tanto melindradas. Muitos criticam o que acham uma combinação de sexo e queijo. Porém, argumenta a esposa: “Os seios estão aqui para produzir alimento”.
“Algumas pessoas aceitam a prova explicando que não foram amamentadas quando criança. E que essa é uma grande oportunidade para saciar essa necessidade”. (Não deram o nome de seus psicólogos).
O Departamento de Saúde norte-americano não proíbe essa prática explicitamente, mas aconselhou ao chef a evitar dividir o leite de sua mulher com o mundo. “O restaurante sabe que queijo feito com leite materno não é para o consumo do público, seja vendido ou ofertado”, disse um representante do departamento.
Você já percebeu que estão roubando o doce da criança. Talvez o casal, lembrando o sucesso da Carmem Miranda, esteja dando a chupeta para o bebê não chorar.
A estupidez humana é infinita, disse Albert Einstein. Temos aqui três exemplos.

13.3.10

Mais testes

1. Você está precisando perder peso e luta desesperadamente contra a barriga que está crescendo. Deve: a) parar de beber completamente já que o álcool contém calorias; b) beber sem susto, pois as calorias do álcool não se convertem em gordura; c) consumir apenas bebidas com uma contagem baixa de carboidratos; d) beber vinho pode ajudar a perder peso.
2. Frizzante é: a) o mesmo espumante; b) é um termo italiano para vinhos semi-espumantes; c) como os portugueses radicados no Brasil, ao tempo de D. Pedro I, denominavam o Champagne bebido pela Corte.
3. Viscosidade é uma palavra que faz parte da linguagem do vinho, o “vinhês”. Significa: a) que a garrafa ficou engordurada em razão do manuseio pelos produtores e comerciantes; b) resistência que o líquido (o vinho) oferece ao movimento: ou seja, o seu atrito na boca, quando bebemos; c) é o mesmo que “corpo” (“vinho com bom corpo”, dizem os críticos).
4. Mosto é outro termo nesse vocabulário técnico. Quer dizer: a) o mesmo que suco de uva; b) o vinho que ainda não foi filtrado e ainda apresenta galhos dos cachos, sementes, cascas e polpas da uva; c) nem uma coisa, nem outra.
5. Oscar de melhor ator, após seis indicações, pelo filme “Crazy Heart”, Jeff Bridges, 60 anos, possui um vinhedo em Santa Bárbara, Califórnia. Lá ele produz e comercializa: a) um vinho comum para o dia-a-dia, ainda não batizado; b) vinagre; c) suco de uva; d) o vinho “Be Here Soon”, nome de um dos seus álbuns.
Respostas:

1. Uma pesquisa recentíssima informa que a resposta correta é a última: se bebermos moderadamente (de uma a duas taças de vinho) vamos nos sair melhor em termos de perda de peso do que mulheres que absolutamente não colocam uma gota de álcool na boca. Esse trabalho foi realizado por pesquisadores do Brigham and Women’s Hospital (afiliado à Escola de Medicina de Harvard), em Boston, EUA. Eles reuniram uma amostragem de 19.220 mulheres, com 39 anos ou mais, todas com pesos considerados normais para essa faixa. Essas mulheres responderam a questionários sobre seus hábitos quanto a bebidas alcoólicas, o que bebiam normalmente no dia-a-dia. E por 13 anos foram acompanhadas, os pesquisadores interessados em saber o que o álcool conseguiria fazer com suas cinturas.
As taxas de consumo diário de álcool variaram muito entre elas. Mais de 38% responderam que eram abstêmias, enquanto 32,8% informaram que bebiam o equivalente a um terço de uma taça de vinho por dia (menos de 5 gramas de álcool). Um grupo de pouco mais de 20% registrou que bebiam o equivalente a uma caneca de cerveja ou a uma taça de vinho. Menos de 6% disseram beber duas taças diárias e 3% bebiam mais do que duas.
A má notícia ficou com o grupo de abstêmias. Embora todas as mulheres pesquisadas tivesse ganho peso ao longo desses 13 anos, foram as abstêmias que ganharam mais peso. As que beberam moderadamente ganharam menos peso, não importando a bebida de preferência: vinho tinto, vinho branco, cerveja ou destilados.
A pesquisa informa que 41,3% dessas mulheres tornaram-se gordas ou obesas. Mas foram as abstêmias as que engordaram mais. As mulheres que bebiam de um a dois drinques diários eram as menos prováveis em ingressar na categoria das gordas.
Segundo o estudo, as mulheres verificaram que a melhor bebida para ganhar pouco peso era o vinho tinto, enquanto o branco, na opinião delas, era o que mais inofensivo quanto a não ganhar peso algum.
Os pesquisadores alertam, contudo, que o álcool não deve ser utilizado como instrumento para a perda de peso. “O papel desempenhado pelo álcool no controle ou no ganho de peso ainda está longe de ser claro”, afirmam.
Quanto aos carboidratos: no caso dos vinhos, eles são fornecidos pela quantidade de açúcar que permanece no vinho após a fermentação. A quantidade é mínima: qualquer vinho seco contêm em média de 3 a 4 gramas de carboidratos (fornecidos pelo açúcar residual) em cada taça de vinho. Nenhum vinho seco deve preocupar quem procura perder peso. Afinal, é muito menos do que as 50 ou 60 gramas recomendadas por dietas do tipo Atkins e menos ainda do que contêm uma tulipa de cerveja ou um coquetel. Quanto aos vinhos, evite os doces e os fortificados.
Em tempo: um item não pesquisado foi a dieta dessas 19 mil mulheres ao longo desses anos. Será que o grupo de abstêmias não se controlava diante de um prato de comida ou ao passar pela lojinha de doces?
2. Frizzante é o termo italiano para vinhos semi-espumantes (esses, por sua vez, são completamente espumantes). Eles devem as suas bolhas a uma segunda fermentação em tanques de fermentação (normalmente pelo processo Charmat; a fermentação é interrompida num determinado estágio).
3. Segundo minha guru, Jancis Robinson, no “
The Oxford Companion to Wine”, viscosidade é a resistência de uma solução, no caso, do vinho ao fluxo ou ao seu movimento. O mel é mais viscoso do que um xarope, por exemplo, que é consideravelmente mais viscoso do que água. Viscosidade é mais ou menos o que os enófilos chamam de corpo: pode ser percebida pelo nosso paladar na forma de uma resistência quando bochechamos o vinho em nossa boca. Um vinho doce é bem mais viscoso do que um vinho seco, por exemplo.
4. Mosto, conforme a mesma guru, é o nome utilizado pelos vinicultores para o espesso líquido, que nem é suco, nem vinho, mas uma mistura de suco de uva e os fragmentos de talos, cascas, sementes originárias da prensa e da desengaçadora no início do processo de vinificação.
5. Jeff Bridges só não teve sucesso, até agora, em fazer vinhos de suas próprias uvas. Mas isso não o desanimou de ajudar a produzir vinho, mas para fins de caridade. Ele encomendou a uma vinícola de Sonoma, a Ledson, a criação de um vinho especial para a
Fundação Harmonia para Crianças (ajuda crianças em risco ou necessitadas). Daí surgiu o Ledson Harmony Collection Meritage 200, que é vendido a 98 dólares a garrafa na vinícola. Esse é o vinho que tem o nome do seu álbum no rótulo.
Na sua vinícola mesmo, só produz vinagre e suco de uva – que o ator qualifica como “esplêndido”. Jeff diz que gosta muito de vinho, embora não seja um conhecedor.
Fala que seu irmão e irmã, Beau e Cindy são os verdadeiros experts da família.

Da Adega.
Vinhos Kosher. A Páscoa Judaica está aí: dia 29 de março as famílias judaicas estarão reunidas em suas casas para uma ceia celebrando a libertação do jugo no Egito. Nessa ocasião, tomarão quatro taças de vinho. E esse vinho só poderão ser kosher, feito segundo os preceitos dietéticos judaicos. Para isso, a
Casa Valduga está oferecendo uma coleção de vinhos feitos segundo aquelas leis, o kashrut. Experimente o Casa Valduga K Cabernet Sauvignon, o Chardonnay, o Espumante Demi Sec e o Moscatel. É a Linha K feita com a supervisão de rabinos da BDK do Brasil.

5.3.10

O Chile, a orca e o índio

Qual seria a relação entre a orca que afogou sua treinadora no SeaWorld, em Orlando, e o terremoto no Chile? E o que como esses dois fatos se relacionam com um pele-vermelha? Eu percebo um enredo aí. Para começar, acho que a natureza está reclamando da situação em que a colocamos. Sei que o terremoto do Chile pode ser classificado como um desastre natural. Porém, não vamos nos enganar: os humanos estão chutando o balde. Espoliam, desrespeitam a natureza, tornando esses desastres ainda piores.
As orcas não se conformam em viver confinadas, alimentando os bolsos de seus captores (cada uma delas vale em torno de um milhão). Em cativeiro, onde são obrigadas a trabalhar 365 dias por ano, conseguem sobreviver por uns poucos anos. Livres, nos mares, podem viver entre 30 e 60 anos. O que houve em Orlando não foi um “incidente”, como pretendem os produtores desses shows. Mas uma revolta, mais uma entre tantas já acontecidas.
Os tremores continuam no Chile. Apesar da potência do choque original, de 8,8 de magnitude, o maior em 50 anos, que chegou a alterar o eixo terrestre e fazer com que nossos dias ficassem mais curtos, a infra-estrutura do país, que já prevê esse tipo de desastre, resistiu mais. Os estragos foram bem inferiores aos do Haiti. Porém, ao terrível abalo, um dos maiores já registrados até hoje, seguiu-se um tsunami, devastando vários portos e áreas costeiras. Ontem, 5ª. feira, ocorreu um novo terremoto próximo a Antofogasta. Sem a potência do anterior, felizmente aconteceu longe do mar e de áreas habitadas.
O Chile está com estradas, portos e aeroportos inoperáveis, portanto, afetando a transmissão de energia, transporte e comunicações. Além da poderosa indústria do cobre, que terá sua produção e distribuição afetadas, outro importante segmento da economia do país está à deriva, justamente o do vinho.
A área que sofreu o maior impacto, Maule e Bio-Bio, está no coração da produção vinícola do país. Vinícolas do porte de uma Concha y Toro têm grandes propriedades por lá. Os danos foram excessivos e ainda não puderam ser contabilizados. O positivo é que em termos de vidas humanas as perdas foram praticamente zero. A Concha y Toro suspendeu suas operações na área, o mesmo fazendo o resto das vinícolas. Tanques e barris vazaram, milhares de garrafas se quebraram. E isso acontece num momento em que a indústria se preparava para começar a colheita.
Um comunicado do presidente da Vinos de Chile, René Merino Blanco, informa que a indústria em geral perdeu 125 milhões de litros de vinho, seja a granel, engarrafado, ou em tonéis, um total equivalente a US$ 240 milhões. Como a colheita de 2009 chegou aos 1.010 milhões de livros, a perda é relativamente pequena, uns 12,5% do total. Ele afirma que a colheita desse ano já foi iniciada e que seus volumes não serão afetados pelo terremoto. Fora problemas com transporte e comunicação, as vinícolas, revela o presidente, estão dando prioridade a “apoiar e satisfazer as necessidades morais e materiais de seus trabalhadores”.
Longe do Chile, temos novos tremores, agora em Taiwan (de 6,5 de magnitude). E mais: são nevascas terríveis afligindo o hemisfério norte, enchentes na França; um iceberg de 2.550 km quadrados, do tamanho de Luxemburgo, solto de sua geleira na Antártida, avançando pelo Oceano em direção a Melbourne, Austrália, ameaçando afetar as correntes oceânicas, além de perturbar a biodiversidade (a vida de milhares de pingüins está desde já ameaçada). No Ártico, as geleiras estão rachando e liberando gás metano, um gás-estufa 30 vezes mais potente que o dióxido de carbono: provocará mudanças climáticas ainda mais extremas.
Calor extremo? Fique certa de que temos aí a mão do homem. Cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, o principal órgão da ONU para estudos sobre o que está ocorrendo no clima do globo, acaba de confirmar a responsabilidade dos humanos pelos desastres que não cessam de acontecer. São danos que vão do aumento de vapores de água para a atmosfera, a partir dos oceanos, tornando as águas mais salgadas. Não há dúvidas, dizem os cientistas, de que o planeta está aquecendo e a única causa possível é a atividade humana através da emissão de dióxido de carbono. A umidade atmosférica já é maior, assim como maior a salinidade dos mares. O gelo nos Pólos está derretendo sem parar. Saiba mais aqui.
Fora isso, temos o desmatamento descontrolado, os criminosos incêndios de florestas. Vamos sempre encontrar a mão do homem nesses desastres.
Antes de Tillikum, orca que atacou e matou sua treinadora em Orlando, outras baleias se rebelaram e atacaram seus treinadores (alguns casos foram fatais). Tillikum foi capturado nas costas da Islândia. Fazia oito apresentações por dia, todos os dias. Era a atração do parque. E não tinha descanso, pois dele retiram esperma e, por isso, mantido longe das orcas fêmeas. Não há registro de incidentes com orcas, quando livres nos oceanos. Ficam violentas apenas se provocadas. A resistência de animais em zôos e aquários não tem nada de estranho. As orcas, entre outras “atrações”, têm uma longa história de ataques a seus treinadores. Animais são animais, resistem à escravidão, ao trabalho forçado. E atacam de volta. Leia a matéria do counterpunch aqui.
Para mim, todos esses acidentes, naturais e promovidos pelo homem, servem para demonstrar que o futuro de nossa e de outras espécies não está em bases lunares, onde agora descobriram água (enquanto aqui em baixo a esgotamos e poluímos).
No final do século XIX, em 1852, o governo americano quis comprar as terras o chefe Seattle, líder das tribos Suquamish e Duwamish. Os índios seriam deslocados para reservas dando lugar a imigrantes. O chefe Seattle respondeu ao presidente americano através de uma carta:
“Como é possível comprar ou vender o céu ou a terra? A idéia nos é estranha. Se não possuímos o frescor do ar e a vivacidade d água, como vocês poderão comprá-los? Cada parte desta terra é sagrada para meu povo. Cada arbusto, cada porção da praia, cada bruma na floresta escura, cada campina, cada inseto que zune. Todos são sagrados na memória e na experiência do meu povo. Conhecemos a seiva que circula nas árvores, como conhecemos o sangue que circula em nossas veias. Somos parte da terra e ela é parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs. O urso, o gamo e a grande águia são nossos irmãos. O topo das montanhas, o húmus das campinas, o calor do corpo do pônei, e o homem, pertencem todos à mesma família...”
Existem várias versões dessa carta (outros dizem que foi um discurso). Uma delas versões está aqui. A que utilizei, acima, tirei do livro O Poder do Mito, do professor Joseph Campbell.
A longa carta é um testemunho da ordem moral paleolítica e nela o chefe Seattle sugere uma ética para o planeta, um planeta sem divisões. Avistado da Lua, não distinguimos nações ou Estados, etnias e religiões. Somos todos globais, somos todos iguais, irmãos. Muito depois de Seattle, em 2009, 187 países assinaram e ratificaram o Protocolo de Kyoto. Por ele, as nações industrializadas se comprometeram a reduzir suas emissões de gases estufa. Estão mesmo? Sereá que ainda falta muito para pertencermos todos à mesma família e voltarmos a respeitar a natureza, tal como o chefe índio propôs.
Da Adega
Dia Internacional da Mulher
. Para comemorá-lo, agora, 8 de março, a Confraria Carioca, a conhecida butique de vinhos no Ri Plaza Shopping, em Botafogo, Rio, estará oferecendo vinhos nacionais brancos, rosados e espumantes com 15% de desconto. Desde que comprado efetivamente por uma mulher. A Confraria fica na Rua General Severiano, 97, loja 35, Botafogo, Rio. O telefone é (21) 2244-2286.
As melhores cartas de vinho da América do Sul. A revista
Prazeres da Mesa já abriu as inscrições para a sétima edição do prêmio Cartas de Vinho. Restaurantes, bares e hotéis de 12 países, incluindo o Brasil, concorrerão nas categorias Excelência, Grande Excelência e Cartas Especializadas. As duas primeiras consideram o compromisso de manter a oferta de vinhos acima da média, o bom condicionamento e o equipamento, profissionais especializados no serviço e a atenção à qualidade dos vinhos oferecidos. A categoria Cartas Especializadas vai distinguir as casas que primam pela seleção de rótulos brasileiros e portugueses, bem como aquelas dedicadas a vinhos argentinos e chilenos. Saiba como participar aqui.
Salve a Caipirinha. A Cachaça Leblon está lançando o movimento Salve a Caipirinha, de modo a comprovar “que o mais brasileiro dos drinques deve ser feito com uma boa cachaça”. Comprovar no caso é comparecer a uma degustação de caipirinhas, dia 8 de março, às 7 da noite, no
Mr. Lam (Rua Maria Angélica, 21, Lagoa, Rio de Janeiro). Saiba mais sobre a Leblon aqui.

27.2.10

Um teste, para começar

Agora que o ano começou, que tal testar seus conhecimentos sobre os vinhos, um quiz como se diz?
1. Que tipo de maceração é utilizado na região de Beaujolais, França? a) Plutônica; b) Carbônica; c) Teutônica; d) Mnemônica?
2. Onde fica a região vinícola da Mosela? a) França; b) Áustria; c) Alemanha; d) Espanha; e) Petrópolis.
3. Qual a mais importante uva tinta do Loire? a) Pinot Noir; b) Cabernet Franc; c) Cabernet Sauvignon; d) Gamay.
4. A uva Mencia faz vinhos de que cor? a) tintos; b) rosés; c) brancos; d) cinza (um rosé pálido).
5. O produtor Lisini opera em que país? a) França; b) Espanha; c) Itália; d) Alemanha; d) Argentina.
6. Qual o país de origem dos produtores Jacques e François Lurton? a) França; b) Argentina; c) Estados Unidos; d) Austrália.
7. Qual é a temperatura de serviço recomendada para um Champagne: a) Entre zero e 5º C; b) entre 5 e 10º C; d) entre 10 e 15º C.
8. Qual o nome da região francesa onde o famoso Muscat Beaumes de Venise é feito? a) Vale do Ródano; b) Borgonha; c) Loire; d) Cognac.
9. O que é a Touriga Francesca? a) Um produtor da Argentina; b) Uma variedade de uva utilizada no vinho do Porto; c) Um vinho fortificado francês; d) Um método de vinificação comum na região do Veneto, Itália.
10. Que região vinícola francesa também é conhecida por Midi? a) Languedoc-Roussillon; b) Bordeaux; c) Borgonha; c) Beaujolais.
Respostas:

1. A técnica da maceração carbônica é largamente empregada na região de Beaujolais, França. A maceração carbônica envolve o amolecimento de uma substância sólida por um líquido, no caso, das uvas em seus próprios sucos, fazendo com que fermentem sob uma “capa” natural de dióxido de carbono. O resultado é um vinho de muita cor e frescor, com sabor de frutas, mas com poucos taninos.
2. O Mosela é o principal tributário do lado esquerdo do rio Reno, na Alemanha (a partir de Klobenz. Ele nasce na Alsácia, França, em direção a Luxemburgo e a Alemanha, onde forma o belíssimo Vale do Mosela, famoso também pelo seu excelente vinho. Daqui saem os preciosos Rieslings, Elblings, Müller-Thurgau, Kerners e Auxerrois.
3. Cabernet Franc é a principal uva tinta do Loire. É encontrada em regiões mais frias, como a do Anjou-Saumur, cujo clima serve para acentuar sua qualidade aromática. Mas, atenção: a região também produz vinhos ótimos como os de Bonnezeaux, com a Chenin Blanc e o famoso Rosé d’Anjou.
4. A uva Mencia é utilizada pela região vinícola de Bierzo (ou El Bierzo), na Espanha, para fazer um ótimo vinho tinto. É uma região antiqüíssima, no canto noroeste de Castilla y León, perto da fronteira com a Galícia. Graças a investimentos e a inovações, El Bierzo é hoje uma das estrelas na constelação vinícola espanhola, ao lado de Rueda, Penedés, Toro e Jumilla.
5. Lisini é um dos principais produtores do famoso Brunello de Montalcino, na Itália. A propriedade está nas mãos da família Clementi-Lisini desde a Renascença. Fica ao sul de Montalcino, perto da vila de Sant’Angelo. O seu enólogo é Franc Bernabei, um guru que conseguiu colocar a propriedade em pé de igualdade aos melhores produtores do Brunello: um vinho rico, encorpado, textura soberba, maravilhosamente harmonioso.
6. Jacques e François Lurton são franceses, mas têm propriedades na Argentina, onde começaram a produzir em 1992, na região de Mendoza, aos pés dos Andes, bem acima do nível do mar. Hoje, os Lurton fazem vinhos em todo o mundo. Na Argentina, trabalham muito bem com a Chardonnay, mas sua marca mais famosa é a Santa Celina, feita com a Pinot Gris.
7. Um espumante, em particular um Champagne, deve ser servido entre 5 o 10º C. Lembre-se que muito gelado, o vinho terá seu sabor mascarado. Quanto mais fino for o vinho menos ele precisa ser refrigerado. Água e pedras de gelo num balde gelam mais eficiente e rapidamente do que apenas gelo.
8. Muscat Beaumes de Venise é um vinho doce feito no Vale do Ródano, França. Beaumes de Venise é uma vila no Vaucluse, perto de Vacqueyras e Gigondas. Foi elevada a AOC em 2005, pela qualidade de seus tintos. Contudo, é uma região mais conhecido pelo seus Muscats doces e fortificados, que têm sua própria AOC, justamente a Muscat de Beaumes de Venise, um vinho doce natural que chegou a ser mais popular que os Sauternes e os doces alemães entre 1970 e 1980. Tem um mínimo de 15% de álcool, baixa acidez e é intensamente doce. O que surpreende é a sua surpreendente delicadeza, com uma fragrância floral. É feito exclusivamente da cepa Muscat Blanc à Petits Grains. Deve ser bebido o mais jovem possível, ligeiramente gelado, seja como aperitivo ou acompanhando uma sobremesa. Faz ótimo par com sorvetes.
9. A Touriga Francesa é uma das 40 cepas permitidas na produção de vinhos do Porto. Possui uma casca muito fina e seus vinhos são menos densos em cor e em taninos do que a sua colega, a Touriga Nacional. Contribui, porém, com fruto, aromas e maciez. Outras estrelas importantes na constelação do vinho do Porto são a Touriga Nacional (grande extrato, muitos taninos, corpo e estrutura no blend), a Tinta Roriz (nome português para a espanhola Tempranillo, contribuindo com muito açúcar e baixa acidez), Tinta Barroca (delicadeza, fines se, frutos aveludados: entra com elegância e frutos maduros na mistura final) e Tinto Cão (vinhos finos, complexos: é a menos importante dessa série, pois sua produção foi grandemente reduzida).
10. Languedoc-Roussillon, também chamada de Midi, é uma das 26 regiões da França, vastíssima, localizada no sul do país, ao longo do Mediterrâneo. É um oceano de vinhos, produzindo entre 35 e 40% das uvas e perto de 300 milhões de caixas de vinho anualmente.
Agora, coloquei o Mosela em Petrópolis (na segunda questão), só para puxar a brasa para um querido bairro de Petrópolis, que lembra a presença dos imigrantes alemães na Serra. Mas vinho nessa minha Mosela só no mercado.

Da Adega
Vinho no Iphone
. Pois a Expand agora também é pioneira no mundo digital e lança o primeiro aplicativo de vinhos para Iphone no Brasil. O programa é homologado pela Apple e pode ser baixado gratuitamente no site da Apple Store, via iTunes. Entre várias funções, o aplicativo dá dicas de harmonização, traz fichas técnicas dos vinhos, informa sobre eventos, lista os rótulos do catálogo e dá os endereços das 40 lojas
Expand no Brasil, com link direto para o Google map. Mais Informações com a Sandra Schkolnick ou pelo telefone: (011) 3816-5312

18.2.10

Veisalgia, essa danada

Para não falar dela mais uma vez e ficar monótona, que tal comentar sobre a veisalgia? Um nome rebuscado que esconde um fenômeno clínico infelizmente onipresente em toda a nossa sociedade e de gravíssimas conseqüências sociais e sanitárias.
É um vocábulo cuja autoria não está muito clara. Temos a conhecida algia, dor em grego, daí a nevralgia. O veis vem do norueguês kveis, que significa algo mais ou menos como “desconforto após a devassidão”. Seus sintomas são dor de cabeça, náusea, urina e sede excessivas e mais a fadiga. Tudo isso em doses monumentais. Se você está nesse estado, abusou e não parou mais nesse carnaval, certamente encontra-se em casa (será mesmo?) não suportando sequer olhar-se no espelho.
E a cura para esse estado calamitoso? “Pobre daqueles que se levantam cedo para correr atrás das bebidas, que ficam acordados até tarde da noite inflamados pelo vinho”. O profeta Isaias (5:11) já sabia o que os excessos podem provocar. Deveria saber também que pouca coisa, ou coisa alguma, poderia ser feita.
Sabe-se que a ressaca tem várias causas. A desidratação do corpo é uma das principais. O álcool é diurético, nos faz urinar e suar, perder muita água, enfim. O café, aquele sempre recomendado “café forte” só vai complicar ainda mais as coisas, pois ele também é um diurético. A dor de cabeça é um dos sintomas da desidratação e pode ser melhorada com comprimidos para dor e água, muita água.
Algumas bebidas são piores do que outras. Em ordem decrescente de estrago, temos as bebidas escuras: conhaque, vinho tinto, rum, uísque. Em seguida, as bebidas brancas: vinho branco, gim e vodca – essas as melhores.
Embora no final tudo se resuma à quantidade de álcool, misturar nem sempre é bom. Há um velho e consistente ditado: “Cerveja antes do destilado, nunca pior. Destilado antes da cerveja, nunca tema”. A cerveja, ou qualquer outra bebida carbonatada, é absorvida muito mais rapidamente pelo corpo. Bebendo-a antes de outras bebidas alcoólicas resultará que estas sejam absorvidas mais rapidamente também.
Evite tomar um trago de qualquer bebida para ajudar na cura. Ou seja, usar o álcool como remédio. Em vez disso, prefira vitamina C, que vai aumentar a eliminação do álcool pelo corpo. O álcool causa desidratação, como vimos, por isso devemos beber muita água, como também sucos de frutas e suco de tomate.
Em boa parte das vezes, só pensamos em beber. E comer? Nunca é bom beber de estômago vazio. A comida ajuda a absorver parte do álcool e ainda a digeri-lo de modo mais rápido.
Não tente o café, pois é diurético, como dissemos. Além disso, ele não vai levá-lo à sobriedade. No máximo, você será um bêbado bem acordado.
Na verdade, os cientistas ainda não conseguiram uma cura para a ressaca. O responsável não é necessariamente o álcool (etanol) do vinho, da cerveja e de outras bebidas. Os cientistas, inclusive, dizem que muitas vezes os sintomas são mais severos quando o etanol é eliminado do nosso sistema.
Ele é eliminado pelo fígado. Ou seja: o fígado o converte num ácido tóxico, o acitaldeído, que em seguida é transformado num acetato, daí vira ácido acético para finalmente acabar como dióxido de carbono e água. 90% do álcool convertem-se assim, pelo fígado. 5% são eliminados diretamente através dos pulmões (daí o uso do bafômetro). Outros 5% são eliminados diretamente pela urina.
Os sintomas característicos da terrível veisalgia começam normalmente algumas horas após a última ingestão de álcool. E o ponto máximo acontece quando a concentração do álcool no sangue marca zero. 75% daqueles que beberam a ponto de intoxicar-se vão pegar uma senhora ressaca.
O álcool vai irritar as paredes do estômago e aumentar a produção de ácido clorídrico. Alguns nervos do estômago vão passar essa informação aos centros de vômito da medula – que, por sua vez, envia estímulos ao estômago de modo a que expulse o que o está incomodando. Lá vem a náusea.
A dor de cabeça seria um efeito do álcool ao dilatar os vasos, aumentando a pressão na cavidade cerebral. O álcool também faz aumentar os níveis de histamina e serotonina, sempre relacionados às dores de cabeça em algumas pessoas.
A fadiga é devido à hipoglicemia: o álcool reduz os níveis de açúcar em muitas pessoas. Perdemos energia, sentimo-nos mais cansadas.
Além da fadiga, o álcool brocha, sem dúvidas. O desejo sexual pode até aumentar com o consumo de álcool. Mas o desempenho, querida, fica para outra ocasião. O álcool promove efeitos sedativos no cérebro, resultando em má coordenação motora, pouca ou nenhuma secreção de hormônios sexuais e desidratação, como vimos. Ou seja: teremos uma senhora redução nas secreções. Os homens conhecem muito bem essa história. Mas nunca aprendem e vivem repetindo que “isso nunca aconteceu comigo”.
Os pesquisadores culpam também uns tais de congêneres. O metanol, álcool da madeira, é um congênere (que pertencente ao mesmo gênero) normalmente encontrado nos vinhos (e nas bebidas escuras, como o conhaque, o uísque e o rum) e quase sempre o culpado pelos desastrosos sintomas. Embora responda em grande parte pelos sabores da bebida, ele contém impurezas que, no final das contas, vão martelar nossas cabeças. O etanol, álcool de grãos, bloqueia o funcionamento do metanol: assim, de fato é o álcool do vinho que está ajudando a afastar a ressaca. Isso até que ele seja eliminado do sistema. Quando isso acontece, o metanol se apresenta e é um desastre.
Os produtores de saquê sabem disso. Eles moem o arroz até que ele se livre de suas camadas mais externas, onde se encontram suas impurezas. É por isso que, falam eles, é muito pouco provável que tenhamos ressaca com saquê. Pelas mesmas razões falam que vinho de boa qualidade não vai provocar ressaca, pois são muito bem filtrados e contêm menos impurezas.
A verdade é que os cientistas ainda não entenderam direito o mecanismo da ressaca. Sabem que se relaciona com os feitos tóxicos do álcool e com a desidratação, mas desconhecem como a coisa toda se opera.
As pesquisas nessa área demoram, talvez em função de problemas éticos. O sucesso na cura da ressaca pode induzir a bebedeiras cada vez piores, embora saibamos que a ameaça da ressaca até hoje não impediu ninguém de beber. E de beber até cair.
Assim, amiga, fique no básico: muito sono, muito descanso, bastante água, um banho quente, um energético, um suco. Sei que todo mundo tem uma receita contra a ressaca escondida na manga. Mas melhor delas é evitar a embriaguez.
Da Adega
Vinhos no Verão
. Maurício Leme, sommelier da World Wine, uma das três maiores importadoras de vinhos premium do país, dá algumas dicas sobre como tratar e consumir vinhos nesse verão de lascar:
a) Os rosés, brancos e espumantes são mais indicados, por serem servidos mais gelados e por terem no frescor e na sua acidez suas principais características;
b) Os tintos podem ser tomados, mas cuidando para que sua temperatura fique entre 16 e 18ºC. Caso não tenha uma adega climatizada, coloque a garrafa num balde com gelo durante uns 10 minutos. Experimente tintos leves, como o Bardolino, o Chianti e os Beaujolais. Ou vinhos com uvas como a Pinot Noir, a Gamay e a Dolcetto.
c) O vinho pode ser resfriado na geladeira, mas não deve ser mantido nela por muito tempo, pois pode ressecar a rolha, o ar entrar ou o líquido vazar. O melhor é mesmo é o balde com gelo: vai resfriar mais rapidamente.
d) Na praia, leve seus vinhos (de preferência os espumantes e os brancos) em isopor com gelo e um pouco de água;
e) Os rosés devem ser servidos entre 11 e 14º C; os brancos entre 10 e 13º C e os espumantes entre 6 e 10º C.
Veja a seleção de vinhos recomendada pelo sommelier no site da
World Wine.

11.2.10

Folias

O álcool. Se não fosse o álcool, a raça humana teria levado mais tempo a praticar a agricultura. Para Patrick McGovern, um respeitado arqueólogo americano, foram os prazeres das bebidas fermentadas que incentivaram o homem do Neolítico a começar a cultivar o solo. Ele acha que não foi a maçã que deixou tudo a perder. Mais provável ter sido um punhado de figos: os frutos caíram ao chão e fermentaram. Alguém os pegou e provou: assim que o álcool entrou na corrente sangüínea e chegou ao cérebro, a mensagem recebida foi: quero mais disso!
Não há muitas dúvidas de que o primeiro encontro da humanidade com o álcool aconteceu acidentalmente na forma de uma fruta fermentada. Mas não divido com o arqueólogo americano que a partir daí o homem não parou mais em sua busca por algo que o intoxicasse.
No Neolítico, a raça humana deixou de ser nômade, fixou-se em áreas propícias para o cultivo e a criação: precisava alimentar-se através de plantas, vegetais, frutos, grãos e, ainda, conseguir proteínas com carne de boi, ovelha, porco etc. O arqueólogo revela que já há 9 mil anos, muito antes da invenção da roda, os habitantes da vila de Jiahu, na China, estavam fermentando um mel com conteúdo alcoólico de 10%.
Muito bem: mas eles precisavam comer também. Precisavam dos legumes e da carne, necessitavam do couro para seus agasalhos, para suas cabanas e barcos.
Daqui a pouco, vamos ter arqueólogo demonstrando ter sido o repolho o que nos levou à agricultura. O álcool é importante, concordo, mas não mais do que a batata ou o milho no avanço para a agricultura. É folia demais para o meu gosto.
Maconha e vinho. Os californianos decidirão, por voto, em novembro próximo se legalizam ou não o consumo de maconha e como taxarão esse consumo. O grupo favorável à legalização está utilizando o sucesso da indústria vinícola no estado como argumento: ele cria empregos (em torno de 310 mil, até agora), renda (mais de 10 bilhões de dólares em salários), mais de três bilhões de dólares em impostos para o estado – e isso com o segundo menor imposto no país sobre o galão de vinho (3,7 litros): 20 centavos de dólar. Parece bom, não é? Dá para imaginar quanto o governo irá faturar com a maconha.
A comparação é perigosa. Segundo um blogueiro de vinho, Tom Wark, “a única razão aceitável para fumar maconha é “ficar na boa”. O vinho nos deixa na boa também, mas apresenta outras razões aceitáveis para bebê-lo. É gostoso, torna a comida mais apetitosa, é uma tradição na celebração de uma ocasião importante (não se imagina o vovô, acendendo um cigarro de maconha para celebrar o nascimento da neta: “minha neta vale um tapinha”, coisas assim).
Mas a verdade, reflete o blogueiro, é que gostamos do vinho por que o álcool contido nele não faz sentir bem (ou pelo menos diferente). “E esse é o fato pouco divulgado por trás do sucesso dos vinhos. E nesse aspecto, o vinho e a maconha não são muito diferentes”.
E você, amiga: acha essa comparação justa? O vinho é essa folia toda?
Será o Benedito? Os monges beneditinos da Abadia de Buckfast, na Escócia, criaram um “vinho tônico” que está dando o que falar. Ele pode ser comprado pelo nome de Buckfast Tonic Wine, mistura vinho (com 15% de álcool) e cafeína (o equivalente a oito latinhas de Coca-Cola) numa garrafa de 750 ml. Essa mistura está fazendo um grande sucesso no país. E também provocando acaloradíssimos debates, pois lá as autoridades não sabem mais como resolver o problema do alcoolismo.
A polícia local diz que Buckfast foi mencionado em 5.538 relatórios sobre crimes praticados entre 2006 e 2009 (a garrafa foi usada como arma em 114 desses atos). Já um porta-voz da empresa que distribui a bebida informa que ela não chega a 1% de todo o mercado escocês de bebidas.
Você não vai encontrar a bebida em nenhuma lista de vinhos. Buckfast está sendo criticado até pelo Bispo Episcopal da Escócia, reverendo Bob Gilles. Ele condena os beneditinos de Buckfast de estarem se afastando dos ensinamentos de seu padroeiro, São Benedito, santo muito cultuado no Brasil. O bispo reclama da duplicidade moral dos beneditinos, “associado a um produto sabidamente responsável por danos sociais e médicos. São Benedito teria ficado muito infeliz com o que seus monges estão fazendo atualmente”.
Vamos lembrar, porém, que os licores Bénedictine e Chartreuse são mais alcoólicos do que o Buckfast. O bispo episcopal deve achá-los também produtos do diabo – e isso para não falar do mais famoso monge beneditino, Dom Perignon, que deu uma formidável contribuição à criação do champanhe.
O Buckfast fatura 50 mil libras por dia, em vendas. Os monges beneditinos não estão lá para vigiar o que cada um faz com seu vinho – e com sua cerveja, seu uísque etc. Essa é uma folia para arrumar um bode expiatório para o porre ancestral dos escoceses.
A folia dos rosé. O sucesso desses vinhos é tanto (seu mercado cresceu 47% em todo o mundo, segundo relatório da Vinexpo) que criaram até um vinho do Porto Rosé. É o Croft Pink. Se não fosse pelo nome “Porto” no rótulo ele passaria por mais um vinho rosado. Veja aqui.
Beba segundo a estação do ano: brancos na primavera-verão, tintos no outono-inverno. Já o rosés, tal como os espumantes, são vinhos para todas as estações.
O grande folião. É o vinho: ele prova que algo pode ser gostoso sem gordura de qualquer tipo, acréscimo de açúcar, sódio, colesterol. Lembre-se, para cada taça de vinho, um copo de água. E em cada taça, apenas um terço da bebida. Não encha até a borda. Entenda o crítico de vinho como uma espécie de GPS, nem sempre atualizado: pode ou não pode levar você para onde pretende ir.
Numa pesquisa online, a revista Decanter pergunta se a Pinot Noir é maior variedade de uva. O usuário do site pode votar nas seguintes possibilidades:
1) Certamente: nada pode igualar à sua
qualidade;
2) É a melhor quando no seu auge, mas há um
bocado de impurezas;
3) Não, a Cabernet Sauvignon é a rainha. Onde
estaríamos sem ela;
4) É impossível escolher apenas uma
variedade.
Até esse momento, 4ª. feira, a resposta vencedora, de goleada, era a quarta, com 48% da votação. Vinho é isso mesmo: não vamos ficar com a doença do Miles (no filme Sideways), que não aceita outra uva, para ele só servia a Pinot Noir. Vinho é a possibilidade de variarmos, de estarmos sempre experimentando.
Bom carnaval, amiga. Se for comprar vinho num posto de gasolina, não beba no carro.

7.2.10

Um monte de mistérios

O dentista saiu de manhã cedinho, a esposa ainda dormia: pegou o seu carro e foi para o consultório. E não voltou mais. Só que seu carro foi encontrado de volta na garagem. O homem se evaporou e o delegado Espinoza é chamado para resolver mais esse caso.
Numa outra história, um matador de aluguel encomenda vinhos alemães pela Internet: seleciona brancos com a uva Riesling e tintos com a Spätburgunder (nome da Pinot Noir na Alemanha), tudo para acompanhar um Eisbein, joelho de porco, feito pela namorada, alemã como o Eisbein.
Já um detetive americano lamenta o “assassinato” de um bom champagne, ao qual é misturado açúcar, Angostura, casca de limão e água mineral gasosa (“o que é acrescentar horror ao homicídio”).
Sou influenciada por tudo que leio. Vivo lendo e aprendendo. Leio novelas, contos, ensaios, embalagens de cereais, jornais, revistas e até, acreditem, discursos de políticos. Não tenho dúvidas de quem escreve é influenciado pelo que lê. No nível consciente, podemos ficar entediadas com facilidade, mas subconscientemente somos como uma esponja gigantesca, perpetuamente descobrindo e armazenando fatos que, eventualmente, serão utilizados. Foi o que aconteceu recentemente ao ler dois novos livros novos e relido um terceiro e a minha esponja subconsciente não deixou escapar menções às bebidas, aos vinhos em particular.
Origamis. O caso do dentista está no mais recente livro de Luiz Alfredo Garcia-Rosa, O Céu de Origamis, 2009, Companhia das Letras. Garcia-Rosa me encanta desde a sua primeira novela policial, “Silêncio da Chuva”, onde nos apresenta o seu mais notável personagem, o Inspetor Espinosa, então lotado na delegacia da Praça Mauá, no centro do Rio. Mas, em oito romances, tornou-se o mais respeitado policial de Copacabana, onde se passa a trama dos origamis. Espinosa é um grande leitor: as paredes de seu apartamento no Bairro Peixoto, estão atulhadas de livros, ler é seu grande passatempo. Espinosa é um tanto melancólico, rígido na rotina de vida que leva. Só nos fins de semana é que admite uma namorada de anos em seu apartamento. E as bebidas? Pois elas aparecem ao sabor daquela rotina, sem maiores complicações. Espinoza gosta de beber seu vinho: quando os tem em casa, ficam na geladeira mesmo. Os compra para o dia-a-dia. Não tem pretensões: bebe vinho (assim como cerveja) de acordo com a ocasião e gosto. E é essa vidinha simples, rotineira, interrompida apenas pelos casos que é levado a elucidar, que nos encanta. Saímos do livro de Garcia-Rosa com saudades das caminhadas de Espinosa por Copacabana, das suas viagens de metrô, dos botecos que freqüenta, do árabe da Galeria Menescal, das trattorias de Copacabana, da sua cadeira preferida no apartamento, dos congelados que consome. Enfim, uma vida como a de qualquer mortal. E os vinhos são incorporados à narração com essa simplicidade: casualmente, sem deslumbramentos, ao sabor de nossos gostos, apenas para acompanhar uma conversa ou uma refeição. E não porque vão nos diferenciar dos demais seres humanos, nos colocar numa escala superior da evolução. Ou porque fazem bem à saúde.
Um especialista. No segundo livro, O Seminarista, de Rubem Fonseca, 2009, Agir, o protagonista é um matador de aluguel, conhecido como o Especialista. Tal como Espinosa, gosta dos livros, principalmente poesia, e também dos filmes e das mulheres. Zé, o nosso matador, abusa de citações, a maioria em latim, que toma o cuidado de traduzi-las. Cita Horácio, Cícero, Plínio, o Velho, Sêneca, Camões, Salomão, Propércio, São João Crisóstomo, Petrarca, Lima Barreto, Virgílio, Bruce Chatwin, Keats, Terêncio, São Jerônimo, Salustio, Petrônio. A lista é grande. O ex-seminarista, parece, é um expert em vinhos. Ao visitar uma socialite, que lhe oferece vinho (“Tenho vinho tinto, vinho branco, rosé –“), comenta que o rosé “já teve seu tempo de glória, mas agora...”
Estranho: sim, os rosés tiveram seus tempos de glória, mas voltaram há uns dois anos com muita força, estão vivendo uma verdadeira renascença, em todo o mundo. Um estudo recente da Nielsen, publicado pelo Conselho do Vinho da Provence, mostra que, mesmo debaixo de grande recessão, a importação dos rosados para os EUA cresceu 28% ano passado. Essa categoria é liderada pela França, especificamente, a Provence. As exportações de champagne rosé cresceram 32% no ano passado nos EUA. O rosé deixou de ser o primo pobre dos vinhos. Voltou à moda, aos bons tempos do Mateus Rosé. Talvez porque combine com tudo, de frutos do mar, a carnes, de pratos picantes a saladas e inclusive churrascos (principalmente, os secos). Isso sem contar com sua delicada cor, seus aromas e sabores. E, sobretudo, com seu poder de refrescar,
Num outro trecho, a namorada alemã do Especialista, comenta que os alemães, agora, “como todo mundo, tomavam mais vinho tinto do que branco...” Motivo: as teorias segundo as quais os vinhos tintos possuem potente ação antioxidante. “E ainda o resveratrol, responsável por efeitos anticancerígenos...”
Ora, quando morei na Alemanha, os brancos representavam 70% do consumo de vinhos. Hoje, segundo estatística do Instituto Alemão de Vinhos, os brancos somam 61,2% do mercado e os tintos 38,8%. Veja o quadro completo aqui.
Talvez a namorada tenha se confundido com o fenômeno conhecido como “Paradoxo Francês”, quando nos anos 90 dois cientistas descobriram a razão pela qual os franceses tinham muito menos problemas cardíacos do que os americanos e japoneses, mesmo com uma dieta riquíssima em gordura. O vinho tinto seria o responsável. A partir de então, as vendas dos tintos dispararam e eles passaram a ser os mais consumidos.
Enfim, o que vale é que Rubem Fonseca continua como um dos mestres da narrativa. A trama é imperdível e nos segura até o final. Mas se eu fosse a editora, tomaria alguns cuidados. Afinal, o protagonista é especialista mesmo em matar.
Champagne. O terceiro livro, Champagne for one, é mais uma novela de Rex Stout, o criador de Nero Wolf e Archie Goodwin, detetives particulares. O primeiro é um gênio, que não sai de sua casa em Manhattan, cercado de milhares de orquídeas, além de uma cozinha que o melhor dos restaurantes de Nova York teria condições de igualar. A casa é habitada pelo jardineiro, Theodore Horstmann, a babá das orquídeas; por um chef, Fritz Brenner; e pelo secretário de Wolf, Archie Goodwin. Já que Wolf prefere ficar em casa, com suas orquídeas, seus livros, seus pratos elaborados e matutando sobre os problemas criminais que lhe trazem, Archie representa as suas pernas. É o que sai atrás de pistas e suspeitos.
Nessa novela, Archie Goodwin tenta provar que o suicídio aparente de uma socialite foi na verdade um assassinato. Quando isso aconteceu, Archie estava numa elegante festa, na mansão de uma milionária. Cínico e respondão, ele começa por criticar o coquetel de champagne, como vimos acima. O champagne é nada mais nada menos do que o Cordon Rouge, um dos mais famosos e veneráveis espumantes do mundo.
Wolf praticamente só bebe cerveja e Archie leite. Apesar disso, sabem das coisas. Num almoço oferecido ao cliente (Wolf cobra caro e não aceita qualquer caso) que o contrata para resolver a morte na festa, o detetive revela logo o prato principal: fricassé de mexilhões, salsa, cebolinha, champignons, tudo feito no vinho xerez. E Wolf oferece vinho branco, o que é aceito. Dificilmente, a escolha do vinho seria diferente.
Vivo relendo os mistérios de Nero Wolf: ele representa uma espécie de alívio para esse mundo corrido que levamos. Não é tanto o elemento criminal que me encanta, mas em particular o estilo de vida levado pelo genial detetive. De certa maneira, é o mesmo elemento que me encanta no Espinosa. A casa, seus hábitos, sua rotina. Essas coisas que só damos valor quando estamos longe de nossa cozinha, quarto, da cadeira preferida etc.
Da Adega
Confraria exclusiva. Pois a Confraria Carioca é agora a representante exclusiva da importadora KMM, a maior importadora de vinhos australianos no Brasil, oferecendo rótulos de todas as regiões daquele país, o que compreende vinícolas premiadas internacionalmente, como a Yalumba, Giaconda, Sandalford, Jim Barry, Petaluma, St Hallett, Tatachilla, Brokenwood, Stonier, Westend e Hope Estate. Dê uma conferida na loja da Confraria em Botafogo e não deixe de refrescar-se no seu wine bar.

29.1.10

É aqui mesmo

Pelo que sei, a Coca-Cola, da sua sede às suas afiliadas, foi das primeiras empresas do segmento de bebidas a enviar auxilio ao Haiti, tanto em dinheiro como em água potável e sucos que fabrica, como também convidando os consumidores a doar recursos à Cruz Vermelha. Numa campanha interna, seus funcionários estão sendo motivados a ajudar os haitianos. (Veja mais no site da empresa.)
Nos Estados Unidos e em vários países da Europa, vinícolas estão também enviando ajuda, através principalmente de leilões de vinho (o dinheiro arrecadado é enviado para alguma agência especializada ou ONGs.
E os outros segmentos? Nos Estados Unidos e em vários países do Hemisfério Norte registrei a movimentação de várias vinícolas em direção à solidariedade para com o que está acontecendo com o Haiti. Vinícolas, colecionadores e até simples consumidores estão enviando rótulos que consideram valiosos para leilões, cujos resultados serão enviados para o país caribenho. Não apenas as vinícolas, como também restauradores, a imprensa especializada em vinhos estão em campanha.
Soube agora que um bar de Goiânia, o Moon Beer House, está promovendo um show musical ao preço de 2 quilos de alimentos não perecíveis, que serão enviados ao Haiti. É o SOS Haiti, que acontecerá hoje, quinta-feira.
Tenho certeza empresas de todos os setores estão fazendo como a Coca-Cola. Mas sua ação não está sendo visível, ou tão visível quanto à da Coca. Talvez eu não tenha ainda percebido. Enfim, todos os segmentos devem ajudar de alguma maneira e não apenas do de bebidas. Mas foi essa a que, no setor privado, a primeiro a se mostrar visível. E visibilidade nesse caso é importante pela motivação, pelo exemplo, fazendo de uma marolinha uma grande onde, um tsunami de solidariedade. O que faz um time, uma companhia, uma sociedade funcionar é o compromisso individual ao esforço de um grupo.
Não deixe de ajudar, leitora. Você aí entusiasta de vinhos, junte outros fãs da bebida, promova um, dois, vários leilões. Cada participante oferece uma garrafa e o leilão acontece. O dinheiro arrecadado pode ser enviado para qualquer um dos endereços abaixo.
Nunca a frase “Um por todos, todos por um” foi tão oportuna. Alexandre Dumas e seus mosqueteiros sabiam que se não formassem um time solidário jamais poderiam vencer o terrível Cardeal. E agora temos que nos unir para tentar fazer com que um povo, o mais pobre do Ocidente, que já sofreu das piores calamidades, políticas e naturais, fique de cabeça em pé.
Celebridades como a supermodelo Gisele Bündchen, Madonna, Sandra Bullock, o casal Angelina Jolie e Brad Pitt já enviaram quantias não menores do que um milhão de dólares. George Clooney produziu e apresentou um programa, “Hope for Haiti Now”, exibido em 33 emissoras de TV americanas, e conseguiu arrecadar US$ 57 milhões. Li que usuários das redes sociais no Brasil estão enviando ajuda também.
O estado brasileiro, que há seis anos faz um trabalho elogiável de manter a paz no país, como líder da força da ONU lá instalada, agora se suplantou, descansado seus fuzis e levando água e comida para a população desesperada, além de enviar um treinadíssimo contingente de bombeiros
Agora, é a nossa vez. Aliás, acho que é um dever de cada um de nós: solidariedade para com os fracos, doentes, aqueles em desespero, expressa pelo desejo de dar um sentido nobre e humanitário para uma comunidade.
Se virarmos às costas para esse indescritível desastre e para esse povo mais do que sofrido, podemos ter certeza que o Haiti é aqui mesmo.
Você pode enviar ajuda, entre outras entidades, para:
Embaixada do Haiti no Brasil
Banco: Banco do Brasil
Agência: 1606-3
Conta Corrente: 91000-7
CNPJ: 04170237/0001-71
Care Internacional Brasil
Banco: ABN Amro Real
Agência: 0373
Conta corrente: 5756365-0
CNPJ: 04180646/0001-59
Comitê Internacional da Cruz Vermelha
Banco: HSBC
Agência: 1276
Conta Corrente: 14526-84
CNPJ: 04359688/0001-51
ONG Viva Rio
Banco: Banco do Brasil
Agência: 1769-8
Conta Corrente: 5113-6
CNPJ: 00343941/0001-28
Ou para Médicos Sem Fronteiras.

21.1.10

Espantando o calor

Canícula, vejo no dicionário, se refere a Sirius, a estrela mais brilhante da constelação do Cão Maior. Seu nome latino é justamente “canicula”, pequeno cachorro. Vem do latim e simpaticamente significa “cadelinha”, é a principal estrela da constelação do Cão Maior, ou Sirius. Quando ela aparece, é sinal que o sol está mais próximo da terra. É o fim: calor escaldante, tórrido. Está fazendo 40º, mas a sensação é de 50º.
Diante disso, minhas preferências vão para os sucos. É a melhor alternativa para o álcool. Calor à parte, ficamos entupidas de álcool com as comemorações de fim de ano. Diante de nós, temos o carnaval, com mais tentações alcoólicas. Nada melhor do que dar um tempo e buscar alternativas aos destilados, à cerveja e ao próprio vinho. Eu faço isso com sucos e mais sucos, de fruta e de vegetais. Eis aqui algumas receitas que, além de serem deliciosas, possuem outras e importantes qualidades.
1. Antioxidante: cenoura, beterraba e pepino.
Dá um belo suco, com um vermelho profundo: li que a beterraba ajuda a reduzir a pressão do sangue e é rica em betanina (um poderoso corante natural e também antioxidante).
Pegue uma beterraba, duas cenouras e meio pepino. Lave-os bem, pique-os e leve-os para o liquidificador. Ou para o processador. As eventuais partes sólidas podem ser peneiradas. E pronto.
2. Bom para a pele: maçã, limão e água mineral com gás.
Duas maçãs e uma rodela de limão (mas do meio da fruta; as extremidades têm muita casca).
Faça um suco com as duas maçãs, acrescente a rodela de limão sem a casca. Junte tudo numa jarra e, no final, acrescente a água mineral gasosa. Bom para a pele porque as maçãs são ótimas para ela e para a nossa digestão.
3. Bom para resfriados: cenoura, laranja gengibre.
A cenoura e a laranja são ótimas para o nosso sistema imunológico. O gengibre é utilizado medicinalmente há muito tempo: ele nos alivia de resfriados, de gargantas inflamadas. E, nesse suco, atenua a doçura da cenoura. É um suco com uma ótima cor rubra e rico em antocianinas, responsáveis por grande variedade de cores nas frutas e vegetais e também por protegê-los. São poderosos antioxidantes.
Use duas cenouras, um rizoma (o caule) do gengibre (de tamanho médio) e uma laranja. Faça sucos separados de tudo isso. Mexa bem antes de beber.
4. Bom para ressaca: laranja, gengibre, banana e mel.
O popular Blood Mary (sem a vodca), com seu molho inglês e Tabasco me acaloram. O suco de tomate de faz inchar. Ele é melhor no inverno. No verão, prefiro uma laranja com sua vitamina C, uma banana com a vitamina B, mais o potássio (que perdemos pelo efeito diurético do álcool e serve como redutor de pressão), o gengibre para acalmar o estômago e a frutose do mel para colocar um pouco de açúcar no sangue, ajudando a equilibrar a pressão. Se, além disso tudo, adicionarmos um ovo (clara e gema), vamos estar fornecendo cisteína, um poderoso aminoácido que nos ajudará a limpar nosso sistema de toxinas. Mas use o ovo só em desespero de causa.
São duas laranjas, uma banana, uma raiz de gengibre (tamanho de um dedo polegar), uma colher das de chá de mel.
Esprema as laranjas e coloque seu suco num liquidificador com a banana e com o gengibre (devidamente ralado) e o mel. Bata até que fiquem cremosos. Utilize água filtrada se quiser o suco menos denso.
5. Bom para desintoxicar: brócolis, espinafre e abacaxi.
O espinafre é um reputado purificador, os brócolis é o nosso conhecido super vegetal: é rico em vitaminas C, K e A, além de fartíssimo em fibras. Contém também nutrientes com propriedades anticancerígenas, como o diindolylmethane e o selênio (que estou agora consumindo bastante: um antioxidante ótimo para alguns problemas da vista). O abacaxi entra aqui para adoçar, atenuar os sabores potentes do espinafre e dos brócolis, além de auxiliar na digestão.
Uma fatia de abacaxi (de uns 5 centímetros) cortada em pedaços, um molho de brócolis (pode utilizar o vegetal inteiro (tudo nele é comestível), um molho de espinafre. Faça um suco de tudo isso (ou esprema, leve ao liquidificador ou processador). Junte água se achar muito espesso.
E para acompanhar? Pipoca: espantei-me quando soube que a pipoca é um rico antioxidante, assim como as frutas e os vegetais. Um químico americano, Dr. Joe Vinson, descobriu que a pipoca (ou o milho da pipoca) oferece polifenóis em altos níveis. Os polifenóis pertencem a um grupo de elementos químicos encontrados em frutas, vegetais e outras plantas, como azeitonas, folhas de chá e nas uvas. São antioxidantes, em constante trabalho de remover de nosso sistema os tais radicais livres, que podem danificar células sadias e tecidos em nosso corpo.
Acontece que o efeito desses polifenóis é dez vezes maior do que as vitaminas C e E.
O Dr. Joe Vinson é professor do Departamento de Química da Universidade de Scranton, Pennsylvania. EUA. Ele explica que pesquisas recentes demonstraram que esses polifenóis, em grãos como os do milho da pipoca, possuem antioxidantes em quantidades comparáveis às das frutas e dos vegetais. Ele ensina que, entre os petiscos salgados, é nossa popular pipoca quem possui a maior quantidade de antioxidantes por grama. Seu trabalho foi apresentado na reunião anual da Sociedade Americana de Química.
Portanto, se quiser acompanhar esses sucos com um petisco também saudável, não se esqueça da velha pipoca. E, pronto, você já está razoavelmente abastecida, com sabor e qualidade, para espantar esse calor de cão, nome que tem origem na mesma constelação do Cão Maior, na estrela Sirius, a “cadelinha” que está agora promovendo toda essa canícula.

12.1.10

A viagem do professor Nutt

Um cientista inglês está criando um substituto para o álcool. Quando pronto, evitará a embriaguês e a vizinha ressaca. Esse álcool-sem-álcool poderá, segundo consta, reproduzir até aquela agradável leseira, a sensação de relaxamento que anuncia a embriaguês. E tem mais: se a pessoa ficar muito aparvalhada, bastará tomar uma determinada pílula para que fique ligada novamente, sóbria como nunca.
Trata-se de um álcool sintético desenvolvido a partir de elementos químicos parentes próximos do Valium, o famoso tranqüilizante cujo princípio ativo é o diazepam. A matéria que eu li e inspirou essa coluna (veja aqui) diz que esse novo formato de Valium agirá sobre nossos nervos de modo a garantir a sensação de bem-estar e relaxamento.
Paciente leitora, acredite: com essa notícia eu me revelo uma profetisa, uma adivinha. Em outubro de 2006, publiquei aqui uma matéria sobre um vinho sintético que era consumido pelo Capitão Picard, comandante da nave estelar Enterprise, na celebrada série Jornada das Estrelas. Naquele mundo ficcional, Picard nascera e fora criado no vinhedo de sua família, na França. Pertencia a uma família de vinicultores, que lamentava pelo famoso filho renegar o produto legítimo e preferir o vinho sintético, interestelar, feito com uma substância chamada de “synthehol”, cujos efeitos intoxicantes eram todos ilusórios e não químicos. Na época, eu falava de transgênicos, de clonagens, tendo como referência um futuro de ficção científica.
Agora, tentam fazer com que a ficção vire realidade - graças ao engenho do Professor David Nutt (e a por um time do Colégio Imperial de Londres), tido como um dos maiores conhecedores de drogas da Inglaterra, conselheiro governamental para matérias envolvendo desde maconha à ecstasy. Pois Nutt está criando um novo “synthehol”, mas os tais efeitos intoxicantes não são nada ilusórios e totalmente químicos.
“Synthehol” é um neologismo, fusão de duas palavras: “sintetizado” e “álcool”. Teria as mesmas características do álcool, mas sem os efeitos prejudiciais da intoxicação, vício etc.
O professor Nutt imagina um mundo no qual as pessoas possam beber sem ficar bêbadas. “Não importa quanto copos tomem, essas pessoas continuariam num agradável estado inebriante e, ao fim de uma noitada, os festeiros poderão tomar uma pílula de “sobriedade” e dirigir em segurança para casa”.
O objetivo final, claro, é substituir o conteúdo de álcool em cervejas, vinho e destilados pelo novo etanol (ou o nome que venha a ter a droga).
Por outro lado. A matéria não diz como é que essa substituição será feita. Imagino que não vão fazer um suco de uva e adicionar um xarope de Valium. Ora, suco de uva tem sabor de uva. O vinho é rico em sabores e aromas. Vai ver vão desconstruir vinhos, cervejas e destilados, usar uma dos muitos processos para a retirada do álcool e em seguida utilizar uma poção de diazepam. O que equivale dizer que vão ter que tirar a espinha dorsal das bebidas alcoólicas, vão acabar com o espírito delas, que é o álcool. Não é à-toa que “spirits” (literalmente espíritos) também designam bebidas alcoólicas em inglês.
O álcool, nome comum do etanol, é o mais potente componente dos vinhos, cervejas e destilados. Sem sabor e cor, tem efeitos importantes, não apenas em nosso sistema nervoso. Sabores e aromas nos vinhos, pelo menos, dependem do álcool. É ele que vai equilibrar elementos vigorosos como os taninos e os ácidos. O álcool é fundamental na longevidade do vinho, realça qualidades e permite que a bebida nos forneça camadas e mais camadas de sabores e aromas.
Durante o processo de fermentação o álcool entra em contato com alguns dos ácidos da uva e produz ésteres que resultam nos aromas e sabores do vinho. Do abacaxi ao cassis, esses ésteres são um subproduto do álcool.
Como solvente orgânico, o álcool ajuda a extrair cor e os chamados fenóis das cascas das uvas durante a fermentação. Também retira sabor do carvalho dos barris. (Esses fenóis são componentes químicos que englobam muitos pigmentos de cor, os conhecidos taninos e numerosos itens de sabor). E além de tudo isso, o álcool dá estabilidade à bebida, em particular a microbiana, o que resulta não sua proverbial longevidade. Tudo isso e mais alguns e importantes benefícios à saúde. Uma bebida sem álcool é como um trapezista solto no ar, sem rede ou sem as mãos de seu parceiro.
O vinho sempre serviu de escada para muita beberagem. Uma delas é a própria Coca-Cola. Em meados do século 19, os chamados “vinhos tônicos” começaram a ganhar popularidade. Eram basicamente uma mistura de vinho “fortificado” com álcool etílico e folhas de coca, a planta sul-americana da qual deriva a cocaína. Um xarope que promovia um “arranco”, um “quique” nos consumidores. Eram vendidas como estimulantes. Na época, o Vin Mariani chegou a ser a marca mais famosa, elogiada até pelo papa e pela rainha Vitória. Mas foi a versão americana que sobreviveu: criada em Atlanta, Geórgia, pelo americano John Pemberton, com o nome de “French Wine Coca”, misturava folhas de coca, noz de cola e damiana, além do etanol. Em 1885, leis locais forçaram Pemberton a criar uma versão não alcoólica e menos Comando Vermelho. De lá pra cá, o vinho de Pemberton, vendido como remédio em farmácias, transformou-se no refrigerante mais consumido do mundo.
Mas o vinho do professor Nutt não tem nada de refresco. E tem tudo para ficar com essa imagem de medicamento, cheio de elementos químicos, sedativos, cujos efeitos sobre nós ainda não foram estudados.
Ah, se não contém álcool só pode ser bom. Em seu lugar, entra um sossega-leão que todo mundo conhece. Até a vovó pode tomar para dormir melhor. Vão dizer que os benefícios do vinho para a saúde (aqueles que o etanol ajudou a promover) continuam na bebida, só que dentro da garrafa eles não vão saber onde se encontrar. Poderemos num jantar tomar algumas garrafas. Basta não nos esquecermos da tal “pílula da sobriedade”.
Será um crime chamarmos essa nova bebida de vinho, caso o “invento” do Dr. Nutt venha à luz algum dia. Afinal, qual a diferença entre ficar bêbada com álcool ou com Valium? O acidente com o carro será diferente? Quem esquecer a tal pílula da sobriedade em casa será punido? Haverá um bafômetro especial para os novos bebuns, para quem se enxaropou com Valium? É intrigante que uma solução para os excessos do álcool já nasça com uma "pílula da sobriedade". Será que essa gente acha que ao bebermos duas taças do vinho (o produto natural), não podemos ficar em paz, serenas, relaxadas? Ou vamos logo mostrar a bunda na janela do carro?
Quer saber, NUT em inglês pode ser noz, mas também insano. O Nutt do professor inglês, com dois tês, talvez indique que ele seja duplamente lelé.
Responsabilizam o álcool por um problema social. O problema que o professor inglês quer resolver é o do excesso de álcool. E ele pretende resolver isso com um excesso de diazepam. Existem leis para os abusos de qualquer ordem, excessos comportamentais, no trânsito etc. Façam com essas leis sejam cumpridas e punam os infratores. Pelo que se lê, o programa Lei Seca vem dando certo, mas o índice de acidentes continua altíssimo em nossas estradas. A culpa é do álcool ou do buraco? Ou da estrada construída sob encostas que sempre desmoronaram? Ou de quem não tampou o buraco? Ou de quem construiu a estrada? Qual a solução para o excesso de desmazelo nas coisas públicas? Algum xarope criado em laboratório?
O importante é não deixar que deformem bebidas que estão entre nós desde os primórdios da humanidade. Vinhos, cervejas e destilados nunca se apresentaram como remédios. Uma ou outra vez foram utilizados como tal, porém, sem que jamais tenham sido descaracterizados.
Acho que o professor Nutt está viajando, não na Enterprise, mas na maionese. Em vez de jaleco deveria estar usando uma camisa de força.
Da Adega
Viña Ventisquero mais sustentável. A vinícola chilena, a única no país a possuir os certificados de qualidade e meio ambiente, além de pagar voluntariamente pela emissão de CO2, acaba de firmar um segundo Acordo de Produção Limpa com a Corporação Chilena de Vinho e várias entidades do governo. O objetivo é não só cumprir todas as normas ambientais vigentes e adicionar elementos a projetos que ainda não são lei.
Os vinhos Ventisqueiro, que chegam ao Brasil através da Cantu Importadora, com rótulos famosos como o Pangea, o Grey e o Queulat.
A maré do verão. Ela é refrescante, deliciosa. E rosada. Em todo o mundo, os vinhos rosés estão em alta. Se existe um setor que nada sofreu, pelo contrário, só fez vender mais, foi o dos vinhos rosés, em particular aqueles da Provença – ou da sua terra natal, pois é de lá que vêm os melhores espécimes de rosados. Até drinques com o rosé ganharam o mundo. O Piscine, por exemplo, que só freqüentava Saint Tropez, agora é servido nos bares mais sofisticados dos quatro cantos do mundo. O Piscine, como o nome diz, é rosé provençal servido numa grande taça de vinho com 7-8 pedras de gelo.
No Brasil, os vinhos da Provence podem ser encontrados em mais de 20 importadoras. Confira abaixo alguns dos rótulos:
- Cep d'or (Rosé 2007) - Celebrity Importadora, R$70
- Château Deffends (rosé 2008) - Le Tire Bouchon, R$68
- Château de Pourcieux (rosé 2008) – Cantu, R$65
- Coste Brulade (rosé 2008) - Casa Nunes Martins, R$41 (Rio), R$51 (SP)
- Domaine de Fontlade (rosé 2008) – Cave Jado, R$53
- Domaine de Pontfract (rosé 2008) - KB-vinrose, R$58
- Domaine Sorin (rosé 2008) – Decanter, R$62
- Provence One (rosé 2008) - Le Tire Bouchon, R$68
- Rimauresq (rosé 2008) - Enoteca Fasano, R$136
- Saint Roch (rosé 2008) - Le Tire-Bouchon, R$49
- Saint Sidoine (rosé 2007) – Mercovino, R$65
Saiba mais, inclusive os endereços dessas importadoras, no site
Vins de Provence. E aproveite essa maré.
Vinhos Pontuados. A propósito da Cantu: a adega da importadora já conta com vinhos cotadíssimos da chilena Ventisquero (veja acima), como o Pangea (eleito como o melhor Syrah do Chile) e mais quatro rótulos da portuguesa Quinta do Valado (Douro Reserva 2007, Touriga Nacional Douro 2007, Douro 2007 e Sousão Douro 2007), além do Ben Marco Expressivo 2007, da argentina Dominio del Plata. Saiba mais no site da
Cantu.

7.1.10

As etiquetas

Pego uma carona no que resta do clima de festas para comentar sobre a chamada etiqueta do vinho. Uma amiga reclama que trouxe uma garrafa para o dono da festa e ele nem a abriu. Outra emenda que ia trazer um vinho, mas não sabia qual a preferência do anfitrião e desistiu. A ordem das taças na mesa está correta para umas e erradíssima para outras. E as taças, são apropriadas para os vinhos que serão servidos? Como sou aquela que “entende” de vinhos, viro um imã. Aproveito o espaço para desmagnetizar:
Sabemos que essas regras, essas formas cerimoniais mudam com o tempo e variam de lugar para lugar. Em São Paulo, vale só um beijo na face. Já no Rio e em Paris, dois são indispensáveis. A Polônia exagera: são três. No século 19, na França, uma carta comercial terminaria mais ou menos assim: “Je vous prie de bien vouloir agréer, Monsieur, l’expression de mes sentiments distingués” (mais ou menos, “Rogamos que bondosamente aceite, senhor, a certeza de minha mais alta consideração”). Hoje, encerraríamos com um simples (mas ainda cerimonioso), “Respeitosamente”. Nessa era da internet bastam reduções como “Bjos”, “Bye”. A idade da “Vossa Excelência” caducou e hoje vivemos tempos mais igualitários, com a afabilidade desbancando a formalidade: até um presidente é tratado, dentro e fora do seu palácio, por um simples apelido. E quando começamos a conquistar postos de trabalhos antes reservados aos homens o tratamento mudou de vez. Recusamos ser chamadas de Sra. ou Srta. Silveira ou Dona Gomide. Não, deixamos de ser o sobrenome do pai ou do marido.
Nos tempos da rainha Vitória, era problemático oferecer presentes. Se você levasse flores, o anfitrião entenderia que você achava seu jardim um lixo!
O mesmo acontecia se você chegasse com uma garrafa de vinho, o que implicaria que a adega do dono da festa estava vazia ou que o mais reles pé-sujo tinha rótulos melhores. Ofensa grave. Agora, não. O indispensável é que não cheguemos de mãos vazias.
Se conseguir apurar direitinho e levar um vinho sabidamente apreciado pelo anfitrião, muito bem. Porém, não se espante se a garrafa for posta de lado e você nunca mais ouvir falar dela. Ora, o vinho foi um presente, o dono da festa é quem decide o que fazer com ele, não tem obrigação de bebê-lo imediatamente. Se quiser que ele abra, informe que trouxe uma garrafa especial que gostaria de saboreá-la com os demais convidados. Em eventos como jantares, é mais comum que os vinhos presenteados entrem na fila para serem degustados.
Muitos anfitriões, embora não obrigados pela etiqueta a fazê-lo, abrem as garrafas temendo desagradar um convidado tão benévolo. Ou simplesmente podem se desculpar: já escolheram os vinhos a serem servidos, a comida a ser servida não combinará tão bem com o que foram presenteados; preferem guardá-lo para uma próxima ocasião.
Às vezes, um item como o da religião pode implicar em problemas de etiqueta. Uma amiga não judia foi convidada para a ceia da Pessach, da Páscoa, a mais importante festa judaica, que celebra a libertação dos judeus da escravidão no Egito. Estava em dúvida se deveria levar um vinho. Ora, o rito religioso nessa festa implica em que os presentes bebam quatro taças de vinho. Logo, uma garrafa a mais não seria má idéia, disse. Observei, contudo, que o vinho deveria ser “kosher”, ou seja, “apropriado”, “próprio” para ser consumido segundo as leis dietéticas judaicas, o “kashrut”. Do momento em que as uvas são prensadas até o engarrafamento, essas mesmas leis proíbem que o vinho seja tocado e, em certos casos, até mesmo visto, por um não judeu ou por algum judeu não religioso. Para garantir essas leis, as vinícolas kosher empregam apenas “haredim” (ou “haredi”), judeus ultra-ortodoxos, observantes rigorosos do Torah.
Recomendei que comprasse um vinho kosher, marcado como “mevushal” no rótulo: ele pode ser manuseado por qualquer pessoa e ainda assim permanece kosher, pois foram pasteurizados como parte de um ritual para proteger sua integridade religiosa. Não é muito fácil encontrar esses vinhos por aqui, mas acho que a minha amiga se saiu bem. Ela comprou um vinho espanhol (se não me engano, o Flor de Primavera) e disse que ninguém reclamou.
Quanto às ordens das taças: é item importante apenas num jantar formal. Comece pela taça de água, que deverá ficar à direita, bem diante de sua faca. As taças de vinho partem daí, da esquerda (da taça de água) para a direita, seguindo a ordem dos talheres. Então, temos: a taça de água, as taças de vinho branco e a taça de vinho tinto. Mas atenção: essa é a ordem que eu mais vejo praticada. Pode ser que você encontre tudo às avessas: as taças fiquem alinhadas na frente do prato, da direita para a esquerda. Fico prestando atenção no que os outros convidados fazem e os imito. Sem dramas.
Quanto às taças: as de champanhe: você sabe que agora não usamos mais as vitorianas, aquelas bojudas (modeladas, segundo a lenda, nos seios de Maria Antonieta). Foram abolidas por oxigenarem demais o espumante: a efervescência logo se perdia. Agora de rigueur são as flutes, com as hastes longas e os corpos bem delgados, elegantes, justo para que as bolhas não se percam logo. As de vinho branco são menores que as do tinto, para melhor concentrar seus aromas. A do tinto justamente para ajudar a liberá-los. Em todas, do espumante, do tinto e do branco, a boca é mais estreita que o corpo para concentrar os aromas.
Em tempos passados, ficaríamos perdidas em repetir um prato ou uma simples xícara de chá. Será que a etiqueta permitiria aplacar minha fome, minha sede? O que fazer? Qual a regra nesses casos?
Etiqueta é uma palavra de origem francesa, originária de estiquette, rótulo, logo adotada para definir os costumes ou regras de comportamento tidas como corretas ou aceitáveis na vida em sociedade. É uma convenção muitas vezes não escrita de um código ou prática seguida até por grupos profissionais, como o dos médicos ou de jogadores de futebol.
Ela muda, tal como as modas. Veja, na década passada os carros prateados eram absolutos. Os pretos eram reservados apenas para os carros oficiais. Agora, eles começam a ganhar terreno e estão virando moda, novamente. O mesmo com as bicicletas, um transporte popular apenas entre os chineses, agora tido como grande solução para o caos do transporte urbano. Li que, além dos alemães e holandeses, os italianos (os milaneses, em particular) estão desistindo de seus carros e começando a pedalar. Já pensou, italiano deixando o carro na garagem? Falam que os restaurantes, mesmo os mais finos, estão abandonando aqueles menus de dezenas de páginas, por cardápios mais simplificados, com prato do dia e mais umas poucas opções. Faz sentido, os bolsos também ficaram mais magros.
Pode estar certa de que existirão regras – ou etiquetas – para que possamos fazer das bicicletas nosso principal veículo de transporte (a natureza agradeceria). Pode ser até que as taças de vinho desapareçam e sejam substituídas por simples canecos. Quem sabe? Em tempos mais remotos era assim que se bebia vinho. E todo mundo gostava. O que não deve ser mudado é a nossa disposição de tocar pra frente, em paz, com alegria, fazendo amigos. Vamos participar das festas descontraidamente. Caso machuquemos a etiqueta e fiquemos numa saia justa, entre Oops!! e etas!!, basta um pedido de desculpas e seguir adiante. 2010 mal começou. E, pronto, desmagnetizei.

31.12.09

O que aconteceu?

Daqui a pouquinho vamos estourar champagne e festejar não só um novo ano como também o início do fim de uma década muito tumultuada. Ela deixou o planeta globalizado, com a internet derrubando barreiras, transpirando tecnologia e modernidade, livre da Guerra Fria, mas ainda sujeito a perigos tenebrosos, como os do terrorismo, dos horrores como os de 11 de setembro, das guerras ainda insolúveis, no Afeganistão e Iraque, e até mesmo de novas ameaças nucleares. Um mundo em que o Brasil, a Índia e a China foram os grandes destaques, como emergências econômicas, embora sem ainda conseguir distribuir melhor o bolo de suas riquezas, com números cabulosos de miseráveis. Um mundo ainda não empenhado em combater o aquecimento do planeta – e que tentará em 2010 recuperar-se da pior crise financeira desde a “Grande Depressão” dos anos 30. Um quadro, até agora, mais para cinza do que para rosa, não é?
E quanto às bebidas, em particular, os vinhos: o que aconteceu de mais notável desde 2000?
O mundo ficou menor. O vinho está agora em todos os cantos do planeta. A China já é grande importadora e crescente produtora. Temos vinhos da Croácia, Turquia, Índia e até do centro-oeste brasileiro (os do nordeste nem precisamos falar). Ainda pensamos que o vinho, que está conosco há milhares de anos, continua preso a tradições, resistente aos ventos de mudança, comuns em outras indústrias ou setores. Nada disso: a indústria do vinho hoje está imersa nos mistérios do marketing, nas estratégias promocionais. Cada um tentando vender o seu peixe.
Os vinhos “verdes”. De repente, começamos a fazer contato com vinhos orgânicos, biodinâmicos, naturais, sustentáveis. Eles estão ganhando cada vez mais espaço, embora sua produção ainda seja modesta. São dos mais bem-vindos acontecimentos da década.
Embalagens. Ainda na trilha de uma preocupação “verde”, em reduzir-se emissões de dióxido de carbono, temos o aparecimento de garrafas de vidro mais leves e das práticas embalagens em tetra pak.
Os Wine Bars. Bares especializados em vinho estão agora em toda a parte. Podem ainda ser poucos por aqui, mas estão ajudando a promover a bebida e tornar seu consumo mais casual, mais natural.
Os rosé. Para o crítico inglês Jonathan Ray, esse período será lembrado pela aceitação dos vinhos rosados. Eles sempre existiram, mas eram coisa do Velho Mundo, em particular das regiões mais quentes da França (Provence, Languedoc-Roussillon). Mas agora saíram do armário e ninguém mais tem vergonha em bebê-los. Enfim, são um sucesso de vendas. Mas por aqui ainda estão na fase do arranco, embora tenham tudo para pegar: além das ofertas de cores e sabores, são, sobretudo, refrescantes, perfeitos para nosso clima.
Novo Mundo. Ainda o crítico inglês: ele destaca o que não se pode esconder: a consagração dos vinhos chilenos, argentinos e os da África do Sul. Vinhos acessíveis, de qualidade. No Chile, o cartão de visita é a Carmenère, embora recentemente a Pinot Noir esteja demonstrando grande potencial. Na Argentina, os destaques são a tinta Malbec e a branca Torrontés. Na África do Sul, onde o destaque recai na Chenin Blanc, o crítico destaque o grande avanço na sua produção e comercialização. Hoje o país é o nono maior produtor de vinhos do mundo (tem 12% do mercado inglês de vinho).
Novas Variedades. E, de repente, uvas até então ignoradas tornaram-se populares: como a italiana Pinot Grigio, a francesa Viognier, a austríaca Grüner-Veltliner, a espanhola Albariño. Por aqui, algumas vinícolas estão nos ensinando a apreciar cepas como a Ancellotta, a Marselan, a Teroldego, ora como solistas, ora como coadjuvantes em surpreendentes blends. Podemos apostar que desde já vamos sair do tradicional círculo formado pela Cabernet, Pinot Noir, Merlot, Chardonnay.
Tampas de rosca metálica. Em 2001, na Nova Zelândia e na Austrália os produtores de vinho começaram a substituir as tampas de cortiça pelas de rosca metálica. O principal motivo alegado era o de eliminar o problema de TCA (2,4,6-Trichloroanisole), um fungo que infectava as rolhas de cortiça, deixando os vinhos com odor de mofado, imprestáveis, um problema que ainda causa grandes prejuízos à indústria (e ao consumidor). O imperador do vinho, o crítico norte-americano Robert Parker chegou a profetizar que até 2015 poucas garrafas ainda utilizariam a cortiça. Acho que as tampas metálicas, perfeitas para vinhos do dia-a-dia, de vida breve, vieram para ficar. Elas são mais práticas e mais baratas que as de cortiça. Porém, a Amorim, o maior fabricante de rolhas de cortiça do mundo, já está garantindo rolhas de cortiça livres do TCA. Não há razão para essas duas opções conviverem pacificamente.
Os franceses. O crítico inglês garante que, apesar de tudo (lembram da “guerra do vinho” iniciada pelo Bush no deflagrar da guerra do Iraque?), ainda estão fazendo o melhor vinho do mundo.
Robert Parker. Jonathan Ray o coloca como um dos “perdedores” da década. Parker foi o criador do sistema de 100 pontos, que todos os críticos adotaram. Mas ele continua supremo como degustador. Uma parte da crítica mundial de vinhos parece que “torce” pela queda desse ídolo. Prefiro torcer pelo aparecimento de um novo grande crítico. Vamos aprender mais ainda.
Vinhos alcoólicos. Alcoólicos, frutados e com muita madeira. Parece que ficaram na moda em razão do próprio Parker, que os prefere dessa maneira – vinhos com até 16, 17% de volume alcoólico. Mas nos últimos tempos, registrou-se uma sensata volta aos 12, 13%.
A crise financeira. Na nossa área, essa crise pode ser resumida assim: que consumia vinho continuou consumindo – só que optando por rótulos mais baratos. A venda por volume até aumentou, apenas o total em dinheiro ficou um tanto reduzido. Para os vinhos, penso eu, a crise está sendo uma marolinha.
Pesquisas. Não passa semana e a imprensa divulga pesquisas sobre vinho e saúde. Isso vem acontecendo desde o início dos anos 90, quando o programa 60 Minutes, da CBS News, fez uma matéria sobre o “Paradoxo Francês”, explicando porque os franceses, adeptos de queijos, manteigas e pratos ricos em gordura, tinham muito poucos problemas cardíacos, em comparação com os americanos. Resposta: porque eram bebedores de vinhos, em particular dos tintos. Essa reportagem fez maravilhas pela indústria do vinho em todo o mundo. E as matérias revelando novas potencialidades dos vinhos para a saúde continuam fazendo o mesmo.
Só que isso vem confundindo os consumidores. Em primeiro lugar, acho que as pesquisas destacam mais a face positiva. O vinho só faz o bem? É um elixir milagroso? A história verdadeira não é bem essa. Por exemplo, ora lemos que o vinho apresenta baixo risco para a degeneração da retina (o que pode levar à cegueira); ora lemos em outra matéria que pesquisas demonstraram que bebedores contumazes têm seis vezes mais possibilidades de desenvolver a pior forma de degeneração macular. Acreditamos em que matéria? (Voltaremos ao assunto.)
Em milênios de história, o vinho vem conquistando cada vez mais público e chegando a lugares os mais improváveis não porque seja um remédio. Se precisarmos de um remédio devemos consultar um médico, não é? Não, amiga, vinho é um prazer.
E é com ele, amigas, que a Soninha aqui espera que festejem o novo ano. Com ele, tenho certeza, vocês continuarão tendo grandes prazeres. Muito obrigada pelas atenções e um felicíssimo 2010.