19.2.05

Balearam a Kalashnikov

O general Mikahil Kalashnikov, como sabemos, inventou a AK-47, hoje célebre rifle de assalto. O militar, com 84 anos, criou o rifle depois de ser ferido a bala por soldados alemães na Segunda Guerra.
Mas o general não parou no rifle e criou também, muito recentemente, a vodka Kalashnikov, de modo a continuar “o bom nome” de sua arma. Quis que sua bebida fosse melhor que qualquer vodka feita na Rússia e também na Inglaterra (através de uma parceria local), primeiro grande mercado externo onde o produto foi lançado em setembro de 2004.
Talvez queira ser mais lembrado pelo gulp, gulp, gulp, do que pelo ratata-ratata-ratata. Faz sentido.
Porém, o Portman Group, instituição reguladora mantida pela indústria de bebidas na Inglaterra, forçou a uma mudança no nome da Kalashnikov, alegando que ele está vinculado a violência e a comportamento agressivo. Não diga!
A Kalashnikov Joint Stock Vodka Co., que produz a vodka na Inglaterra, protestou, dizendo que o nome era “divertido”, longe de causar ofensa. Porém, concordou em retirá-lo dos rótulos, apenas no mercado inglês. Porta-voz da empresa disse que aceitou a sanção porque era forçado a trabalhar com o Portman Group. Acha, porém, que dificilmente a vodka seja chamada por outro nome.
O Portman Group é uma espécie de Conar na Inglaterra, talvez com mais poderes no setor onde atua. Tem o objetivo de promover o consumo responsável de bebidas alcoólicas, prevenir o uso indevido do álcool, encorajar a comercialização responsável ... enfim, aquelas ações que grupos industriais procuram tomar antes que os governos tomem as suas, normalmente mais severas e que doem onde interessa: no bolso (dos industriais e comerciantes, é claro).
A Kalashnikov levou bala, sem dúvida. Fico pensando se não existe um grupo regulador na Inglaterra para príncipes que usam a suástica como diversão. O que fariam com ele? E se os americanos lançassem uma vodka com o nome de M-16? Nome de invasor pode, nome de invadido não pode? Será que é esse o critério? O nome do general ficará, pelo menos na Inglaterra, ligado apenas a um instrumento letal. Acho que a vodka só traria algumas dores de cabeça, mas nada mortal. Deixaria na lembrança apenas a noite anterior.
Sonia Melier agora no soniamelier@terra.com.br

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