1.2.05

A madeira e o vinho

A leitora Joana pergunta se a madeira é uma contribuição qualitativa para os vinhos ou apenas um item obsoleto de armazenamento.
Vamos por partes, como gostava o Dr. Jekyll.
A madeira foi utilizada no vinho primeiramente para armazená-lo e transportá-lo. Os antigos construíam barris para guardar uma lista enorme de itens: grãos, água, sal etc. Isso, desde 900 AC. Hoje são utilizados quase que exclusivamente na produção de vinhos finos.
O formato preferido sempre foi esse do nosso barril, parecendo um charuto gordo, justamente porque é mais fácil de fazer rolar, de levar de um canto para outro sem muito esforço. E, quando armazenado horizontalmente, facilita o depósito de sedimentos numa área específica (numa das “barrigas” do barril). E isso é particularmente importante no caso dos vinhos.
Historicamente, parece que foram os celtas que desenvolveram os barris de madeira para a guarda e transporte de bens em larga escala. Os romanos só foram conhecer esse tipo de recipiente quando Júlio César tomou a Gália, lá em 508 AC. E esses mesmos romanos só começaram a utilizar os barris de madeira quando ocuparam o norte da Europa.
Séculos mais tarde, o barril (de carvalho) aparece como parte do desenvolvimento de técnicas de produção de vinho. É utilizado na fermentação do mosto ou suco da uva em pequenos barris, em vez de se utilizar grandes tanques. Essa técnica é utilizada principalmente com os vinhos brancos.
Os barris de carvalho servem também para a operação de armazenar vinho, de modo a criar as condições ideais do desenvolvimento de seus componentes e, empresar o sabor da madeira (carvalho) ao vinho. Essa é uma prática comum para os vinhos parados de grande qualidade e de qualquer cor (vinho parado é qualquer vinho que não tenha bolhas, como os champanhes).
Uma importante vantagem adicional da maturação em barril é que encoraja a clarificação e estabilização do vinho da maneira mais natural possível. ‘
Os barris de carvalho para vinho variam de tamanho e formato. A duração deles pode chegar até 100 anos. Um único barril leva até dois dias para ser construído – e não é barato (pode custar até 600 dólares, cada um).
Quanto ao carvalho. É uma madeira dura, impermeável aos líquidos, que tem uma vantagem sobre as demais pela sua afinidade com os vinhos, emprestando qualidades e sabores que até hoje vem sendo apreciadas pelos consumidores. Além disso, o carvalho é fácil de operar, fisicamente falando.
Existem centenas de espécies de carvalho, que podem ser separadas em duas categorias: o carvalho vermelho e o branco. O vermelho é poroso e, portanto, não confiável para a guarda de líquidos, como o vinho.
Para o nosso vinho, temos três tipos de carvalho branco que são os preferidos. Um americano e dois europeus, todos pertencentes ao gênero botânico dos Quercus. A maior reserva do carvalho se encontra hoje nos Estados Unidos, seguidos da França.
Apenas os vinhos muito jovens, simples, é que não passam por carvalho. São fermentados e guardados em tanques de alumínio. Se o produtor quiser dar um “toque” de carvalho, ele coloca lascas da madeira no tanque para que o vinho ganhe alguma coisa do sabor dessa madeira (de baunilha, manteiga – por aí). Em alguns países essa prática é proibida.
Nos últimos tempos, o consumidor (o norte-americano principalmente) vem preferindo vinhos brancos que não tenham sido fermentados ou maturados em barris de carvalho. É uma questão de moda. Até porque os produtores nos entopem de qualquer coisa em carvalho (como se um tapetinho mais bonitinho fosse melhorar a minha velha e desqualificada Brasília). Aí, o saco do consumidor fica cheio e ele busca uma opção.
Então, sim: a madeira, o carvalho em particular, é uma contribuição qualitativa e em nada obsoleta.
A madeira, como vimos, serve mais para fermentação e maturação de alguns tipos de vinho. Após o período em madeira, os vinhos passam em geral para as garrafas.
Consultei o "The Oxford Companio to Wine", segunda edição, editado por Jancis Robinson, para formular essa resposta.
Atenção: O novo e-mail da Soninha aqui é soniamelier@terra.com.br

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